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É comum o uso de luto durante três meses, por causa do falecimento de um compadre, cujo compadrio data de vários anos. Tipos
de compadre
Compadre de igreja é aquele que leva a criança, o afilhado para receber na igreja o sinal de iniciação – o batismo na igreja católica romana. Mais raro é o da confirmação, isto é, de crisma. Entre os moradores mais pobres só há compadres de batismo, de crisma só alguns poucos casos, já entre os mais ricos há também os padrinhos de crisma, que em tudo se comportam de maneira idêntica aos padrinhos de batismo. Desde o começo em que os padrinhos, defronte do sacerdote apresentam o “pagão” para ser batizado, passam a tratar e a serem tratados por compadres. É costume os padrinhos irem à casa dos pais buscar a criança e levá-la à igreja. Apresentam-se apenas padrinhos e a criança. Depois que o padre põe os santos óleos, voltam para a casa dos pais da criança, onde uma pequena festa terá início com a entrada dos compadres e afilhados. Estes entregam a criança aos pais dizendo mais ou menos estas palavras: “compadre, aqui está nosso afilhado fulano, nós levamos pagão e agora batizado está”. Trocam abraços, bebericam algo, há alegria e festa. Mesmo nas casas pobres há sempre algum regozijo porque os padrinhos em geral ajudam promover um beberete qualquer ou algum “de cumê”, pagam o “mijo do afilhado”. Compadre
de fogueira
O
juramento que precede ao salto da fogueira é o seguinte:
São João dormiu Repetindo
três vezes de cada lado passam a tratar-se de compadres ou tio e
sobrinho, pai e filho, etc.
Quando tal não se dá por ocasião do dia de São João o fazem então na fogueira do dia de São Pedro, último santo junino a ser festejado. No juramento, o primeiro a ser invocado então é Pedro e a quadrinha repetida é: São Pedro dormiu Quando
é um menino que convidou uma pessoa adulta para ser seu padrinho
o juramento é o seguinte: “Eu juro por São João, por
São Pedro e São Paulo e todos os santos da corte do céu
que o sinhô vai sê meu padrim e eu vô sê seu afilhado
que São João mandô”. Saltam a fogueira, repetem a quadrinha,
o afilhado repete três vezes “vai sê meu padrim” e o padrinho
“vai sê meu afilhado”.
Muitas vezes, um menino não tem mais padrinho porque este faleceu, arranjam-no na fogueira e as relações passam a ser respeitosas. Certa vez vimos uma mocinha negra aproximar-se de Mané do Dores dirigir-lhe o seguinte pedido: “a bença meu pai”. Estranhamos por causa não apenas da cor diversa, perguntamos ao Mané do Dores, este explicou: “é minha filha de fogueira. Aqui é a única pessoa a quem ela obedece porque é desabusada com todo mundo, mas é minha filha de fogueira, falo com ela e ela atende”. Há
muito respeito entre os compadres quer de fogueira, quer de igreja. Tão
grande é o respeito que certa vez na cidade houve muito comentário
porque uma jovem comadre de fogueira de José do Eduardo, com ele
se casou. Maior celeuma na cidade o casamento de Dandinha com Joca,
ambos
viúvos, porém compadres. Há como que um caráter
de incesto em tais casamentos entre compadre e comadre. Aliás, uma
das maneiras de uma senhora casada livrar-se do assédio de algum
moço dado a conquistador é convidá-lo para batizar
um filho, enfim tornarem-se compadres.
O
papel do compadre
O padrinho fica obrigado a ter atenções com seu afilhado e isto se reflete sempre nas relações dos compadres. Alguns padrinhos chegam a chamar a atenção de seus afilhados, às vezes rispidamente, e os pais aceitam porque eles sabem que tal é para o benefício do seu filho. A escolha do compadre é em geral feita por causa dos laços de amizade que existem entre vizinhos, parentes, amigos. Nestes casos quase sempre interfere pura e simplesmente a amizade, a afetividade. A procura de um compadre às vezes se revela por parte do pai mais pobre o desejo de que seu filho tenha mais elevado o seu “status” social, escolhendo para padrinho uma pessoa importante e de destaque social ou econômico. Esta razão é muito comum, dela tirando partido o pobre, bem como o “grandola”, o rico, o importante. Este se aproveita de tais relações de compadrio para finalidades políticas. Em geral o “Coronel”, o chefe político local é compadre de muita gente pobre e simples. Há uma troca de favores. O compadre pobre busca no compadre rico um apoio, proteção, ele o aconselha acerca de qualquer negocio, ele é que o livra da perseguição da polícia, ele é que no caso de dúvidas ou brigas por causa de terras ou criações vem dirimir questões. Em troca o compadre rico recebe o voto certo do compadre pobre e de todos os seus familiares e quase sempre presentinhos quando este vem a cidade. Uma das obrigações que o afilhado não deixa de cumprir é passar na casa do padrinho para pedir-lhe a benção, quando vem da roça. No
passado, os melhores capangas, os de confiança eram os compadres
do “manda-chuva” do lugar. Capanga que era compadre podia perpetrar
qualquer
crime que jamais iria para a cadeia. Um coronelão acoitava em seus
feudos o cangaceiro do seu amigo chefe político doutro lugar, porque
algum dia poderia também precisar enviar algum compadre seu para
ali ficar acoitado. O compadrio favoreceu os coiteros de cangaceiros,
de
capangas, porque para um compadre “é preciso fazer tudo”. O compadrio
é uma das formas mais vivas da solidariedade humana ainda existente
na comunidade de Piaçabuçu.
Em conclusão, o compadrio exerce a função de proteção mútua. |
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