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Portugal trouxe a tradição
européia sobre gravidez e parto, com suas superstições,
respeitos, orações e atos propiciatórios Os
homens guardavam a couvade (ver couvade) e decorrentemente a mulher
teria a parte íntima na conservação dos tabus de
conduta.
As negras
escravas assimilaram os usos
e costumes das mulheres brancas, levando para elas a ciência de
remédios vegetais e fortalecendo a crendice dos agouros,
amuletos, com a recordação dos hábitos
africanos, tidos dos árabes.
O
português é, ainda nesse
campo, um exportador de superstições. Basta confrontar
os estudos portugueses com as tradições brasileiras de
caráter preventivo sobre o período da gravidez e parto:
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A
mulher grávida não deve
colocar objetos sobre o seio porque o filho o trará impresso
na carne; a chave fará na criança um lábio
leporino (relativo à, ou próprio de lebre); a medalha
fará um sinal, uma pinta escura. Se a mãe olhar um
eclipse lunar, o filho nascerá com uma meia-lua no rosto ou
nalguma parte do corpo. Não deve olhar para animais mortos,
caveiras, podridões, nada que a impressione, porque refletirá
sobre o corpo do filho, fazendo-o feio, contorto, de estômago
ruim, aleijado, etc. Não deve atravessar água corrente.
Não deve ser madrinha de criança, porque ficará
sempre fraquinha. Se pisar numa cobra, esta morrerá. Se
visitar uma pessoa mordida de cobra, o doente morrerá. Se
tiver um susto, o marido deve lavar imediatamente o rosto dar a água
par a mulher beber. Não pode sofrer a insatisfação
do “desejo”, devendo comer o que apetecer, sob a pena de “perder
a barriga”, abortar. Não comer furta gêmea, inconha,
porque terá parto duplo. Quem prometer objeto a mulher grávida
e não cumprir a promessa, terá o rosto cheio de
espinhas. Se a mulher brincar com macaco, gato, cachorro, um animal
de pelo, o filho pode nascer muito cabeludo e parecido com um desses
bichos.
A grávida não deve olhar
para escamas de peixe, porque não será feliz no
resguardo, nem pisá-las porque não deitará a
placenta, etc.;
A mulher de boca grande pare depressa;
Mulher de mãos finas e pernas
grossas é de parto difícil; de quadris estreitos, o
parto é horroroso;
Para ajudar no parto: vestir a ceroula
do marido, por na cabeça o chapéu do marido, às
avessas, soprar em garrafas, são remédios para
“ajudar”.
Para facilitar o parto e apressá-lo,
dão à paciente uma beberagem chamada “cabeça
de galo”, composto de pimenta-do-reino, sal, alho e água.
Outro meio de facilitar é o de chamar uma Maria virgem para
bater nos quadris da mulher vigorosamente. Se custa a nascer a
criança, botam então um defumador por debaixo da saia
da mulher ou a põem num “cavalete” de parir, ou a penduram
pelas axilas com o auxílio de cordas.
Um meio mágico de apressar o
parto é o seguinte: o marido dá tantos nós
quanto possível na fralda da camisa, monta num cavalo de pau
(cabo de vassoura) e esquipa (andar a cavalo no passo a que chamam
esquipado) em volta da casa; antes teve o cuidado de por o chapéu
na cabeça da esposa, o que é indispensável para
o êxito. E assim continua esquipando até que ela
“descanse” (Gonçalves Fernandes, Folclore Mágico
do Nordeste, 35-36).
Outro remédio de pura simpatia,
era quando, demorando as dores sem resultado, o marido montava a
cavalo e galopava furiosamente, pelo pátio, em linha reta, sem
falar, indo e vindo.
Até fins do séc. XIX, o
sino da Matriz batia nove badaladas vagarosas, anunciando “mulher
em parto”. Rezavam para que tivesse uma “boa hora”.
Uma exigência antiga era que o
parto se desse na penumbra, com pouca luz, para o recém-nascido
não ter um gênio vivo, impulsivo, arrebatado. A mulher
devia usar meias. Muitas vezes só as usava nessa contingência
protocolar. E amarrar a cabeça com pano branco, pano de cor
era proibido. O marido não devia assistir ao parto, para não
“vexar”, apressar demasiado.
