A estrada era
comprida, quente e quase
deserta. De espaço a espaço, perdia-se entre altos
rochedos para surgir lá diante, onde um fio de água
murmurava aos pés de palmeiras inclinadas.
Nessa tarde, já ao escurecer,
alguns viajantes surgiram na distância e avançaram com
pressa, talvez receando que a noite os alcançasse naquela
solidão.
Um velho ia na frente, como ensinando o
caminho a um burrico. Sentada no lombo do animal, ia uma mulher ainda
jovem, de vestido branco e manto azul, toda inclinada para a
criancinha que levava no colo. Era Nossa Senhora que fugia para o
Egito, a fim de salvar o Menino Jesus das perseguições
de Herodes.
- Ainda estamos longe? Perguntou ela.
São José parou, enxugou o
suor da testa e respondeu:
- Não sei. Lá em baixo
perguntaremos.
Os passarinhos piavam nos ramos, as
cigarras ziniam, os grilos cricrilavam nas moitas. A estrada passou
rente a uns penhascos e desembocou no vale, onde o fio de água
murmurava à sombra das palmeiras inclinadas.
Nossa Senhora apeou e sentou-se no
barranco. O Menino Jesus molhou as mãos na corrente e a água
se tornou luminosa. São José levou o burrinho para
beber, um pouco mais abaixo. Quando ele voltou, ficou pasmo. A
lua-cheia estava nascendo no deserto; seu disco prateado rodeava a
cabeça do Menino Jesus, como um halo de glória.
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Dali a
pouco, retomaram o caminho. São
José ia na frente; atrás, montada no burrinho, Nossa
Senhor com o Menino no colo. Como o Egito ficava longe!
Em certo ponto, algumas perdizes,
escondidas numa das moitas que ladeavam a estrada, levantaram vôo
inesperadamente, com o seu trissar, isto é, o conhecido trinar
de asas. |