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O Velório

Praticamente em desuso nas cidades grandes, o velório, popularmente chamado de “sentinelas”, é feito durante à noite, quando velam o corpo do falecido, cantando rezas e benditos. É a maneira de encomendar o defunto.

A sentinela é a missa laica da encomendação de defunto feita pelos pobres. A severa repressão policial inspirada pelos padres vem contribuindo para o desaparecimento dessa usança, encontrada apenas nos lugares mais distantes da comunidade. Na cidade, raramente após a morte de uma pessoa, costumam fazer novena, sendo porém, comum nos bairros rurais, onde moram aqueles que não podem pagar missa de sétimo dia.
Na sentinela, a família do morto oferece umas garrafas de cachaça e alguma coisa para comer. Através da noite, alternam os cantos religiosos com uns goles de cachaça para “melhorar a voz”. Não raro ao amanhecer há muita gente embriagada, sendo mesmo difícil para os que passaram a noite nestas libações e “guardamento” carregarem o defunto até ao cemitério. Ele está muito pesado, daí o costume de surrar o defunto para ficar mais leve.

A reza de “sentinela” é “puxada” ou “tirada”, isto é, dirigida por um capelão leigo. Há homens e mulheres que se desincumbem de tal mister, basta apenas ter um bom cabedal de conhecimento das rezas apropriadas para a ocasião.
As “sentinelas” são um cantochão que se tornou rústico, guardando porém a melodia religiosa que enternece. As palavras, não raro incompreensíveis, cada vez mais se deturpam ao serem transmitidas de geração a geração ou de rezador a outro.

Reza:

Nos domingo e dia santo
Que as igreja tão chamano,
Que nós no nosso batuque
E tu é que Jesus crama.    (bis)

E tu é que é deu a morte
Tanta morte arrepentina
Tanto castigo que vorta.
Castigo havêmo tê,
Raio, curisco e trovão
Tudo isso é de se vê.

Essas arma que morreu,
Não se salvaro nenhuma
Selada este mistério
Talvez que salvasse alguma

Valei-me Santa Tereza,
Valei-me Santa Isabé,
Valei-me meu anjo da Guarda, 
Me acuda São Gabrié.

Quem reza este bendito
Com toda sua famía
As porta do céu se abre
E o inferno treme de dia.
Que nos livre do inferno
Para sempre Amem, Jesus.

Quando estão no velório e passa alguém perto, uma das pessoas grita: “chegai irmão das alma!” Há também um canto dirigido às pessoas para auxiliem na “sentinela”. É comum dirigirem-se ao defunto na hora em que o estão arrumando na esteira ou no caixão.
No final da “sentinela”, quando o defunto será levado para ser enterrado, há um canto de despedida de um moço que morreu por causa dos espancamentos da polícia por motivos políticos. Nessa reza, o “puxador” dirigi-se à mãe do morto, único parente que deixara:
Sua benção mãi
Nos queira butá, (bis)
Os anju me chama
Não posso esperá.

Não posso esperá
Esta dispidida,
Hoje é o dia
Da minha partida.

Meus irmão não chore
Que eu não posso,
Peço que me reze
Outro Padre Nosso.

Si forim rezado
De bom coração 
Peço que me ofereça
Em min’intenção.

Dê a ismola aos cego
E aos filho sem pai,
Quem faz pra Jesuis Cristo
Merecemo mais.

Adeus minha mãi,
Meu povo também,
Eu vou pra eternidade
Para sempre. Amem.

No decorrer da noite cantam as “incelências”. Cantam sempre doze “excelências”, número dos apóstolos. É um dever do bom cristão participar de uma “sentinela”, por isso ao ouvirem “chegue irmão das alma”, ninguém deixa de atender, ainda mais que é crença de que o defunto enterrado sem ter cantado para ele as “doze incelência” não terá salvação.
Uma incelência
Ô mãi amorosa, (bis)
Seu filhinho vai morto
Na vida saudosa.

Duas incelência, etc...

Para criança não há velório, e os pais não devem chorar para que as lágrimas não molhem as asas do anjo da guarda que virá buscá-la.

Há tanto respeito quando se canta a “sentinela” que os participantes dessa “missa de encomendação dos pobres” o fazem de joelhos ou em pé, e os que a escutam não devem permanecer sentados ou deitados, mas genuflexos.


Fonte : Escorço do folclore de uma comunidade  – Alceu Maynard Araújo in Revista do Arquivo Municipal CLXVI – Departamento de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo, 1962
Gif animado da Animationfactory


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