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As Perdizes


A estrada era comprida, quente e quase deserta. De espaço a espaço, perdia-se entre altos rochedos para surgir lá diante, onde um fio de água murmurava aos pés de palmeiras inclinadas.
Nessa tarde, já ao escurecer, alguns viajantes surgiram na distância e avançaram com pressa, talvez receando que a noite os alcançasse naquela solidão.
Um velho ia na frente, como ensinando o caminho a um burrico. Sentada no lombo do animal, ia uma mulher ainda jovem, de vestido branco e manto azul, toda inclinada para a criancinha que levava no colo. Era Nossa Senhora que fugia para o Egito, a fim de salvar o Menino Jesus das perseguições de Herodes.
- Ainda estamos longe? Perguntou ela.
São José parou, enxugou o suor da testa e respondeu:
- Não sei. Lá em baixo perguntaremos.
Os passarinhos piavam nos ramos, as cigarras ziniam, os grilos cricrilavam nas moitas. A estrada passou rente a uns penhascos e desembocou no vale, onde o fio de água murmurava à sombra das palmeiras inclinadas.
Nossa Senhora apeou e sentou-se no barranco. O Menino Jesus molhou as mãos na corrente e a água se tornou luminosa. São José levou o burrinho para beber, um pouco mais abaixo. Quando ele voltou, ficou pasmo. A lua-cheia estava nascendo no deserto; seu disco prateado rodeava a cabeça do Menino Jesus, como um halo de glória.

As Perdizes
Dali a pouco, retomaram o caminho. São José ia na frente; atrás, montada no burrinho, Nossa Senhor com o Menino no colo. Como o Egito ficava longe!
Em certo ponto, algumas perdizes, escondidas numa das moitas que ladeavam a estrada, levantaram vôo inesperadamente, com o seu trissar, isto é, o conhecido trinar de asas.
O burrinho que levava Nossa Senhora e o Menino Jesus assustou-se com aquilo e partiu em disparada. Foi um trabalhão para o velho e cansado São José alcançá-lo e sossegá-lo. Então, Nossa Senhora quis admoestar as perdizes, por sua falta de respeito. Proibiu-lhes, para todo o sempre, o uso da cauda que até então possuíam. Era muito linda. Daí para cá, as perdizes já nasceram suras, sem a vistosa cauda que antes era o seu orgulho.


Fonte : Afonso Schmidt, baseado em Ciro Dutra Ferreira, Ivo Sanguinetti, J. C. Paixão Côrtes e Luiz Carlos Barbosa Lessa, do Centro de Tradições Gaúchas, em Lendas Brasileiras, Livraria Pluma, Porto Alegre, in in Antologia Ilustrada do Folclore Brasileiro: Estórias e Lendas do Rio Grande do Sul / Seleção e introdução de Barbosa Lessa. - São Paulo: Ed. Edgraf, 1960.
Ilustração: Edgar Koetz


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