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O Graxaim e o Gambá

Era uma vez o compadre Graxaim, que andava mui esfaimado, porque a cachorrada não o deixava chegar no rebanho e o tempo corria tão ruim até as preás faziam pouco dele. Inverno brabo, de geada que branqueava. Tudo que era bicho ladrão andava com a barriga pegada no espinhaço. Até o compadre Tatu teve que mudar de toca, por causa das chuvaradas. Cobra, então, nem nada; e os Quero-quero, de frio, não davam mais sinal.
Compadre Graxaim, então, foi convidar o compadre Gambá, que era mui esperto, pra darem uma batida nos poleiros, ou no rebanho, a ver se pegavam algum cordeirinho recém-nascido.
Mas o Gambá disse que estava muito cansado de ter ido na véspera a um galinheiro do outro lado do passo e que, mesmo numa enrascada em que andara, tinha prometido ao compadre Piloto não bater na criação da casa. O Graxaim embrabeceu, provocou o Gambá para passar-lhe o dente, e foi embora dizendo que até era melhor um bicho sem-vergonha como o Gambá não andar com ele, que era bicho de respeito. E saiu a trotezito direto à casa do compadre Lagarto.
O Lagarto, que estava enrodilhado no olho do sol, disse que não queria conversa com a cachorrada da estância, porque não podia estragar a sua roupa de inverno. Mas, como era amigo do compadre Graxaim e vi que ele andava necessitado, podiam ir juntos ao mato, no outro dia, tirar mel.
Vai então, no outro dia, os dois foram, ao meio-dia, em busca de mel. Trotearam, trotearam, até encontrar um camoatim, mui lindo e gordo, em cima duma pedra.

O Graxaim e o Gambá
Compadre Lagarto, então disse:
- Compadre Graxaim, você fica aqui, quieto, espiando no mais a manobra que, quando chegar a hora lhe digo.
E foi direto à casa do camoatins, que estava negreando de bicho. Quando chegou em cima, fincou a cabeça na pedra e – lépt! - um guascaço com o rabo no camoatim, e disparou para lamber o mel que ficara grudado no rabo. Quando os bichos acalmaram um pouco, veio de novo devagarzito, fincou a cabeça e – lépt! - outro guascaço e disparou para lamber o mel. Assim fez um mundo de vezes.

Os camoatins zuniam pra todos os lados, mas não encontravam ninguém. Algum que pegou o Lagarto, ele nem se importou, porque no seu poncho não entra ferrão nem chuva.
Depois de muito tempo, os camoatins deixaram a casa e foram embora. Mas quando o Lagarto disse:
- Agora sim, compadre Graxaim, vá buscar o mel...
viram o Gambá que se despencou duma árvore, gadunhou o camoatim e se foi campo fora.
O Graxaim correu, mas o Gambá ia longe, e ele então ficou muito triste, muito triste e se lamentou pro compadre Lagarto e jurou que havia de se vingar do desgraçado Gambá.
Combinou um plano com o Lagarto e, no outro dia foram pro mato onde morava o Gambá.
Vai então, o Graxaim cortou uma tala de jerivá, pelou, e disse que o compadre Lagarto ficasse escondido, esperando. Quando ia chegando a hora de o Gambá vir beber água, o Graxaim começou a arrancar cipó, a arrancar cipó, como se fosse guinchar dois ranchos. Daí a pouco, veio o Gambá ao tranquinho, para o lado do arroio.
- Bom dia, compadre Graxaim.
- Bom dia, compadre Gambá. E seguiu arrancando cipó, arrancando cipó...
- Pra que é tanto cipó, compadre Graxaim?
- Ué! O compadre não sabe que vem aí um pé-de-vento, tão grande, que tudo que é bicho que não estiver atado numa árvore o vento leva?
- E o campadre vai-se amarrar?
- E então? O compadre Corvo, que veio ontem da serra, foi quem me deu a notícia do ventarrão que vem! Disse que lá os bichos já se ataram todos!
O Gambá, então, assustado, pediu ao Graxaim que o atasse também, que sempre tinham sido amigos, e tal. O Graxaim disse que não podia, que o vento não demorava, e ele tinha de ir em casa casa atar a mulher e os filhos.
Mas o Gambá pediu muito, se ajoelhou, fez muita lábia, e então o Graxaim disse:
- Está bem, compadre, como sempre fomos amigos vou te fazer esse favor.
E encostou o Gambá num tronco de guajuvira e passou-lhe cipó pelo corpo até que não podia mais se mexer.
Aí o Graxaim chamou o Lagarto.
- Compadre Lagarto, está aqui quem nos roubou o mel.
E passou a mão na tala de jerivá, botou um pé adiante, outro atrás, e começou a dar uma sova no Gambá.
Um João-de-Barro que ia voando, vendo aquilo, lembrou-se de que o Gambá lhe comera os filhotes o ano passado, e então sentou-se num galho da guajuvira, bateu as asas e deu gargalhadas:
- Ó Graxaim, dê tala, dê tala no Gambá.
Quando cansou, veio o Lagarto, fincou a cabeça no chão e – lépt! lépt! lépt! - até cansar.
E deixaram o Gambá por morto, de tanto apanhar, e foram de novo à procura de mel.


Fonte : Darcy Azambuja: No Galpão. Editora Globo, Coleção Província, Porto Alegre, 1955 in Antologia Ilustrada do Folclore Brasileiro: Estórias e Lendas do Rio Grande do Sul / Seleção e introdução de Barbosa Lessa. - São Paulo: Ed. Edgraf, 1960.
Ilustração: Edgar Koetz


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