Entre os indígenas
parecis do Mato Grosso
conta-se a lenda da origem da mandioca.
Zatiamare
e sua mulher, Kôkôtêrô,
tiveram um casal de filhos: um menino, Zôkôôiê
e uma menina, Atiôlô. O pai amava o filho e desprezava a filha.
Se ela o chamava, ele só respondia por meio de assobios; nunca lhe
dirigia a palavra. Desgostosa, Atiôlô pediu a sua mãe
que a enterrasse viva, visto como assim seria útil aos seus. Depois
de longa resistência ao estranho desejo, Kôkôtêrô
acabou cedendo aos rogos da filha e a enterrou no meio do cerrado.
Porém
ali não pôde resistir por causa do calor, e rogou que a levassem
para o campo, onde também não se sentiu bem. Mais uma vez
suplicou a Kôkôtêrô que a mudasse para outra cova,
esta última aberta na mata, aí sentiu-se à vontade.
Pediu, então, à sua mãe que se retirasse, recomendando-lhe
que não volvesse os olhos quando ela gritasse. Depois de muito tempo
gritou. Kôkôtêrô voltou-se rapidamente. Viu, no
lugar em enterrara a filha, um arbusto mui alto, que logo se tornou
rasteiro
assim que se aproximou. Tratou da sepultura. Limpou o solo. A plantinha
foi-se mostrando cada vez mais viçosa. Mais tarde, Kôkôtêrô
arrancou do solo a raiz da planta: era a mandioca.
(Clemente Brandenburger,
Lendas dos Nossos Índios, 34-35).
Numa
lenda dos bacairis, o veado salvou o peixe
bagadu (Practocephalus) e este presenteou-o com mudas da mandioca que
possuía
no fundo do rio. O veado plantou e comia sozinho com a família.
Keri, o herói dos bacairis, conseguiu tomar a mandioca e dividiu-a
entre as mulheres indígenas.
(Karl
von den Steinem, Entre os Aborígenes
do Brasil Central, 487-488).
A
cultura da mandioca fixou o indígena
nas áreas geográficas de sua produção e possibilitou
a colonização do Brasil pela adaptação do estrangeiro
a essa alimentação.
As
lendas mostram a etiologia sagrada, nascida
de corpo humano em sacrifício consciente.
Ver Mani, Região
Norte. |