Terra Brasileira
Brasil Folclórico
folclore
modus Transporte
artesanato culinária
literatura Contos lendas mitos
música danças religiosidade tipos ofícios contatos
Loja
Modus
O Nascimento
-O Couvade
-O Sexo do bebê
-O Recém-nascido
-A Escolha do nome
-O Batizado
-O Cheiro
A infancia
Jogos e Brinquedos
O Jovem
O Casamento
O Habitar
Direção do lar
O Adulto
O Idoso
A Morte
Sabedoria Popular
Crendice


A escolha do nome

Os nomes das crianças era sempre o do santo do dia em que ocorresse o nascimento. O costume é de toda terra católica do mundo e ainda se mantém em vários pontos da América e Europa.
“Nunca cambian nombre del santo o santa que correspondió a la fecha del nacimiento y que debe corresponder al niño, porque creen que, si no siguen el santoral, se desvirtúa la dicha del bebé. Si es niña, no se casará por haberse despreciado a su santa y vivirá desgraciada; si es niño, resultará un perverso”. (Gilberto Orosco, Tradiciones y Leyendas del Istmo de Tehuantepec, 75, México, 1946).
Martinho Lutero nasceu a 11 de novembro, dia de São Martinho.
Os soberanos europeus conservam religiosamente a tradição de incluir entre os vários nomes o do santo do dia. No Brasil os nossos dois imperadores cumpriram fielmente o costume secular. Dom Pedro I, nascido a 12 de outubro, era Serafim, e Dom Pedro II era Bibliano, por ter nascido a 2 de dezembro, dia da santa virgem e mártir.

Registros de Alceu Maynard Araújo na comunidade de Piaçabuçu, na região Nordeste do Brasil, por volta de 1950:

Em geral a "criança traz o nome", isto quer dizer que seu nome é dado pelo santo do dia. Se a pessoa é analfabeta o "Dotô farmacêutico" lê na "folinha" (folhinha) ou no "manaque" (almanaque). Esta era a forma usual de se escolher o nome para os recém-nascidos.
Influi grandemente na escolha dos nomes o compadrio. Já em estado de adiantada gravidez se processa a escolha dos padrinhos da criança. E o compadre, não raro, intervem, dando nome ao afilhado.
Há também ultimamente, fenômeno mais comum com as pessoas de melhor situação econômica, a "mania de dá nome de artista de cinema prá pobre criança, e é nomaleada toda atrapalhada de se falá".
Na verdade, dão nomes de artistas cinematográficos, mas a pronúncia deles... é “puramente regional”. Por exemplo: menina com nome Shirley, dizem “Cirlei”; William é “Vilião”. Outros dão nomes aos filhos de personagens dos romances de folhetim. Nomes de vultos históricos, principalmente dos helênicos, são bastante comuns. “Basta o pai ter umas fumacinhas de conhecimento para botar no filho o nome de Tucidedes, Anaximandro, Pitágoras, Péricles, etc.... pobre dos coitados dos parentes mais velhos, nunca chegam a aprender direito o nome dos pequenos, pois os velhos tem língua dura... não vê a velha Cora, jamais aprendeu a falar o nome do neto Pitágoras, para ela é sempre Epitaza, comentou o velho Mané das Dores, meu tempo sim, os nomes eram mais fáceis. Outra mania, explica Dores, é essa de formar os nomes com pedaços do nome do pai e mais o da mãe, dá cada atrapalhada: o sobrinho Jorge casado com Maria estava atrapalhado. Queria formar o nome do filho. Mas, não dava certo: Era... Major, não ficava bem, Ge... ma (não era do ovo), Geria ficava feio, geria o que? E acabou ficando Joana”.

João Gama informou que alguns nomes que não usuais no sul, aqui são comuns: Dorgival, Propércio, Pafúncio, Pancrácio, Epílogo, etc.
Quanto aos poucos evangélicos, notamos que são dados aos filhos os nomes de profetas e outros vultos bíblicos: Jonas, Daniel, etc.
Ao referirmo-nos à escolha de sobrenomes surpreenderam-nos o número imenso de “Santos”: João dos Santos, José dos Santos, Porfírio dos Santos. Parecia primeiramente que se tratava de uma grande família dos “Santos”. Mais tarde explicaram-nos que as pessoas pobres, que nem nome herdaram dos pais são chamados de “fulano dos Santos”. Dores observou-nos quando anotávamos os nomes de um informante: “o sr. não sabe o sobrenome dele, pode botar dos Santos, não vê que ele é pobre, pé rapado, na certa é Zé dos Santos”.
É impressionante o número dos nomes de José dos Santos. Conhecemos cerca de quinze. Há também muitas pessoas que usam dois nomes sem um sobrenome de família. Por exemplo: Maria da Conceição, José das Dores, Maria de Jesus, etc... A razão aqui está: “Me chamo Maria da Glória, só. Não sou filha de casal. Não quero cita o nome de meu pai. Ele é vivo, mora em Coruripe”. Caso como este de Maria da Glória há muitos, porque “filho natural de Grandola não usa o seu sobrenome, nesse caso, o do seu Moreno estava sendo usado por muita gente daqui”, afirmou Frei Adalberto.

