Terra Brasileira
Brasil Folclórico
folclore
modus Transporte
artesanato culinária
literatura Contos lendas mitos
música danças religiosidade tipos ofícios contatos
Loja

Livro de Contos
de Encantamento
-A Bela Adormecida
-Branca de Neve
-Chapeuzinho Vermelho
-Cinderela
-Joãozinho e Mariazinha
-A Casinha na Floresta
de Exemplo
de animais - Fábulas
Religiosos
Etiológicos
Acumulativos
Adivinhação
Anedotas
Causos

A Casinha na Floresta
Um pobre lenhador vivia com sua mulher e três filhas numa pequena cabana na beira de uma floresta solitária. Certa manhã, quando ia saindo para o seu trabalho, ele disse à mulher:
- Manda a menina mais velha levar-me o almoço lá na mato, senão não terminarei o serviço. E, para que ela não se perca, acrescentou ele – levarei comigo uma bolsa de painço e espalharei grãos ao longo do caminho.
Quando o sol já estava alto sobre a floresta, a moça se pôs a caminho, levando um pote cheio de sopa.
Mas os passarinhos do campo e do bosque, as cotovias, os melros e os pintassilgos, já haviam comido o painço todo, e a moça não 
Casinha na Floresta
conseguiu mais encontrar o caminho certo. Então ela foi caminhando, a esmo, até que o sol se pôs, e a noite desceu. As árvores sussurravam na escuridão, as corujas piavam e a moça começou a sentir medo.
Então ela avistou ao longe uma luz brilhando por entre as árvores.
“Ali deve haver gente morando, que poderá me acolher por esta noite”, pensou ela, e foi andando em direção à luz.
Não demorou até que chegasse a uma casa de janela iluminada. Ela bateu na porta e uma voz áspera gritou de dentro:
- Entre!
A moça pisou no assoalho escuro e bateu na porta.
- Vai entrando, falou a voz. E, quando a moça abriu a porta, lá estava um velho todo grisalho sentado à mesa, com o rosto apoiado nas duas mãos, e sua barba grisalha se estendia pela pela mesa até quase chegar ao chão. Junto ao fogão, porém, estavam três animais: uma pequena galinha, um galinho e uma vaca malhada. A moça contou sua aventura ao velho e pediu pousada por aquela noite.

“Linda galinha,
Lindo galinho,
E tu, malhada vaquinha,
Que me dizes da mocinha?”
-Ducas! Responderam os animais; e isso devia significar que estavam satisfeitos.
Então o velho disse mais:
-Aqui há fartura de tudo, vai para o fogão e cozinha um jantar para nós.
 A moça encontrou grande quantidade de tudo e cozinhou uma boa refeição, mas não pensou nos animais. Levou a travessa cheia para a mesa, sentou-se ao lado do homem grisalho, comeu e saciou a fome. Quando ficou satisfeita, ela disse:
- Mas agora estou cansada, onde há uma cama em que eu possa me deitar e dormir?
Os animais responderam:

”Com ele tu comeste,
Com ele tu bebeste,
Em nós não quiseste pensar,
Vê agora onde vais pernoitar”.

Então o velho disse:
- Sobe a escada, lá encontrarás uma alcova com duas camas, sacode-as e cobre-as com lençóis de linho alvo e, então, eu subirei e me deitarei para dormir também.
A moça subiu e, depois de sacudir os travesseiros e cobrir as camas com lençóis frescos, deitou-se numa delas, sem esperar pelo velho. Após um tempo, o homem grisalho chegou, iluminou a moça com a sua vela e balançou a cabeça. E, quando viu que ela dormia profundamente, abriu um alçapão e fez a moça afundar no porão.
O Lenhador veio para casa no fim da tarde e reprovou a sua mulher por tê-lo deixado passar fome o dia inteiro.
- Não tenho culpa- respondeu ela – a menina saiu com o teu almoço, ela deve ter se perdido, na certa voltará amanhã.
Antes do amanhecer, porém, o lenhador se levantou para ir à floresta e exigiu que a segunda filha lhe levasse comida.
- Levarei uma bolsa com lentilhas – disse ele – seus grãos são maiores que o painço, a menina os verá e não errará o caminho.
Ao meio-dia, a moça saiu com a comida, mas as lentilhas haviam sumido: os pássaros da floresta as comeram como na véspera, sem deixar nenhuma. A moça vagueou pelo mato até anoitecer; e aí chegou também à casa do velho, foi convidada a entrar e pediu comida e pousada para aquela noite.
O homem de barba branca perguntou de novo aos animais:

“Linda galinha,

Lindo galinho,
E tu, malhada vaquinha,
Que me dizes da mocinha?”

Os animais responderam novamente:
-Ducas! E tudo aconteceu como no dia anterior. A moça cozinhou uma boa refeição, comeu e bebeu com o velho e não se importou com os animais. E, quando ela perguntou pelo seu lugar para dormir, eles responderam:

”Com ele tu comeste,

Com ele tu bebeste,
Em nós não quiseste pensar,
Vê agora onde vais pernoitar”.

