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O Nascimento - O Parto

Quando uma mulher engravida, imagina que este acontecimento – a concepção, os meses de espera e o parto – é alguma coisa muito íntima, absolutamente privada. 
No entanto, esta ocorrência é também um fato social: a atitude da futura mãe durante a gestação, sua postura no parto, a assistência que recebe nesta ocasião e os cuidados dispensados ao recém-nascido refletem a sociedade em que a mulher vive.

Em algumas sociedades primitivas, mitos dramáticos costumam ser representados diante da parturiente. Homens, com trajes especiais, tocam instrumentos e entoam canções na cabana onde o bebê vai nascer.
Nas comunidades mais afastadas dos centros urbanos, são geralmente mulheres idosas que ajudam a mãe a dar à luz, valendo-se da experiência adquirida no correr dos anos.

Na ilustração (1513) ao lado, a parturiente dá à luz sentada numa cadeira obstétrica.

O Parto
Na maioria dessas comunidades, a mulher costuma colocar-se na posição agachada ou de cócoras, esta postura, realmente ajuda pois, implica no relaxamento dos músculos da parede pélvica. A medicina moderna também adotou para a fase de expulsão do feto a posição agachada, ainda que a mulher permaneça deitada na cama. Ela é instruída a fazer movimentos como se fosse sentar-se, não só para ver o filho nascendo, mas principalmente para estimular os reflexos necessários no período de expulsão.

Uma das fases mais cheias de tabus de conduta e de comportamento é durante a gravidez.

Destinados a facilitar a expulsão da criança e garantir um período de gravidez tranquilo, defendendo o feto de nascer torto, aleijado, com manchas dos objetos guardados no seio, cordões apertados, ligas etc., alimentos, ritmo de passo, esses processos são reuniões de regras de uso quase universal, juntas em cada país pela imigração ou convergência de proximidade.

Cegonha
Portugal trouxe a tradição européia sobre gravidez e parto, com suas superstições, respeitos, orações e atos propiciatórios Os homens guardavam a couvade (ver couvade) e decorrentemente a mulher teria a parte íntima na conservação dos tabus de conduta.
As negras escravas assimilaram os usos e costumes das mulheres brancas, levando para elas a ciência de remédios vegetais e fortalecendo a crendice dos agouros, amuletos, com a recordação dos hábitos africanos, tidos dos árabes.

O português é, ainda nesse campo, um exportador de superstições. Basta confrontar os estudos portugueses com as tradições brasileiras de caráter preventivo sobre o período da gravidez e parto:

A mulher grávida não deve colocar objetos sobre o seio porque o filho o trará impresso na carne; a chave fará na criança um lábio leporino (relativo à, ou próprio de lebre); a medalha fará um sinal, uma pinta escura. Se a mãe olhar um eclipse lunar, o filho nascerá com uma meia-lua no rosto ou nalguma parte do corpo. Não deve olhar para animais mortos, caveiras, podridões, nada que a impressione, porque refletirá sobre o corpo do filho, fazendo-o feio, contorto, de estômago ruim, aleijado, etc. Não deve atravessar água corrente. Não deve ser madrinha de criança, porque ficará sempre fraquinha. Se pisar numa cobra, esta morrerá. Se visitar uma pessoa mordida de cobra, o doente morrerá. Se tiver um susto, o marido deve lavar imediatamente o rosto dar a água par a mulher beber. Não pode sofrer a insatisfação do “desejo”, devendo comer o que apetecer, sob a pena de “perder a barriga”, abortar. Não comer furta gêmea, inconha, porque terá parto duplo. Quem prometer objeto a mulher grávida e não cumprir a promessa, terá o rosto cheio de espinhas. Se a mulher brincar com macaco, gato, cachorro, um animal de pelo, o filho pode nascer muito cabeludo e parecido com um desses bichos.
A grávida não deve olhar para escamas de peixe, porque não será feliz no resguardo, nem pisá-las porque não deitará a placenta, etc.;
A mulher de boca grande pare depressa;
Mulher de mãos finas e pernas grossas é de parto difícil; de quadris estreitos, o parto é horroroso;
Para ajudar no parto: vestir a ceroula do marido, por na cabeça o chapéu do marido, às avessas, soprar em garrafas, são remédios para “ajudar”.
Para facilitar o parto e apressá-lo, dão à paciente uma beberagem chamada “cabeça de galo”, composto de pimenta-do-reino, sal, alho e água. Outro meio de facilitar é o de chamar uma Maria virgem para bater nos quadris da mulher vigorosamente. Se custa a nascer a criança, botam então um defumador por debaixo da saia da mulher ou a põem num “cavalete” de parir, ou a penduram pelas axilas com o auxílio de cordas.
Um meio mágico de apressar o parto é o seguinte: o marido dá tantos nós quanto possível na fralda da camisa, monta num cavalo de pau (cabo de vassoura) e esquipa (andar a cavalo no passo a que chamam esquipado) em volta da casa; antes teve o cuidado de por o chapéu na cabeça da esposa, o que é indispensável para o êxito. E assim continua esquipando até que ela “descanse” (Gonçalves Fernandes, Folclore Mágico do Nordeste, 35-36).
Outro remédio de pura simpatia, era quando, demorando as dores sem resultado, o marido montava a cavalo e galopava furiosamente, pelo pátio, em linha reta, sem falar, indo e vindo.
Até fins do séc. XIX, o sino da Matriz batia nove badaladas vagarosas, anunciando “mulher em parto”. Rezavam para que tivesse uma “boa hora”.
Uma exigência antiga era que o parto se desse na penumbra, com pouca luz, para o recém-nascido não ter um gênio vivo, impulsivo, arrebatado. A mulher devia usar meias. Muitas vezes só as usava nessa contingência protocolar. E amarrar a cabeça com pano branco, pano de cor era proibido. O marido não devia assistir ao parto, para não “vexar”, apressar demasiado.
Há uma fórmula, usada no sertão. A mulher resmunga, como salmodiando: “Minha Santa Margarida! / Não estou prenhe nem parida / Mas de Vós favorecida!” Vai dizendo até descansar.
A santa protetora dos partos é a Senhora Santana, e as invocações Nossa Senhora do Bom Parto e do Ó.
Canja de galinha arrepiada “abre as carnes”, facilitando o parto.
Determinação e previsão do sexo: (ver sexo)

