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Separando
a praia da orla do planalto estende-se a várzea, onde, entre os
detritos acumulados, se espraiam pequenos rios. No contato entre a
várzea e a praia desenvolve-se uma cortina de vegetação - o jundu - que
abriga as casas dos pescadores ou "caiçaras", dando à faixa arenosa
feição completamente desertas. Dispersas ao longo das praias ou
agrupadas nos cantos mais protegidos dos frios ventos do sul que trazem
as borrascas, construídas numa clareira aberta no jundu, as habitações
dos praianos comunicam-se com o mar por larga e sinuosa abertura da
vegetação, a que por analogia chamam de "portos".
Construídas sem orientação definida dão, de preferência, a frente à praia ou ao caminho movimentado por onde transita a população, especialmente as mulheres em sua faina diária em busca da água que brota, além do mangue, nas encostas dos morros. A casa é, em geral, de pau-a-pique com cobertura de duas águas, de sape ou de folhagens (guaricanga, guamíúva). A pobreza da vegetação próxima leva ao artifício das paredes "barreadas", enquanto mais para o sul, próximo ao Paraná, é comum vermos casas de madeira ocupadas por pescadores. De poucas portas e janelas, raramente são caiadas, denotando, então, maior riqueza. O chão de terra batida, um pouco mais alto que o terreiro, sustenta uma parede central que separa um ou dois quartos da sala, onde os rústicos objetos domésticos se acham misturados aos apetrechos de pesca. No fundo, um pequeno compartimento serve de cozinha; ou então, um puxado lateral, de dimensões variadas, de duas águas, coberto com o corpo principal. Aí se prepara o peixe e, em algumas casas, encontram-se a roda, a prensa e o forno próprios ao fabrico da farinha de mandioca. Por isso mesmo, esta peça da casa é chamada "casa de aviamento". A construção, frágil como é, sob a ação contínua do vento e das chuvas fortes de verão, dura poucos anos. Quando começa a ruir seus donos preferem construir uma nova a consertá-la. Apesar do aspecto de miséria, o traço característico da casa do caiçara é a perfeita limpeza que se estende, não só à casa e à família, como ao próprio terreno. Constantemente varrido, apresenta ar alegre entre as flores e folhagens de cores variadas do improvisado jardim. Ao lado da casa jamais faltam as bananeiras brancas, o mamoeiro e um pezinho de café. Além, nos terrenos mais enxutos, estendem-se pequenas roças, que lhes fornecem o necessário alimento, especialmente o feijão, a mandioca e a cana. Esta é transformada em garapa, com a qual adoçam o café, e em "pinga" que apressa a circulação do corpo molhado pelos respingos do mar, nas longas horas de trabalho. Esta paisagem, tão bem descrita por MARIA CONCEIÇÃO VICENTE DE CARVALHO, poderia, talvez, ser confundida com a casa do caipira, se em torno não surgissem os aspectos típicos da vida do pescador. Aqui os varais onde, a secar, descansam as redes; os "covos" (espécie de cesta para pesca de peixes menores) espalham-se ou agrupam-se pelo chão. Lá, sobre dois toros ou à sombra do "rancho" a canoa espera a aproximação de novos cardumes. Sentado próximo à casa, o praiano tranquilo e calado conserta uma rede ou prepara novos anzóis, enquanto em torno dele os filhos brincam entre e criação doméstica. |
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