Quando ela adormeceu, o velho entrou, examinou-a balançando a cabeça e fez a moça afundar no porão.
Na terceira manhã, o lenhador disse à sua mulher:
- Manda-me hoje a nossa filha caçula com a comida; ela sempre foi boa e obediente, andará no caminho certo e não ficará, como as irmãs, essas desmioladas, vagando por aí.
A mãe não queria fazer isso e falou:
- Deverei, então, perder também minha filha predileta?
- Não te preocupes – respondeu ele – a menina não vai e perder, ela é inteligente e sensata demais para isso. Ademais, vou levar ervilhas comigo e espalhá-las pelo caminho, elas são maiores que as lentilhas e lhe mostrarão o caminho.
Mas, quando a mocinha saiu com a cesta no braço, as rolas do mato já estavam com as ervilhas no papo e ela não sabia o caminho a seguir. Ficou cheias de cuidados e só pensava em como o seu pobre pai e sua boa mãe chorariam se ela não voltasse. Finalmente, quando já estava escuro, ela viu a luzinha e chegou à casa da floresta. Pediu delicadamente que lhe permitissem passar a noite e o homem de barba branca tornou a perguntar aos seus bichos:

“Linda galinha,

Lindo galinho,
E tu, malhada vaquinha,
Que me dizes da mocinha?”

- Ducas! Disseram eles. E então a moça foi ao fogão, onde os animais estavam, e acariciou a galinha e o galinho, passando a mão pelas suas penas lisas, e coçou a vaca malhada entre os chifres. E quando, a mando do velho, ela preparou uma boa sopa e a travessa já estava na mesa, ela disse:
- Devo eu me fartar enquanto os bons animais ficam sem nada? Lá fora há fartura de tudo, primeiro eu vou cuidar deles.
Então ela saiu, apanhou cevada e espalhou-a para a galinha e o galinho; para a vaca, ela trouxe palha cheirosa, uma braçada inteira.
- Comam bem, queridos bichos – disse ela – e, se tiverem sede, terão também uma bebida fresca.
E ela trouxe um balde de água; a galinha e o galinho saltaram perto, enfiaram o bico e esticaram os pescoços para o alto como as aves costumam beber, e a vaca malhada também tomou uns bons goles.
Quando os animais estavam alimentados, a moça sentou-se à mesa, ao lado do velho, e comeu o que ele deixara de sobra.
Não demorou para que a galinha e o galinho começassem a colocar as cabeças entre as asas e a vaca malhada começou a piscar os olhos. Então, a moça disse:
- Não deveríamos agora nos recolher para descansar?

“Linda galinha,

Lindo galinho,
E tu, malhada vaquinha,
Que me dizes da mocinha?”

-Ducas! Responderam os animais.

“Conosco tu comeste,

Conosco tu bebeste,
Não deixaste em nós de pensar,
Boa noite, vamos te desejar.”

Então a moça subiu a escada, sacudiu os travesseiros de penas, cobriu as camas com lençóis de linho fresco e, quando ela terminou, o velho subiu, deitou-se numa das camas e sua barba branca chegava-lhe até os pés. A moça deitou-se na outra cama, fez suas orações e adormeceu.
Dormiu tranquila até a meia-noite; aí começaram tantos ruídos na casa que a moça acordou. Teve início um tal ranger e estalar pelos cantos, a porta soltou-se do trinco e bateu na parede; as vigas rangiam como se quisessem saltar dos encaixes, parecia que a escada ia desabar, e, por fim ressoou um estampido, como se o telhado inteiro fosse desmoronar. Mas como tudo acabou silenciando e nada de mau lhe aconteceu, a moça continuou deitada e, tranquila, adormeceu de novo.
Mas, quando na manhã seguinte ela acordou, em plena luz do sol, o que viram os seus olhos? Ela estava deitada num enorme salão, rodeada de esplendor real e beleza. Nas paredes, sobre o fundo de seda verde, cresciam flores de ouro, a cama era de marfim, a colcha era de veludo carmesim e, sobre uma cadeira ao lado, havia um par de pantufas rebordadas com pérolas.
A moça pensou que isso fosse um sonho, mas entraram três criados ricamente trajados e perguntaram o que ela ordenava.
- Podem ir – respondeu a moça – eu vou me levantar já e cozinhar uma sopa para o velho e também alimentar a linda galinha, o lindo galinho e a boa vaquinha malhada.
Ela pensou que o velho já tinha levantado e procurou a sua cama, mas não era o velho que estava lá deitado e sim um homem desconhecido. Quando ela olhou e viu que era jovem e belo, ele acordou, ergueu-se e disse:
- Eu sou o filho de um rei e fui enfeitiçado por uma bruxa malvada, condenado a viver como um grisalho ancião nesta floresta. Ninguém podia ficar comigo, a não ser meus rês criados, na forma de uma galinha, de um galinho e de uma vaca malhada. E o feitiço não passaria até que viesse até nós uma donzela, de coração tão bondoso que tratasse com carinho não só as pessoas mas também os animais. Tu foste essa moça, e, hoje, à meia-noite, nós fomos libertados por ti e a velha casa da floresta voltou a se transformar no meu palácio real.
Quando eles se levantaram, o príncipe ordenou aos seus três criados que tomassem a carruagem e trouxessem o pai e a mãe da moça para assistirem à festa de casamento.
- E onde estão minhas duas irmãs? Perguntou a moça.
- Eu as tranquei no porão, e amanhã elas serão levadas para a floresta, onde servirão como criadas em um carvoeiro até que se corrijam e não deixem mais os pobres animais passarem fome.




Fonte : A Casinha na Floresta / Jacob Grimm, Wilhelm Grimm; Trad. Verônica Sônia Kühle. - Porto Alegre: Kuarup, 1985


Volta ao Topo
Deixe seu comentário: Deixe seu comentário:
Correio eletrônico Facebook
Livro de visitas Twitter