Pós-parto e resguardo:
Após o nascimento era de obrigação manter-se o aposento na meia-escuridão e em silêncio, para não quebrar o resguardo.
Forra-se a cama da parturiente, no lugar dos quadris, com couro do raposo. Dizem diminuir as dores da “torta”, pós-parto.
A placenta é enterrada cuidadosamente em canto que a parturiente não saiba, senão depois do resguardo.
Era, outrora, uso infalível a dieta de galinha cozida, para a mulher. Um mês antes do parto já estavam no galinheiro, compradas, dadas ou furtadas, as “galinhas do resguardo”, que duravam 40 dias.
O cordão umbilical é enterrado sob a soleira da casa, para que o menino seja caseiro, amigo de sua casa.
Outras pessoas guardam o cordão umbilical com risco de ser comido por algum animal, dando à criança os vícios próprios de sua bestialidade, avidez, covardia, rapinagem, desasseio, inquietação, etc.
Para a mulher não ter mais filhos, deve tocar com a mão direita em pedra d'ara no altar, enterrar a placenta, depois do parto, de boca para baixo; por no último filho o nome ou de São Geraldo (sugestão nominal de “geral”); pegar no badalo de um sino de igreja consagrada a São Sebastião (de Sabazius, deus dos trácios e frígios, correspondente ao Dionísio grego e ao Baco romano); engolir três caroços de chumbo, rezando três padre-nossos e três ave-marias.
As meninas que nascem de bruços serão estéreis.

Registros de Alceu Maynard Araújo na comunidade de Piaçabuçu, na região Nordeste do Brasil, por volta de 1950:

Antigamente, informou o Coronel Dionísio, quando a mulher custava para ter menino, amarrava-se uma corda nos caibros da casa, passando-a por baixo dos braços da parturiente que ficava suspensa. Após ter nascido a criança, a parturiente a fim de se despachar, fechando uma das mãos, assoprava como se estivesse soprando um canudo. As parteiras ensinavam uma rezinha para essa hora:

“Santa Rita não estou prenha
Nem estou parida
Bote-me no rol
das suas escolhidas”.
Há algum tempo, hoje não se faz mais, isto afirma dona Dézinha, as mulheres davam a luz sentadas numa gamela emborcada sobre a qual se colocava uma rodilha de pano. Hoje as “assistentes” já mandam as parturientes se deitarem a fim de ter a criança na cama. Fazem uma coisa que não acho certa: o cordão umbical (umbilical) é só cortado após ter a mulher se despachado. O sexo também não deve ser conhecido antes disso, porque não faz bem à criança. Os médicos mandam, nascida a criança, lhe corte o cordão. Antigamente as mulheres tinham os filhos no chão, ficando a criança no chão sobre a esteira, às vezes batia, sem querer, com a cabeça na criança, o que aconteceu com um dos meus. Resultou um abccesso que foi tratado com óleo de amêndoa. Para que desaparecesse mais depressa fizeram uma touca de meia de mulher bem justa à cabeça.
O marido está sempre presente ao parto, auxiliando a parteira. O meu auxiliou muito a “assistente” por ocasião de um dos meus partos difíceis. A criança botou a cabeça, as dores e contrações passaram completamente. A parteira mandou que o marido levantasse a mulher e que esta fizesse bastante força. A criança nasceu preta, não chorava. A parteira deu-lhe uma palmada, e eu fiquei três dias com os olhos inchados tal a força que fiz. Antes da criança nascer quando pedi auxílio do marido gritei: “Valei-me minha Nossa Senhora”.
Costumam, isto até hoje, defumar a criança, passando-a sobre um recipiente com brasas no qual se coloca alfazema (Lavandula augustifolia) para perfumar a criança. Quando a fumaça começa a envolver o corpo da criança, deve-se dizer seguidamente:

