Mauro
Aparecido Lázaro nasceu e passou todos os seus 46 anos de vida na
fazenda da Faculdade de Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP),
em Pirassununga. Hoje, é o responsável pela administração
de todas as atividades agrícolas da fazenda. É com essa autoridade
que ele garante: "Madeira, para ser de boa qualidade, tem de ser
cortada
na Lua Minguante, porque nessa época 'chupa' menos água do
solo. Nas outras luas, ela se encharca e o mourão logo apodrece."
Nas mãos
do agricultor, as plantações da fazenda da USP, que fornecem
alimento aos rebanhos da escola, seguem um rígido cronograma lunar.
Arroz só deve ser plantado na Lua Nova de outubro. Alho, para durar
mais tempo, tem de ser colhido na Minguante. "Se existe alguma prova
científica
disso, eu não sei", admite Lázaro. "O que eu sei é
que a gente segue essas regras desde o tempo do meu avô e nunca deu
errado." Assim, mesmo não se comprometendo com a influência
da Lua sobre as plantas, os agrônomos da USP de Pirassununga acabam
respeitando a "administração lunar" de Mauro.
Não
é só no interior do Brasil que a Lua é usada tradicionalmente
como indicador agrícola. Há mais de quarenta anos, a técnica
alemã Maria Thun desenvolveu um calendário de plantio e colheita
que leva em conta as mudanças de posição entre a Terra,
a Lua e os planetas. Segundo o agrônomo René Piamonte, do
Instituto Biodinâmico, em Botucatu, Estado de São Paulo, não
se trata de astrologia. "Mas não tem como negar que a conjunção
dos astros, em particular da Lua, influi no crescimento dos vegetais."
Provas
científicas?
Ninguém tem. Mesmo Piamonte se rende: jamais conseguiu concluir
uma experiência que comprove a eficácia do sistema lunar.
Existe gente
que precisa ver para crer. O agrônomo Salim Simão, professor
aposentado da USP, é uma dessas pessoas. Intrigado com as histórias
que ouvia na faculdade sobre a influência da Lua na lavoura, ele
resolveu fazer desse assunto o tema de sua tese de doutorado, em 1946.
Durante cinco anos, Simão semeou vários tipos de hortaliças,
em todas as fases lunares. "A acreditar no que os lavradores dizem, os
vegetais de folhas, como alface, repolho e espinafre, deveriam se
desenvolver
melhor se fossem plantados na Lua Cheia", conta ele. "Os de bulbo, como
cebola, cenoura e rabanete, na Lua Minguante."
Mas não
foi isso que Simão verificou. As hortaliças parecem só
dar bola mesmo para o clima. "A cenoura e o rabanete vão muito melhor
durante o verão, não importando a fase da Lua em que forem
plantados." Quanto à influência da força gravitacional
da Lua na germinação das sementes, Simão também
fez as contas e nada achou. "O efeito da força de gravidade lunar
- se é que existe - seria insignificante: não representaria
mais do que 0,5 milímetro no crescimento de uma árvore de
20 metros de altura."
Nem a maior
ou menor absorção de água pelos vegetais resiste a
uma análise mais detalhada. "A necessidade de água de uma
planta depende do quanto ela transpira", esclarece o botânico Gilberto
Barbante Kerbauy, professor de Fisiólogia Vegetal na USP.
Ou seja, como
qualquer organismo vivo, os vegetais buscam manter o equilíbrio.
A quantidade de água absorvida do solo será tanto maior quanto
maior for a perda de água pelas folhas. "E isso tem a ver com o
clima, e não com a Lua", conclui Kerbauy.
|