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Direção do Lar : Utensílios

Na cozinha, os utensílios, como pilão, tinham para os negros e indígenas uma importância que o português desapercebeu, mediante outras maneiras de esmagamento, no almofariz ou gral. O café pilado jamais poderia comparar-se ao café moído à máquina, na opinião popular, saudosa do pilamento insubstituível. A paçoca exigia o pilão, sob pena de não ser paçoca. Na África, os esparregados (guisados) de plantas cruas eram feitos no pilão. No Brasil, o milho era seu freguês clássico. A massa ou xerém para o cuscuz, a canjica, o bolo de milho, eram batidos os grãos, para “tirar o olho”, no pilão.

As louças eram feitas de barro, que desde o início da colonização fabricavam-se em casa. Cada engenho tinha um forno de tijolos, nos quais se coziam boas louças. Nas casas abastadas do século XVIII, porcelanas da Índia chegavam com certa frequencia, desde o início da colonização, na bagagem dos mais providos, sendo completadas, em épocas porteriores, com as baixelas inglesas de prata.

Os tachos ou tachas, como grafaram alguns cronistas da época colonial, eram de cobre e vinham importados da Metrópole, para utilização nas engenhocas, nos trabalhos de preparação do açúcar ou da rapadura, onde, geralmente eram as negras incumbidas desse serviço.

Pilão
Pilagem do café - Victor Frond, Biblioteca Municipal - São Paulo
A vinda, para o Brasil, da panelas com tampas: dos fogões de chapa de ferro, com três bocas serviçais; dos fornos abobadados para assar o pão, o bolo, o peru imponente, na segunda metade do século XVI, trouxe outras maneiras de preparar pescados, carnes, crustáceos e moluscos, como é a forma atual.
Utensílios
Ilustração de Jean-Baptiste Debret (1816)
Na fileira de cima: vasilhames de madeira: Medida para grãos; Gamela ou bacia para diferentes fins, principalmente para ensaboar roupa branca fina, nas casa ricas é substituída por uma de cobre amarelo; Medida para grãos com cabo; Gamela, banheira, em geral é pintada à óleo internamente, nas casas ricas é uma banheira de zinco fixada sobre tábua com rodinhas; Pote redondo de cabo alongado, chamado quartilho, comparado ao litro francês, serve para medir vinho e aguardente, sempre sobre o balcão de vendeiro; Cocho utilizado nas usinas de açúcar para recolher o caldo de cana.
Na fileira do meio: potes de barro para água: potes de uso comum que remontam a 1500, em muitos casos, o estilo do antigo Egito, bem como o mouresco importado pelos espanhóis, que durante muito tempo dominaram os portugueses. Estes herdaram seus costumes e seu gosto no Brasil. As menores são panelas de estilo indígena.
Na fileira de baixo podemos destacar os vasos de barro que servem para beber água diretamente neles, tem a vantagem de conservar sempre fresca a água, chamados moringas; potes comuns de uso generalizados; potes formados por uma metade de coco ou cabaça, de origem indígena e 
conhecidos por cuias, as mesmas com ornamentos destacados, denominam-se xícaras; A taça do centro é formada por uma metade de coco, pintada internamente e encaixada num contorno de prata preso a uma alça, também de prata, guarnecida de espirais, no meio das quais se encontram caules em filigranas, cuja elasticidade dá às flores e pássaros que sustentam um ligeiro movimento. Essas taças são fabricadas por ourives indígenas, nas províncias de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, razão pela qual nas casas ricas dessa parte do Brasil se encontram sempre mesas guarnecidas por elas. E, as pequenas bombas para tomar chá indígena (erva mate?). No Brasil, do mesmo modo que no Chile, a infusão do chá indígena se faz na mesma xícara em que é servido, acrescenta-se uma pequena bomba, crivada de furos na base, para aspirar a água aromatizada, livre dos pedacinhos de folhas (provavelmente precursor da cuia de chimarrão).

A forma como ocorriam as refeições na maior parte dos lares coloniais e a precariedade dos utensílios de mesa, com a escassez de facas, colheres, pratos e copos era tal, que foi na baixela e nas roupas de cama e mesa que essa gente ortentava sua opulência. Garfos, então, se já eram raros no Reino de Portugal e em quase toda a Europa, na Colônia, praticamente não existia. Seu uso só foi generalizada no século XIX. Em todas as classes sociais, comia-se com as mãos, mesmo ao se entrar no século XIX, ainda que os convidados fossem finos.

