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 Línguas Brasileiras
A língua oficial do Brasil é o Português. No entanto a língua “Português Brasileiro” denota nitidamente estas influências, principalmente das influências indígena e africana.
Português A língua portuguesa já havia assimilado contribuições dos idiomas falados em algum tempo na península, quando a impôs ao Brasil. Por exemplo, dos íberos recolheu: bacalhau; do fenício: Lusitânia, Espanha, barca; do grego: balada, batismo, cemitério, bíblia; dos germânicos: elmo, lança, espeto, guerra, ganso; do árabe, mais de seiscentas palavras, conforme Antenor Nascentes, dentre tantas: arroz, azeite, açucena, alface, almofada, açúcar, arrabalde, alguns adjetivos e mesmo a maleável e frequente preposição “até”. E há defensores da teoria de que o som “ão”, exclusivo hoje do falar português, procede da língua dos suevos (suábios), senhores entre Lisboa e o Minho, dos anos 405 a 585.

O Português do Brasil

A imposição da língua não foi fácil. Ela atritou com a indígena, e em certas áreas foi contrastadas pela espanhola, a francesa, a holandesa. São Paulo, por volta de 1700, a cidade servia-se mais do tupi do que do português. Das quase 350 falas ameríndias ouvidas à chegada de Cabral, mescladas à do conquistador, sertanistas, soldados, mercadores retiraram um falar rústico mas prático, ao qual jesuítas imprimiram disciplina gramatical e que recebeu o rótulo de língua geral, nheengatu ou língua brasílica. Dominou pelo grande interior, e mais longe e mais profundamente se teria projetado se a metrópole não baixasse, a 3 de maio de 1757, uma provisão de 
inspiração pombalina, proibindo nas escolas o uso daquela língua em benefício exclusivo da portuguesa.
Antonio Houaiss notou que “o português do Brasil só se fez 'unilíngue universal' pelo trânsito dos século XVIII e XIX”.
É natural que o falar português no Brasil se... abrasileirasse. Empregado como língua materna, oficial, por cerca de 145 milhões de falantes (1990) distribuídos pela amplidão continental, requereu e aceitou diferenciações. Desenvolveu, no todo, flexão e musicalidade próprias, sem que isso impedisse a Antônio Cândido verificar que, “trasladada ao sul da América, não perdeu o caráter grave, nem a têmpera máscula, nem o tom de funda melancolia que lhe imprimiu a esforçada e trágica aventura de nossos avós; e ainda adquiriu preciosos elementos de encantadora suavidade, de frouxa, dolente e maviosa ternura”. Eça de Queiroz, embora generalizando, sentiu-se impressionado a ponto de exclamar: “No Brasil fala-se português com açúcar”.

Na imensidão territorial com sua variação climática, consolidaram-se diversidades no falar. José Marques da Cruz (Português Prático – Gramática, Edições Melhoramento, 22ª edição, São Paulo, 1952) cita: “A causa é o clima. Quando quente, produz a acentuação das vogais, como: mínimo, mênino e ménino, a introdução de vogais onde não há, como: adevogado, abissolutamente, pineumático, adequerir, indiguina, etc., e a queda dos rr finais: passeá, doutô, etc. ... (...) nas zonas temperadas (...) produz a pronúncia mais rápida e até a eliminação de certas vogais, no meio dos vocábulos. (...) À medida que nos aproximamos da zona tórrida, a pronuncia vai-se tornando langorosa. No sul, a pronúncia é m'nino; em São Paulo, minino; no Brasil central, mênino; pelo norte, ménino”.

As diferenças não chegam a configurar dialeto. Porém, sempre houve os que pretenderam reconhecer e mesmo delimitar uma língua brasileira destacada da portuguesa. José de Alencar terá sido um dos animadores mais credenciados desse projeto, talvez com o insinuado incentivo de Pedro II. Mas os gramáticos brasileiros permanecem irredutíveis.

