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O Casaca de Ferro

Casaca de Ferro A lenda Casaca de Ferro, que a tradição veio conservando e que dificilmente resistiria um punhado de anos, foi a única que, de seu passado aventuroso, Ouro Fino conservou. Velho distrito de mineração, descoberto e explorado ainda no segundo quartel do século XVIII, a história de seus primeiros dias se nos apresenta órfã de lendas e tradições que tanto enfeitam o passado, sempre empolgante, das antigas cidades mineiras, notadamente Mariana, Ouro Preto,
Diamantina e São João Del-Rei. E porque a estória do Casaca de Ferro resistiu à lima dos anos, mesmo não apresentando grande interesse, merece ser narrada.
Contavam antigos moradores da Fazenda Santa Isabel, hoje a bela propriedade dos Irmãos Serra, que o seu primeiro dono teria sido um tipo conhecido pela alcunha de Casaca de Ferro.
O apelido, que não deixa de ter o seu lado interessante, nos trás à lembrança o Máscara de Ferro da história francesa. Deste, todavia, sabemos a origem do nome com que entrou para a história ou lenda, mas do nosso personagem nada se conseguiu apurar, capaz de esclarecer o porque da sua alcunha. Possivelmente originou-se do fato do Casaca de Ferro usar algum traje característico, quiça uma cota de malha, com que procuravam resguardar-se da sanha de seus inimigos.
Rico senhor de escravo, dedicava-se à lavoura e à mineração de ouro e desta são testemunho os vastos socavões que recortam, em todos os sentidos, não só as terras  da fazenda, como boa parte do Bairro Santa Isabel.
Levava a vida dos potentados rurais da época, para quem era um dever proporcional de vez em vez a alegria de uma festa aos seus solitários latifúndios. Sendo solteiro, a pretexto de batizados de seus escravos, organizava animadas festanças, tão do agrado da gent daqueles tempos, a elas recorrendo pesoas destacadas nas circunvizinhanças, entre as quais escolhia os padrinhos.
A mineração que, não sendo abundante mas apenas compensadora, não escapava aos azares do transporte do precioso minério por estradas invias e desertas, simples trilhos, e quase sempre infestados de perigosos salteadores.
Tal situação de insegurança obrigava a organização de escoltas bem armadas, capazes de garantir o transporte às Casas de Fundição, toda a vez que conseguia acumular certa quantidade de ouro. Essas escoltas eram muito dispendiosas, por isso o Casaca de Ferro ia guardando o seu rico metal minerado em panelas de ferro, que ocultava em esconderijo só por ele conhecido, e somente quando tinha cheia a oitava, preparava a remessa.
Naqueles dias distantes, turbulentos e cheios de perigo, as zonas de mineração eram, geralmente, coito de aventureiros de toda casta. A força e a violência substituíam a lei e o direito. Casaca de Ferro, como todo potentado, teve desavenças e granjeou inimigos.
Mas, na Fazenda Santa Isabel, tudo parecia correr na forma costumeira.
Junho estava a findar. Na fazenda apareceram dois pretos, procurando trabalho, mas desde logo foram considerados suspeitos pelo fiel capataz, de nada valendo, contudo, a sua oposição. Assim, foram admitidos pelo patrão nos serviços da sua propriedade. Não valeu a oposição do feitor, desconfiado, cujo desejo era mandá-los por fora das divisas, quanto antes.
E mais alguns dias decorreram sem novidades.
Chegou a festa de São Pedro. Ao escurecer, enquanto os camaradas e escravos se preparavam para a noitada, Casaca de Ferro ia orar à porta da Capelinha, construída à sombra de uma grande figueira, quando duas detonações quebraram o silêncio e duas cargas de chumbo feriram mortalmente o fazendeiro que, transportado para a sua residência, morria horas depois.
Dos pretos nunca mais se falou.
A superstição popular, desde então, se incumbia de propalar que quando o potentado foi morto, tinha cinco panelas de ouro escondidas no lugar que só ele conhecia, segredo que levou para a sepultura.
Como acontece aos que vivem presos ao dinheiro e são vítimas de morte violenta, a alma do Casaca de Ferro não teria desprendido da terra, ficando a rondar a propriedade que fora sua.
Desde então, e pelos anos a fora, o seu fantasma tem sido o terror das crianças e mesmo de muitos adultos moradores da fazenda.
Foi assim que se passou a contar e a repetir que nas horas mortas da noite, um vulto sinistro, encapuzado de branco, deslizava pelas estradas desertas e adjacências da fazenda. Seria a alma penada do Casaca, que não queria abandonar o tesouro enterrado?
A crendice popular afirmava que o fantasma era do morto que voltava à procura do ouro oculto, e caboclos mais destemidos, arriscando a própria vida, pois os duendes são muito perigosos, se animava a seguir o fantasma nas suas peregrinações, na esperança de desvendar o segredo do esconderijo. Tudo em pura perda. É que o fantasma desconfiava e evitava aquele lugar tão procurado...
Afinal aconteceu o inevitável. Na Fazenda Santa Isabel foi montado um bom serviço de força e luz, com que todo fantasma implica...
O Casaca de Ferro deixou de aparecer!... O mistério não foi desvendado. E mais um tesouro se perdeu...

Fonte : Pompeu Rossi: Revista Poliantéia. comemorativa do bicentenário de Ouro Fino, 1749-1949 in Antologia Ilustrada do Folclore Brasileiro: Estórias e Lendas de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro / Seleção e Introdução de Mary Apocalypse. - São Paulo: Ed. Edgraf, 1962.
Ilustração: José Lanzellotti


A Casaca de Ferro

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