Em quase toda a Colônia, era em torno da grande propriedade rural que se desenvolvia a vida econômica e social brasileira. Os povoados, as vilas e as cidades tinham um papel secundário, limitado às funções administrativas e religiosas. Sobre todos, pairava, soberana, a casa-grande, símbolo do poderio absoluto dos senhores de terras, centralizadas na figura do patriarca. Eram as mesas patriarcais que espelhavam o seu “status”, os utensílios denunciavam o poder do senhor daquela casa.

Talheres
Propaganda de jornal em meados do século XIX
Farinheira
Farinheira de prata decorada, que trazia alimento  à mesa, quase sempre, era comida com a mão. (Século XVIII-XIX)
Coleção Beatriz e Mário Pimenta Camargo - São Paulo.
Gomil
Gomil de prata - meados do século XIX
Museu de Arte Sacra - São Paulo

Bacia
Bacia de prata - meados do século XIX
Museu de Arte Sacra - São Paulo
Tigela
Tigela de duas asas, louça de origem francesa - Século XIX - Museu de Arte Sacra - São Paulo
Bacia de lava-pés e jarro
Bacia de lava-pés e jarro, de prata, século XVIII
Coleção Beatriz e Mário Pimenta Camargo - São Paulo.
Ainda no final do século XVIII, no Pará, nota-se a existência de um certo luxo nas casas abastadas do capitão-mor da capitania e de fazendeiros ou comerciantes locais, possivelmente resultado do comércio intensificado nesse século pela Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Nas visitas pastorais, d. Frei joão José Queiroz menciona por ocasião de um jantar oferecido pelo bispo “salva e bandeja de prata, e uma galhetas em talher pequeno, colheres e garfos”.
Na São Paulo seiscentista o estanho é o material mais comum para copos e pratos.
A nobreza de certos materiais dos utensílios de servir e comer não impedia, todavia, que as refeições fossem feitas no redor de uma mesa baixa ou muito frequentemente de uma esteira estendida no chão, sem o conforto de cadeiras. Aliás, o hábito de se comer sentado no chão não era exclusivo da Colônia ou emprestados dos indígenas, pois ainda na primeira metade do século XVIII era comum, nas casas do Reino, as esposas e filhos acompanharem a refeição do chefe da casa tomando de um prato e acomodando-se-se no chão próximo da mesa onde este último jantava. Esse costume persistiu até o final do período colonial.
Ligados às refeições, certos hábitos de higiêne estavam entre os costumes domésticos, o ato de lavar as mãos antes e depois de comer, quando um escravo, carregando jarra, bacia e toalha, as passava aos convivas.
Antes das vasilhas de louça e de vidro fabricados na Inglaterra tornarem-se de uso corrente, entre a burguesia dos sobrados grandes, comia-se geralmente em louça holandesa e em tijelas portuguesas de boca larga e fundo pequeno. E, em vez de canecos e xícaras, predominavam os cocos e as cuias do mais puro sabor indígena. Coma primitividade dessas cuias e cocos, contrastava a prata fina dos garfos e das colheres. Faca, cada um tinha a sua; ou, então, servia-se dos dedos, e da faca só para cortar a carne.
A louça não era unicamente a de feitio holandês. O contato com o Oriente tornara comum nos guarda-louças e aparadores dos sobrados grandes, pelo menos do Recife e de Salvador, as travessas da Índia, os pratos fundos de Macau, a porcelana da China. Até arroz-doce se vendia nas ruas em pratos de porcelana da China. Diz um cronista que “em noite de lua, os burgueses menos opulentos do Recife, muitas vezes, iam comer suas peixadas, sua cerne de molho-de-ferrugem, suas fritadas de siri, na calçada da frente das casas, em pratos da China ou da Índia, cujos azuis e vermelhos brilhavam ao luar”.
Cozinha caipira
Cozinha Caipira (1895) - de José Ferraz de Almeida Junior (1850-1899) - Pinacoteca do Estado - SP

Muitas cozinhas permaneceram, até meados do século XX, como apêndices da casa, um puxado coberto por telhas, voltada mais para o quintal do que propriamente para o interior da residência. Era um lugar quente, enfumaçado, engordurado pela carne-seca, pela linguiça e pelos toicinhos pendurados no fumeiro, com o tijolos do chão desgastados pelas pancadas do machado de lenha, onde a dona de casa permanecia de cócoras, debruçada sobre gamelas e peneiras, ou em pé, socando o pilão.

(Na pintura, vemos o forno, pote de barro, pilão, fogão à lenha e em cima do fogão o fumeiro).
Embora algumas donas de casa já tivessem fogão a gás, sinal de bom gosto e pretígio da família, este permanecia encostado, enquanto, no uso diário, acendia-se o fogão à lenha ou a carvão, chamado de “econômico”, para o preparo de refeições mais elaboradas, e a espiriteira, para fazer comidas rápidas e para esquentar água.
Para limpeza das panelas, frigiderias de ferro, pedra, barro, cobre e, modernamente, alumínio, consideradas mais econômicas e higiênicas, utilizava-se sabão feito em casa com uma mistura de cinzas e folha de pau de pita. As panelas eram areadas com areia, cacos de telha reduzidos a pó e batatinhas. Para ficar brilhantes, deveriam ser postas para secar ao sol no jirau.