"Nossa Senhora passou seu filho para cheirar, boto o meu para ser feliz"

O umbigo é cortado tendo como medida dois dedos, amarrando-se duas vezes com cordão unto. O cordão é encerrado, passado no sebo de carneiro. Em seguida limpa-se bem, com um algodão colocando-se talco sem perfume, talco Ross como faziam também antigamente.
A tesoura que foi usada para cortar o umbigo costumam colocar debaixo da cama. Este após ter caído costumam enterrar na porteira do curral (para ter sorte na fazenda com plantação ou gado), na igreja (para ser religioso) ou lançado ao rio (para ter sorte nas cousas ligadas ao rio). O umbigo é tratado com óleo de amêndoa. Após ter caído usa-se a canela em pó. Hoje usa-se também Anaseptil. O paninho usado deve ser lavado anteriormente e passado. Depois com o auxílio de uma vela, faz-se um furo no centro a fim de colocar através dele o umbigo.
O cordão utilizado hoje é comprado na farmácia. Antes tomava-se um cordão enrolando-o a fim de que ficasse mais forte, mais resistente.
Cuidado com o rato porque diz o povo, caso este roa, a criança se tornará ladra. Assim quando uma pessoa é presa por roubo logo dizem “o rato roeu o umbigo dele”.

As parteiras costumam colocar antes do parto uma tira, ou melhor, uma faixa, amarrada na barriga da parturiente para a criança não subir.
Para as dores usa-se uma meia do marido dentro da qual colocam arruda, amarrando-se ao "pé da barriga".
Nos "matos" (interior a dentro) as mulheres usam tomar chá feito com um pedaço de pano utilizado para a mortalha do anjo. Aquele pedaço recortado para que passe a cabeça do anjo, isto é, do pequeno morto. Quando a mulher não se despacha, costuma-se vestir nela a camisa do marido de traz para frente. Usa-se colocar a criança no seio da mãe para chupá-lo e dá à mãe também uma colher de óleo para tomar. O chá de alfavaca de cheiro tem a mesma finalidade. Quando a criança está em má posição uma toalha felpuda que foi previamente aquecida ao fogo, é colocada naquele bolo que se forma o qual a parteira reconhece, indício da referida posição.

Para “entojos” (enjôos) a água de coco é muito usada, o mesmo acontecendo com o chá da folha de uva. Quando a mulher enjoa, o marido deve dar a ela pra cheirar a cueca que ele já tenha usado. Quando o marido enjoa a mulher, esta deve passar por cima das pernas dele, quando ele estiver deitado. Os homens sabem disso e não gostam. Há também a crença de que a mulher que o fizer consegue dominá-lo.
A higiene da mulher é feita pela parteira, banho de meio corpo, nos primeiros dias, o mesmo acontecendo com a criança. Isto até cair o umbigo. O banho completo, até a cabeça é dado após quinze dias.

Dieta do parto
O resguardo, de trinta dias, deve ser feito do seguinte modo: oito dias de repouso, sendo que algumas se levantam até com três dias. A alimentação é constituída de sopa, caldo de galinha, caldo de carne de gado engrossado com farinha peneirada (esta sopa é chamada “Pará”), alguns peixes, os não “carregados” como a traíra, piau, xira (tirando-lhe o “fio”). Abóbora e maxixe não devem fazer parte da alimentação porque são comidas “carregadas”. Os mariscos também só depois de 30 dias.
A higiene da mulher é feita pela parteira, banho de meio corpo, nos primeiros dias, o mesmo acontecendo com a criança. Isto até cair o umbigo. O banho completo, até a cabeça é dado após quinze dias.


Fontes : Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data
Os rituais do nascimento in Livro da Vida, Vol 1 - São Paulo: Abril S.A. Cultural e Industrial, 1974.
Casa Grande e Senzala / Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do Livro S. A., s/ data.
Diários Índios: Os Urubus-Kaapor / Darcy Ribeiro. - São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Escorço do folclore de uma comunidade  – Alceu Maynard Araújo in Revista do Arquivo Municipal CLXVI – Departamento de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo, 1962
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