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A Corrida do Anel

Depois da cerimônia de casamento católico, um dos rapazes presentes recebe o anel da noiva, amarra-o a um lenço, fugindo a cavalo, perseguido por toda a comitiva, em disparada, léguas e léguas, até alcançá-lo. Se o rapaz chegar à residência dos nubentes ou à casa onde se realizará a festa, dando, em primeiro lugar, a notícia da próxima vinda dos recém-casados, está livre.
É uma reminiscência do rapto nupcial, simbolizada pela aliança de ouro, vestígios do
quâm-fang, tomada da mulher, e do brût-loufti, corrida atrás da desposada (Max Müller, Essais Sur la Mythologie Comparée, 307, tradução de Georges Perrot, Paris, 1874).
É feita sempre a cavalo. Kerginaldo Cavalcânti assistiu a ela em 1914, na cidade de Macaíbas à povoação do Poço Limpo, num percurso de cinco léguas.

Deixamos a Macaíba com a alegria n'alma, desejosos de ver surgir a ampla estrada do fio, estrada percorrida pelo fio telegráfico, para darmos lugar à tradicional corrida do anel... eu me achei colocado entre os que iam correr, para tomarmos do cavaleiro escolhido a aliança, o anel da noiva. Ajustados os cavaleiros, eles emparelharam-se na estrada e o Targino, designado para correr com o anel, encaminhou-se para a noiva fazendo caracolar o belo animal. Chegado, apeou-se e, tomando a aliança da noiva, abraçou-a, e dum salto montou-se e meteu as esporas no seu árdego cavalo que se lançou numa carreira desenfreada. Ao tomar-nos umas vinte e cinco braças de dianteira, partimos-lhe no encalce em toda disparada: as esporas riscavam sem cessar os cavalos e os gritos de estímulo para ainda mais os fazerem correr eram incessantes...

O Simeão em cima do ruço, fora quem levara vantagem e o seu cavalo esguio e forte devorava o espaço com a velocidade de uma seta. Dos dois corredores, em breve, uma distância de duas braças os separava; o Targino esporeava e chicoteava o cavalo sem piedade e o Simeão descarregava com violência a grossa chibata que empunhava...

Cinco minutos mais e os dois cavaleiros se acharam lado a lado; o Simeão estirou o braço para receber o anel, o Targino quis passá-lo para a outra mão, não o fez com a precisa habilidade, perdeu o equilíbrio e precipitou-se no espaço. A queda foi terrível, felizmente a areia frouxa do tabuleiro atenuara-lhe os efeitos. E o Targino, levantando-se vermelho, indignado, entregou o anel ao Simeão, que prosseguiu, vitorioso, a carreira infernal... E de novo a carreira começou com os mesmos transportes e emoções. O cavalo de Simeão era inconteste o melhor, não houve quem dele se aproximasse e a oitenta braças dos demais cavaleiros ele ufano gritava com entusiasmo”. (Contos do Agreste, Natal, 1914).
No Ceará usavam a “Corrida do Chapéu”.

Corrida do Chapéu

É uma modalidade da Corrida do Anel, realizada depois das núpcias, no Estado do Ceará.
Eu e Francisquinha, a pedido de Meneses, saímos a campo para nos tirarem o chapéu; e então os camaradas viram-se doidos, meninos. Eu no ruço, e ela num castanho corredor, empurramo-nos na vargem, velozes como o pensamento; e a outra gente atrás, pega-não-pega, e sem poderem pegar-nos. Depois, quando estávamos cansados da brincadeira, deixamo-nos agarrar... - Quem tirou o chapéu da noiva? Foi o Meneses; e o meu, o João da Baixa d'Areia. Nunca me ri tanto em dias da vida”. (Juvenal Galeno, Cenas Populares, 156, segunda edição, Ceará, 1902).
O chapéu, peça nobre, tem sabida significação sexual, representando, para outros etnógrafos, a própria individualidade.
Tollenare (
Notas Dominicais) registrou um episódio num engenho pernambucano. Um curado de cobra, não podendo atender ao chamado duma mulher, que fora picada de cobra e já se esvaía em sangue, enviou apenas o seu chapéu. “Colocaram-no sobre a moribunda que imediatamente ficou aliviada”. (Antologia do Folclore Brasileiro, “O Chapéu Milagroso”, 71).


Fonte : Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data


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