Joaquim Nabuco, ao tempo da fundação da Academia Brasileira de Letras (1897), deitou tranquilizante na efervescência dos que reclamavam a imediata proclamação da existência da língua brasileira. Afirmou: “A língua há de ficar perpetuamente pró-indiviso entre nós; literatura, essa tem de seguir lentamente a evolução diversa dos dois países”. Perpetuamente, não; aceitam-se alguns séculos, ainda, de unidade.

Ademais das singularidades, os entusiasta nativistas apontam para a incorporação, ao falar português no Brasil, de milhares de palavras, contributo ameríndio e africano e fora do entendimento de outros povos lusófonos.
Dos indígenas, a exemplo: caboclo, caipira, capiau, capixaba, tapioca, moqueca, mingau, paçoca, pamonha, pipoca, cumbuca, cuia, jacá, arapuca, biboca, maloca, peteca, tocaia, piteira, capão, tiguera, tapera, pororoca, catapora, cutuba, jururu, sarará. E milhares de outras. Além dos verbos de saborosa inspiração ameraba: cutucar, pitar, sapecar...

A contribuição de falares negros começara via Portugal com os bordejamentos e as conquistas de praias africanas pelas frotas descobridoras. Mas o fluxo de escravos, que só terminaria pelos fins do século XIX, é que ingurgitou essa doação esparsa por vários setores da vida nacional. Estas, entre centenas de palavras: corcunda, bunda, cafundó, camundongo, curinga, dengue, fubá, farofa, quiabo, quilombo, mulango, bamba, cafuné, banguela, mambembe, abará, acarajé, vatapá, xinxim, acaçá. E os verbos expressivos como: xingar, fungar, sungar.

O enriquecimento do português não se restringiu a esses dois volumosos aportes. Somou-se àqueles trazidos pelas correntes migratórias pós-libertação dos escravos negros (1889). Incorporou só para exemplificar: dos alemães: níquel, gás, zinco; dos espanhóis: bolero, castanhola, sendo que os bascos trouxeram, de sua língua: cachorro, modorra e outras palavras terminadas em “arro”, “arra”, “orro”; dos franceses: paletó, boné, matinê; dos eslavos: mazurca, estepe; dos gregos: telefone, telepatia; dos japoneses: quimono, tatame; dos italianos: gazeta, soneto, carnaval; dos turcos: divã, sultão; dos ingleses: futebol, clube, bonde. Todas palavras depressa amoldadas ao padrão nacional, muitas mal e mal deixando perceber a origem.

Assim, pois, ao findar o século XX, o português observa no Brasil requisitos sociolinguísticos de uma língua em uso, em evolução, incontrastada. É língua materna, nacional, oficial e de cultura.
Os que não a tem como língua materna apontam dificuldades no seu aprendizado e emprego.
(A Aventura das Línguas – Uma viagem através da História dos idiomas do mundo / Hans Joachim Störig – São Paulo: Cia Melhoramentos, 1993)

Texto Complementar

Que um povo, uma tribo conheça a língua de um grupo de pessoas de língua diferente, relacione-se com ele, à medida que alguns de ambas as comunidades linguísticas aprendam as línguas estrangeiras e sirvam de intérpretes; que um povo com determinados instrumentos, armas, utensílios também adote as palavras correspondentes; que um povo seja vencido, sua terra ocupada e que ele adote a língua do conquistador; que línguas se misturem: tudo isto ocorre há tempos imemoráveis.

Toda língua que conhecemos sofre influência de outras línguas.
Influências estrangeiras podem modificar também a tipologia, a gramática, sintaxe de uma língua.
As palavras estrangeiras entram em uma língua de diferentes modos. Um povo aprende com o outro uma coisa, um conceito, uma instituição, e o adota, juntamente com a denominação na língua estrangeira. A palavra adotada pode acabar por se assimilar de tal modo à nova pátria linguística (na forma, na pronúncia, na escrita) que passa a não ser mais sentida como estrangeira, sendo reconhecida como tal no máximo pelos linguistas.

