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Naturalmente
a gente grande não
desaprendeu a técnica e apenas mudou a orientação:
“Eu ainda dou um cheiro naquela malvada!”
O Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa, fixou: “Cheiro, (Bras. Nordeste) aspiração nasal voluptuosa”. É uma carícia de origem chinesa. “Os chineses não dão beijos..., ou dão-nos de uma maneira muito diferente da nossa, sem o uso dos lábios mas aproximando a fronte, o nariz, do objeto amado, e aspirando detidamente... O china beija o filhinho tenro, beija a face pálida da esposa, com ele, e nós beijamos as flores, aspirando-lhes o perfume; a assimilação é graciosa..., Tendo agora por conhecida, e é coisa que não se contesta, a extrema agudeza olfativa dos chineses (os negociantes cheiram as moedas de ouro que julgam falsas, e assim conhecem o grau maior ou menor da liga de cobre), podemos talvez conceber uma vaga idéia do prazer da mãe, aspirando sobre a carne fresca do filho um ambiente que ela não confunde com outro; o prazer do mandarim apaixonado, conquistando à brisa o perfume de uns cabelos negros, que ele aprendeu a adorar”; (Wenceslau de Morais, Traços do Oriente, Lisboa, 1895). O esquimó possui igualmente essa carícia (R. E. Peary, My Artic Journal, New York, 1893). Naturalmente o português trouxe-a da China para o Brasil. (Luís da Câmara Cascudo, Superstições e Costumes, “O cheiro, carícia nordestina”, 65-69, Rio de Janeiro, 1958). Para o povo, cheiro vale intuição, não cheirar bem é má impressão inicial de observação. Cheiro de santidade: os grupos étnicos possuem olores típicos, identificadores dos estrangeiro, independente da falta de asseio e sujeira. “Conheço-o pelo cheiro!” Pearl S. Buck, vivendo quarenta anos na China, demorou a readaptar-se à fragrância norte-americana, dizendo-a intolerável, embora imperceptível às narinas nacionais. Asiáticos e africanos-negros têm grande sensibilidade olfativa, sentindo o adventício sem que o vejam. Um meu amigo africano, visitando o Brasil, farejava cheiro de negro em damas e senhores, oficialmente brancos. Nos recintos fechados das capitais européias, cinemas, auditórios, anfiteatros, percebemos a diversidade das emanações comparando-as às habituais do nosso ambiente nacional. (Faris Antonio S. Michaele, Breve Introdução à Antropologia Física (suas relações com a Antropologia Cultural), Curitiba, 135-136, 1961). Nos animais o cheiro é dicisivo para a orientação e reconhecimento. John A. Hunter lembra os burros de Quênia não suportando o odor do europeu, somente atendendo aos condutores nativos ou velhos moradores locais. Os mais solenes e milenares sacrifícios às divindades tomavam forma de gases perfumados, resultado da combustão das vítimas ofertadas, para que alcançassem o destino simbólico da homenagem: “A oferta queimada é de cheiro suave ao Senhor” (Levítico, 2,2). Assim gregos e romanos. Na comedia Os Pássaros, de Aristófanes (414 a.C.) as aves constroem nas alturas a Nefelococcigia, Cidade das Nuves e dos Cucos, obrigando Júpiter e demais olímpicos a humilhante capitulação, por não mais receberem os aromas oblacionais. |
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