Entre os indígenas:
Gabriel Soares (1587) fixa o costume entre os indígenas de porem nos filhos nomes de animais, peixes, árvores, etc., os nomes dos meninos eram os mesmos animais representados nas máscaras de danças sagradas. Expressão, portanto, do animismo e da magia de que achava impregnada a vida toda do primitivo.
Whiffen (1915) salienta o fato dos nomes de pessoa entre as tribos brasílicas do noroeste não se pronunciarem senão em voz baixa, religiosamente. Eram os nomes em certas tribos substituídos por uns como apelidos, parecendo pertencer a essa categoria de nomes “nada poéticos”, recolhidos por Teodoro Sampaio: Guiraguinguira (o traseiro do pássaro), Miguiguaçu (as nádegas grandes), Cururupeba (sapo miúdo), Mandiopuba (a mandioca podre), etc. Parece que o fim desses nomes era tornar a pessoa repugnante aos demônios.

Culumin

Darcy Ribeiro, na primeira expedição em 1950, entre os Urubus-Kaapor, registra:

"No primeiro período, após o nascimento, o filho é chamado por um nome provisório. Depois, numa cerimônia especial, é que ele adquire seu nome permanente. Essa cerimônia se dá quando brotam os primeiros dentes.
A iniciação dos homens é feita quando os pais notam que o rapaz começa a mudar de voz. A festa é essencialmente idêntica à feminina, que se dá por ocasião da primeira menstruação.
Na festa de nominação, a criança prova de um bolo de carne de nambu pemba, que é depois servido às moças na festa de iniciação também. A primeira marca a data em que ele começa a alimentar-se de carne, mas só pode comer aves finas, digo, caças finas, como jabuti, nambu, veado. Após a segunda, quando as proibições são suspensas, ele pode começar a comer mutum, jacamim, qualquer caça. Logo depois da iniciação, a moça pode ter relações com homens: às vezes se casa antes. Nesse caso, o marido ajuda a fazer a festa de iniciação e, só depois dela, tem relações com a jovem mulher".

Nomes de pessoas e seu sinificado:

1- Uruã-tã: nambu corcovado (duro).
2- Temikí-rãxin: temirikí, rabinho, como de anta ou porco; rãxin, ponta.
3- Taky-asík: o mesmo que Pã-néun-asík, uma espécie de cobra boi (?).
4- Piripy: raiz de uma gramínea cultivada pelos indígenas que serve para fazer colares; tem um perfume característico.
5- Koaxí-uhú: quati grande.
6- Tapiá: tatu.
7- Tatú: tatu.

8- Tun-mé ou Katumé: banana são tomé
9- Tõ-ken: peixinho que vive na areia dos igarapés e ferra os pés da gente.
10- Irapá-ray: títalo, cipó que usam para enrolar no arco.
11- Teren-sá: madeira tatajuba, que se usa para fazer canoas.
12- Tapinin: nome de um pequeno pássaro.
13- Pau-rin: farinha.
14- Aré: flor de pau-d'arco.
15- Marukú: o mesmo que Urukú.
16- Iry-karú: árvore que dá uma resina como almécega, boa para defumação.
17- Tauá-xó: almécega fofa que usam para misturar com o fumo no tauari.
18- Tákuá: taboca grande, taquara.
19- Uy-tar: saracurinha, passarinho que pula no chão com o rabo arrebitado.
20- Eremy: abelha, espécie.
21- Iusepá: lagoa.
22- Manen-ken: espécie de árvore (?)
23- Orasára: urubu.
24- Iauá-ratá: cachorro grande (ou fogo).
25- Ná-irã: peixe jeju.
26- Karauá: acará, peixe.
27- Xará: abelha, espécie.
28- Kaiá-uiry: inajá.
29- Numiã: nambu-relógio.
30- Makapin: peixe, acari.
31- Paí-apyk: árvore, maniva de veado.
32- Murary: o mesmo que Uirary, madeira que tem no rio Capim.
33- Tapií-xãby: peito de anta.
34- Nin-iú: formigão.
35- Matrin-ña: macaco cuxiú.
36- Matá-uakú: peixe, cascudo.
37- Kupá-rinby: perdição da mata.
38- Uary-rumy: beija-flor.
39- Tã-uã-ipen: arara grande.
40- Soá-puy: homenzinho.
41- Aramí-ãtã: arara dura.
42- Marí-aton: Maria (?) da noite.
43- Kaiuré-rinby: caburé.
44- Iauá-rupik: cachorro grande.
45- Matáiá-rinby: periquitinho.
46- Mapiá-rinby: céu vermelho.
47- Uarakú-rinby: peixe (?).
48- Kurú-rin: nambu corcovado.
49- Pã-nã-rinby: borboleta.
50- Terenbehú: língua grande.
51- Teren-bey: língua pequena.
52- Tãby: seio.
53- Itá-djá: pedra de amolar.
54- Ará-iunby: arara.
55- Iã-uakin: jenipapo.
56- Uirá-iurá: tucano.
57- Katirin: seringueira.
58- Iapú-rixã: japu grande.
59- Trotó: peixe.
60- Iurá-humã: gavião grande.
61- Kiréri: cigarra.
62- Iauáruhú: cachorro grande.
63- Parãnapukú: rio comprido.
64- Icorahi: rio do sol.
65- Ã-pin: besouro, broca de pau.
66- Kuaxí-ã-pui: focinho de quati.
67- Tapiír-uhú: anta grande.
68- Anakanpukú: anakã grande.
69- Mirá: pau.
70- Mirá-pihun: pau preto.



Fontes : Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data
Escorço do folclore de uma comunidade  – Alceu Maynard Araújo in Revista do Arquivo Municipal CLXVI – Departamento de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo, 1962
Casa Grande e Senzala / Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do Livro S. A., s/ data.
Diários Índios: Os Urubus-Kaapor / Darcy Ribeiro. - São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Gif animado da Animationfactory


Volta ao Topo
Deixe seu comentário: Deixe seu comentário:
Correio eletrônico Facebook
Livro de visitas Twitter