Quando substituímos, por exemplo, uma palavra, que já existe em português, por uma em inglês, com o mesmo significado, pode ser identificado como “modismo” ou ignorância, ou ainda atestar um complexo de inferioridade.*

Influência estrangeira no alemão, por exemplo:

Inúmeras palavras de origem latina foram adotadas e adaptadas pelas tribos germânicas: a palavra como Schule (do latim schola), Probe (do médio latim proba), Tisch (do latim discus, “disco”, “prato”). Essas palavras alemanizadas, que tanto na pronúncia quanto na gramática seguem as regras correspondentes da língua alemã, são chamadas de empréstimos. Quando a adaptação da palavra não ocorreu (ou se deu apenas parcialmente), fala-se de estrangeirismos. Exemplos simples são: Philosophie (grego), Operation (latim), Sergeant (francês), Spaghetti (italiano), jeans (inglês).
Em outros casos é possível reproduzir perfeitamente uma palavra de uma outra língua com elementos de composição da própria língua. Assim, por exemplo, do francês
demi-monde vem o alemão Halbwelt, do latim compassio, o alemão Mitleid. Nesses casos fala-se de tradução do empréstimo.
As tribos germânicas, antes que de sua língua tivesse surgido o alemão, já haviam tomado emprestada uma grande quantidade de palavras latinas, de modo que a própria base do alemão é permeada de elementos latinos.
Os empréstimos daqueles tempos remotos se concentram em determinados âmbitos da vida.
Consideremos, alguns exemplos, a casa e o campo, a vida familiar e o trabalho. Os conceitos fundamentais da vinicultura chegaram aos germanos através dos romanos, daí a prevalência de palavras latinas, se bem que, por causa da antiguidade, o falante de hoje não possa reconhecer sua origem. Quando se levanta o
Kelch (< latim calix, genitivo calicis) para beber Wein (< latim vinum) ou Most (“sidra” < latim vinum mustum), passado pelo Kelter (“lagar” < latim calcatura) por um Winzer (“vinicultor” < latim vinitor) e engarrafado por um Trichter (“funil” < latim tractarius), dificilmente ele pode imaginar que está se deleitando – ir delektiert sich – (latim: delectare, um empréstimo mais tardio) do jeito dos romanos, e na língua deles.
Muitas denominações do ofício da construção são de origem latina, pois os germanos aprenderam a construir em pedra com os romanos. Encontramos ainda palavras de origem romana na jardinagem, na cozinha (
Küche do latim coquina), no comércio, etc.
Na época das Cruzadas e do florescimento da cavalaria, muitas palavras foram tomadas do francês. Observando-se a palavra original devemos considerar que se trata do antigo francês:
Abenteuer (< antigo francês aventure), etc. Do persa tomou-se Schach (“xadrez”); do árabe, entre outras, Zucker (“açucar”). Os exemplos continuam por toda a história da Alemanha, recebendo e influênciando outras línguas.

Dialetos: Ainda hoje, na era dos meios de comunicação de massa, a área linguística alemã parece, àquele que ouve os dialetos, um tapete colorido, uma figura multifacetada, dificilmente captável pela vista, de amplos grupos dialetais e de características linguísticas locais que diferem, por assim dizer, de vilarejo para vilarejo. Historicamente, os dialetos atuais derivam dos dialetos dos grupos populacionais germânicos da época da migração dos povos e suas respectivas expressões idiomáticas.

O alemão é a língua oficial e corrente, além da Alemanha, na Áustria, nos cantões de língua alemã da Suiça e no Liechtenstein.
Fora da Europa, os colonos alemães conservaram sua língua em partes dos EUA (Pensilvânia), na América do Sul (sobretudo no Chile e no Brasil) e na ex-África sudoeste alemã, a atual Namíbia.


Fonte : A Aventura das Línguas – Uma viagem através da História dos idiomas do mundo / Hans Joachim Störig – São Paulo: Cia Melhoramentos, 1993.
* Nota do autor.


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