Terra Brasileira
Brasil Folclórico
folclore
modus Transporte
artesanato culinária
literatura Contos lendas mitos
música danças religiosidade tipos ofícios contatos
Loja

Modus
O Nascimento
-O Couvade
-O Sexo do bebê
-O Recém-nascido
-A Escolha do nome
-O Batizado
-O Cheiro
A infancia
Jogos e Brinquedos
O Jovem
O Casamento
O Habitar
Direção do lar
O Adulto
O Idoso
A Morte
Sabedoria Popular
Crendice


O Cheiro

A forma mais comum do carinho para a criança é o “cheiro” (Nordeste brasileiro).

Encosta-se o nariz no pescoço, na nuca e na cabeça da criança e aspira. “Enfim, é a forma muito mais higiênica do que o beijo”, afirmou dona Sinhá. “Lá no sul* dizem que beijam as crianças, aqui não, dá-se um cheiro”.
Não é apenas a forma carinhosa para com as crianças. Os adultos a praticam entre si. “Ontem à noite, quando vínhamos deitar vimos um casalzinho arrulhando. Namoro comum, igual o do sul do Brasil, porém o que chamou a atenção foi a mocinha dar “cheiro” no rosto do rapaz. Não vimos trocas de beijos, mas muito “cheiros, de lado a lado”, foi o que registramos em nosso diário de pesquisas.
*Sul, neste caso, inclui a região sudeste.

Nas cartas, algumas que lemos, a pessoa enviava um “cheiro” para as crianças. “Deixa-me dar um cheiro”, é quando querem fazer um carinho para uma criança. O pesquisador, ao se despedir de uma menina de 12 anos apenas, esta lhe disse: “quando o sr. for a São Paulo, dê um cheiro no seu filho por mim”.

No canto popular, ridicularizando o costume de "cheirar" encontramos um canto se referindo aos diversos cheiros que ele havia dado nas caboclas bonitas, verdadeiras flores do sertão, porém uma vez ele deu um "cheiro" que lhe fez mal:

"Dei um cheiro
No cungote de uma véia,
Cheirava ranço de geléia
deu vontade de gumitá..."

(Registros de Alceu Maynard Araújo na comunidade de Piaçabuçu, na região Nordeste do Brasil, por volta de 1950)
Cheiro
É comum no Nordeste o “cheiro” em vez do beijo, especialmente para crianças. É uma aspiração delicada junto à epiderme da pessoa amada. As narinas sorvem o odor que parece indizível perfume. Entre o povo o hábito é tradicional: “Dê cá um cheirinho pra mamãe”.
Naturalmente a gente grande não desaprendeu a técnica e apenas mudou a orientação: “Eu ainda dou um cheiro naquela malvada!”

O Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa, fixou: “Cheiro, (Bras. Nordeste) aspiração nasal voluptuosa”. É uma carícia de origem chinesa. “Os chineses não dão beijos..., ou dão-nos de uma maneira muito diferente da nossa, sem o uso dos lábios mas aproximando a fronte, o nariz, do objeto amado, e aspirando detidamente... O china beija o filhinho tenro, beija a face pálida da esposa, com ele, e nós beijamos as flores, aspirando-lhes o perfume; a assimilação é graciosa..., Tendo agora por conhecida, e é coisa que não se contesta, a extrema agudeza olfativa dos chineses (os negociantes cheiram as moedas de ouro que julgam falsas, e assim conhecem o grau maior ou menor da liga de cobre), podemos talvez conceber uma vaga idéia do prazer da mãe, aspirando sobre a carne fresca do filho um ambiente que ela não confunde com outro; o prazer do mandarim apaixonado, conquistando à brisa o perfume de uns cabelos negros, que ele aprendeu a adorar”; (Wenceslau de Morais, Traços do Oriente, Lisboa, 1895).

O esquimó possui igualmente essa carícia (R. E. Peary, My Artic Journal, New York, 1893).

Naturalmente o português trouxe-a da China para o Brasil.
(Luís da Câmara Cascudo, Superstições e Costumes, “O cheiro, carícia nordestina”, 65-69, Rio de Janeiro, 1958).

Para o povo, cheiro vale intuição, não cheirar bem é má impressão inicial de observação.
Cheiro de santidade: os grupos étnicos possuem olores típicos, identificadores dos estrangeiro, independente da falta de asseio e sujeira. “Conheço-o pelo cheiro!”
Pearl S. Buck, vivendo quarenta anos na China, demorou a readaptar-se à fragrância norte-americana, dizendo-a intolerável, embora imperceptível às narinas nacionais.
Asiáticos e africanos-negros têm grande sensibilidade olfativa, sentindo o adventício sem que o vejam. Um meu amigo africano, visitando o Brasil, farejava cheiro de negro em damas e senhores, oficialmente brancos. Nos recintos fechados das capitais européias, cinemas, auditórios, anfiteatros, percebemos a diversidade das emanações comparando-as às habituais do nosso ambiente nacional. (Faris Antonio S. Michaele, Breve Introdução à Antropologia Física (suas relações com a Antropologia Cultural), Curitiba, 135-136, 1961).

Nos animais o cheiro é dicisivo para a orientação e reconhecimento. John A. Hunter lembra os burros de Quênia não suportando o odor do europeu, somente atendendo aos condutores nativos ou velhos moradores locais.
Os mais solenes e milenares sacrifícios às divindades tomavam forma de gases perfumados, resultado da combustão das vítimas ofertadas, para que alcançassem o destino simbólico da homenagem: “A oferta queimada é de cheiro suave ao Senhor” (Levítico, 2,2).

Assim gregos e romanos. Na comedia Os Pássaros, de Aristófanes (414 a.C.) as aves constroem nas alturas a Nefelococcigia, Cidade das Nuves e dos Cucos, obrigando Júpiter e demais olímpicos a humilhante capitulação, por não mais receberem os aromas oblacionais.

Fontes : Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data
Escorço do folclore de uma comunidade  – Alceu Maynard Araújo in Revista do Arquivo Municipal CLXVI – Departamento de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo, 1962
Gif animado da Animationfactory


Volta ao Topo
Deixe seu comentário: Deixe seu comentário:
Correio eletrônico Facebook
Livro de visitas Twitter