Uma lenda pareci da origem do milho: Um grande
chefe pareci, dos primeiros tempos da tribo, Ainotarê, sentindo que
a morte se aproximava, chamou seu filho Kaleitôe e ordenou-lhe que
o enterrasse no meio da roça assim que terminasse os seus dias.
Avisou, porém, que, três dias depois da inundação,
brotaria de sua cova uma planta que, algum tempo depois, rebentaria em
sementes. Disse-lhe que não a comesse: guardasse-a para a replanta,
e ganharia a tribo um recurso precioso. Assim se fez; e apareceu o
milho
entre eles.
(Clemente
Brandenburger, Lendas dos Nossos Índios,
33, Rio de Janeiro, 1931).
A lenda guarani da origem do milho (Zea mays)
também envolve o sacrifício humano: Dois
guerreiros procuravam inutilmente caça
e pesca e desanimavam de encontrar alimento para a família, quando
apareceu um enviado de Nhandeiara (o grande espírito) dizendo ser
uma luta entre os indígenas a solução única.
O vencido seria sepultado ali mesmo, e de sua sepultura nasceria uma
planta,
que alimentaria a todos, dando de comer e beber. Lutaram os dois, e
sucumbiu
Avati. De sua cova nasceu o milho, avati, abati, no idioma tupi.
(P.e Carlos
Teschauer, Avifauna e Flora, etc., 162-163, Porto
Alegre, 1925).
Do México até Paraná,
o milho está articulado com os antigos cultos pré-coloniais,
figurando nos relevos, signo divino, personalizado por Mama Sara, e
sendo
mesmo uma constelação (sara-manca - folha de milho).
Depois da mandioca, o complexo etnográfico
do milho é o mais vasto e com projeção folclórica
pela culinária tradicional (pamonha, canjica, mungunzá, pipocas,
espiga de milho assado, farinha de milho, etc.). |