Além de ser o local onde eram pilados diferentes produtos, preparados os alimentos e lavada a louça, a cozinha era, também, onde se guardava a bacia para banhos e se fervia a água, banhava-se as crianças, passava-se a roupa e onde, em muitas casas, as empregadas dormiam sobre esteiras.
Torrador de café
Torrador de café doméstico (fotos de Angelo Zucconi - Coleção do autor)
Moedor de café
Moedor de café
Coador de café
Coador de café e bule
No início do século XX o café, em grãos, era torrado, moído e coado em coador de pano. Ainda hoje, algumas pessoas compram os grãos torrados e moem em casa e usam o coador de pano ao invés de cafeteiras.
Ferro a brasa
Ferro a carvão - Foto de Angelo Zucconi - Coleção do autor (doado por Oswaldo Zucconi Filho)

Os ferros de esquentamento indireto eram conhecidos por ferro de estufa (ferros maciços): vários deles eram esquentados em um fogareiro ou na chapa do fogão a lenha. À medida que um era usado os outros ficavam esquentando. Os ferros a brasa (carvão) tiveram grande presença nos últimos séculos, dos mais simples aos mais sofisticados. Os ferros a carvão sem pescoço, necessariamente dotados de aberturas laterais e traseira chamadas furos (os de sete furos são os mais comuns hoje em dia ainda fabricados), para a indispensável ventilação, são anteriores aos ferros com pescoço. Na Europa, os furos são chamados olhos. O carvão em brasa é colocado abrindo-se a parte superior da tampa em que está fixado o cabo.

Em 1915, “A Illuminadora” à rua da Boa Vista, 36-A, São Paulo, anunciava que era “casa especial para installação elétrica, fogões economicos a gaz, lenha ou kerosene, fogareiros, ventiladores, ferros elétricos,geladeiras americanas e officinas para concertos de motores, ferros elétricos e outros objetos accionados pela electricidade”. No mesmo ano, no Rio de Janeiro também anunciavam os ferros elétricos.

Ferro a brasa
Ferro de pescoço a carvão  - foto de José Rosael
O forno de micro-ondas, congelador e o freezer impuseram-se de forma maciça, oferecendo comodidade, concorrendo com o valor nutricional da comida preparada no mesmo dia. Os modos de vida foram modificados profundamente pela urbanização, pela industrialização, pela profissionalização das mulheres, pela elevação do nível de vida e de educação, pela generalização do uso do carro, pelo acesso mais amplo da população ao lazer, às férias e às viagens. Aumenta regularmente o número de refeições tomadas fora de casa, aumenta o número de refeições feitas nas empresas, escolas e coletividades.

Fontes : Tachos e panela: historiografia da alimentação brasileira / Claudia Lima. - 2ª edição - Recife: Ed. da Autora, 1999
História da vida privada no Brasil 1: cotidiano e vida privada na América portuguesa / organização Laura de Mello e Souza. - São Paulo: Companhia das Letras, 1997
O Ferro de Passar, passado a Limpo : anotações em torno de uma coleção / Fernando Cerqueira Lemos. - São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo, Museu Paulista da USP; Imprensa Oficail do Estado, 2003
Illustração Pilagem do café in
Brasil Revisitado : palavras e imagens / Carlos Guilherme Mota, Adriana Lopez. - São Paulo, Ed. Rios, 1989
Ilustrações dos utensílios de madeira, barro, etc., e texto in
Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil / Jean Baptiste Debret. - São Paulo: Circulo do Livro, sem data
Ilustração propaganda de jornal in História da Sociedade Brasileira / Francisco Alencar, Lúcia Carpi Ramalho, Marcus Vinicius Toledo Ribeiro. - 14º ed. - Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1996
Fotos da Farinheira e Bacia de lava-pés in
História da vida privada no Brasil 1: cotidiano e vida privada na América portuguesa - (acima)
Fotos do Gomil, Bacia de prata e Tigela in O Museu de Arte Sacra de São Paulo / editor Padre Antonio de Oliveira Godinho. - São Paulo : Melhoramentos, 1983
Pintura da Cozinha caipira in Panfleto da Pinacoteca do Estado, São Paulo, sem data
Foto Ferro de pescoço in
O Ferro de Passar, passado a Limpo : anotações em torno de uma coleção  - (acima)


Utensílios

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