Há uma fórmula, usada no
sertão. A mulher resmunga, como salmodiando: “Minha Santa
Margarida! / Não estou prenhe nem parida / Mas de Vós
favorecida!” Vai dizendo até descansar.
A santa protetora dos partos é a
Senhora Santana, e as invocações Nossa Senhora do Bom
Parto e do Ó.
Canja de galinha arrepiada “abre as
carnes”, facilitando o parto.
Determinação e previsão
do sexo: (ver sexo)
Pós-parto
e resguardo:
Após o nascimento era de
obrigação manter-se o aposento na meia-escuridão
e em silêncio, para não quebrar o resguardo.
Forra-se a cama da parturiente, no
lugar dos quadris, com couro do raposo. Dizem diminuir as dores da
“torta”, pós-parto.
A placenta é enterrada
cuidadosamente em canto que a parturiente não saiba, senão
depois do resguardo.
Era, outrora, uso infalível a
dieta de galinha cozida, para a mulher. Um mês antes do parto
já estavam no galinheiro, compradas, dadas ou furtadas, as
“galinhas do resguardo”, que duravam 40 dias.
O cordão umbilical é
enterrado sob a soleira da casa, para que o menino seja caseiro,
amigo de sua casa.
Outras pessoas guardam o cordão
umbilical com risco de ser comido por algum animal, dando à
criança os vícios próprios de sua bestialidade,
avidez, covardia, rapinagem, desasseio, inquietação,
etc.
Para a mulher não ter mais
filhos, deve tocar com a mão direita em pedra d'ara no altar,
enterrar a placenta, depois do parto, de boca para baixo; por no
último filho o nome ou de São Geraldo (sugestão
nominal de “geral”); pegar no badalo de um sino de igreja
consagrada a São Sebastião (de Sabazius, deus dos
trácios e frígios, correspondente ao Dionísio
grego e ao Baco romano); engolir três caroços de chumbo,
rezando três padre-nossos e três ave-marias.
As meninas que nascem de bruços
serão estéreis.
Registros de Alceu Maynard Araújo na comunidade
de Piaçabuçu, na região Nordeste do Brasil, por volta de 1950:
Antigamente,
informou o Coronel Dionísio, quando a mulher custava para ter menino,
amarrava-se uma corda nos caibros da casa, passando-a por baixo dos
braços
da parturiente que ficava suspensa. Após ter nascido a criança,
a parturiente a fim de se despachar, fechando uma das mãos, assoprava
como se estivesse soprando um canudo. As parteiras ensinavam uma
rezinha
para essa hora:
“Santa
Rita não estou prenha
Nem
estou parida
Bote-me
no rol
das
suas escolhidas”.
Há
algum tempo, hoje não se faz mais, isto afirma dona Dézinha,
as mulheres davam a luz sentadas numa gamela emborcada sobre a qual se
colocava uma rodilha de pano. Hoje as “assistentes” já mandam as
parturientes se deitarem a fim de ter a criança na cama. Fazem uma
coisa que não acho certa: o cordão umbical (umbilical) é
só cortado após ter a mulher se despachado. O sexo também
não deve ser conhecido antes disso, porque não faz bem à
criança. Os médicos mandam, nascida a criança, lhe
corte o cordão. Antigamente as mulheres tinham os filhos no chão,
ficando a criança no chão sobre a esteira, às vezes batia, sem querer,
com a cabeça na criança, o que aconteceu com um dos meus. Resultou um
abccesso que foi tratado com óleo de amêndoa. Para que desaparecesse
mais depressa fizeram uma touca de meia de mulher bem justa à cabeça.
O
marido está sempre presente ao parto, auxiliando a parteira. O meu
auxiliou muito a “assistente” por ocasião de um dos meus partos
difíceis. A criança botou a cabeça, as dores e contrações
passaram completamente. A parteira mandou que o marido levantasse a
mulher
e que esta fizesse bastante força. A criança nasceu preta,
não chorava. A parteira deu-lhe uma palmada, e eu fiquei três dias com
os olhos inchados tal a força que fiz. Antes da criança
nascer quando pedi auxílio do marido gritei: “Valei-me minha Nossa
Senhora”.
