Os camoatins zuniam
pra todos os lados,
mas não encontravam ninguém. Algum que pegou o Lagarto,
ele nem se importou, porque no seu poncho não entra ferrão
nem chuva.
Depois de muito tempo, os camoatins
deixaram a casa e foram embora. Mas quando o Lagarto disse:
- Agora sim, compadre Graxaim, vá
buscar o mel...
viram o Gambá que se despencou
duma árvore, gadunhou o camoatim e se foi campo fora.
O Graxaim correu, mas o Gambá ia
longe, e ele então ficou muito triste, muito triste e se
lamentou pro compadre Lagarto e jurou que havia de se vingar do
desgraçado Gambá.
Combinou um plano com o Lagarto e, no
outro dia foram pro mato onde morava o Gambá.
Vai então, o Graxaim cortou uma
tala de jerivá, pelou, e disse que o compadre Lagarto ficasse
escondido, esperando. Quando ia chegando a hora de o Gambá vir
beber água, o Graxaim começou a arrancar cipó, a
arrancar cipó, como se fosse guinchar dois ranchos. Daí
a pouco, veio o Gambá ao tranquinho, para o lado do arroio.
- Bom dia, compadre Graxaim.
- Bom dia, compadre Gambá. E
seguiu arrancando cipó, arrancando cipó...
- Pra que é tanto cipó,
compadre Graxaim?
- Ué! O compadre não sabe
que vem aí um pé-de-vento, tão grande, que tudo
que é bicho que não estiver atado numa árvore o
vento leva?
- E o campadre vai-se amarrar?
- E então? O compadre Corvo, que
veio ontem da serra, foi quem me deu a notícia do ventarrão
que vem! Disse que lá os bichos já se ataram todos!
O Gambá, então,
assustado, pediu ao Graxaim que o atasse também, que sempre
tinham sido amigos, e tal. O Graxaim disse que não podia, que
o vento não demorava, e ele tinha de ir em casa casa atar a
mulher e os filhos.
Mas o Gambá pediu muito, se
ajoelhou, fez muita lábia, e então o Graxaim disse:
- Está bem, compadre, como sempre
fomos amigos vou te fazer esse favor.
E encostou o Gambá num tronco de
guajuvira e passou-lhe cipó pelo corpo até que não
podia mais se mexer.
Aí o Graxaim chamou o Lagarto.
- Compadre Lagarto, está aqui
quem nos roubou o mel.
E passou a mão na tala de
jerivá, botou um pé adiante, outro atrás, e
começou a dar uma sova no Gambá.
Um João-de-Barro que ia voando,
vendo aquilo, lembrou-se de que o Gambá lhe comera os filhotes
o ano passado, e então sentou-se num galho da guajuvira, bateu
as asas e deu gargalhadas:
- Ó Graxaim, dê tala, dê
tala no Gambá.
Quando cansou, veio o Lagarto, fincou a
cabeça no chão e – lépt! lépt! lépt!
- até cansar.
E deixaram o Gambá por morto, de
tanto apanhar, e foram de novo à procura de mel.