Costumam,
isto até hoje, defumar a criança, passando-a sobre um
recipiente com brasas no qual se coloca alfazema (Lavandula
augustifolia) para perfumar a criança. Quando a fumaça começa a
envolver o corpo da criança, deve-se dizer seguidamente:
"Nossa
Senhora passou seu filho para cheirar, boto o meu para ser feliz"
O
umbigo é cortado tendo como medida dois dedos, amarrando-se duas
vezes com cordão unto. O cordão é encerrado, passado
no sebo de carneiro. Em seguida limpa-se bem, com um algodão
colocando-se
talco sem perfume, talco Ross como faziam também antigamente.
A tesoura que foi
usada para cortar o umbigo costumam colocar debaixo da cama. Este após
ter caído costumam enterrar na porteira do curral (para ter sorte na
fazenda com plantação ou gado), na igreja (para ser religioso) ou
lançado ao rio (para ter sorte nas cousas ligadas ao rio). O umbigo é
tratado com óleo de amêndoa. Após ter caído usa-se a canela em pó. Hoje
usa-se também Anaseptil. O paninho usado deve ser lavado anteriormente
e passado. Depois com o auxílio de uma vela, faz-se um furo no centro a
fim de colocar através dele o umbigo. O
cordão utilizado hoje é comprado na farmácia. Antes
tomava-se um cordão enrolando-o a fim de que ficasse mais forte,
mais resistente.
Cuidado
com o rato porque diz o povo, caso este roa, a criança se tornará
ladra. Assim quando uma pessoa é presa por roubo logo dizem “o rato
roeu o umbigo dele”.
As parteiras costumam colocar antes do parto uma tira, ou melhor, uma
faixa, amarrada na barriga da parturiente para a criança não subir.
Para as dores usa-se uma meia do marido dentro da qual colocam arruda,
amarrando-se ao "pé da barriga".
Nos "matos" (interior a dentro) as mulheres usam tomar chá feito com um
pedaço de pano utilizado para a mortalha do anjo. Aquele pedaço
recortado para que passe a cabeça do anjo, isto é, do pequeno morto.
Quando a mulher não se despacha, costuma-se vestir nela a camisa do
marido de traz para frente. Usa-se colocar a criança no seio da mãe
para chupá-lo e dá à mãe também uma colher de óleo para tomar. O chá de
alfavaca de cheiro tem a mesma finalidade. Quando a criança está em má
posição uma toalha felpuda que foi previamente aquecida ao fogo, é
colocada naquele bolo que se forma o qual a parteira reconhece, indício
da referida posição.
Para
“entojos” (enjôos) a água de coco é muito usada, o
mesmo acontecendo com o chá da folha de uva. Quando a mulher enjoa,
o marido deve dar a ela pra cheirar a cueca que ele já tenha usado.
Quando o marido enjoa a mulher, esta deve passar por cima das pernas
dele,
quando ele estiver deitado. Os homens sabem disso e não gostam.
Há também a crença de que a mulher que o fizer consegue
dominá-lo.
A
higiene da mulher é feita pela parteira, banho de meio corpo, nos
primeiros dias, o mesmo acontecendo com a criança. Isto até
cair o umbigo. O banho completo, até a cabeça é dado
após quinze dias.
Dieta
do parto
O
resguardo, de trinta dias, deve ser feito do seguinte modo: oito dias
de
repouso, sendo que algumas se levantam até com três dias.
A alimentação é constituída de sopa, caldo
de galinha, caldo de carne de gado engrossado com farinha peneirada
(esta
sopa é chamada “Pará”), alguns peixes, os não “carregados”
como a traíra, piau, xira (tirando-lhe o “fio”). Abóbora
e maxixe não devem fazer parte da alimentação porque
são comidas “carregadas”. Os mariscos também só depois
de 30 dias.
A higiene da mulher é feita pela parteira, banho de meio corpo, nos
primeiros dias, o mesmo acontecendo com a criança. Isto até cair o
umbigo. O banho completo, até a cabeça é dado após quinze dias.
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