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Danças Folclóricas : O Samba
Samba Carioca
Cartão-postal exalta o Carnaval de 1929 na praça Onze, próxima à casa da tia Ciata, reduto do nascimento do samba carioca
O tempo dos sambas maxixados, da década anterior, ficara para trás. Novidades musicais e no comportamento dos sambistas davam nova feição a esse mundo musical carioca.

A casa da tia Ciata, localizada no Centro da cidade, embalada por um samba que atendia às convenções da dança de salão e frequentadas por figuras de destaque como Donga e Sinhô, dava lugar a novos cenários, os botequins da subida do morro de São Carlos, por exemplo. O samba tocado nesses lugares tinha nova cadência, que se ajustava à coreografia das escolas de samba recém-instituídas nas favelas cariocas do Estácio e da Mangueira.

É impossível hoje dissociar o gênero musical de seus passos de dança.
Alguns gêneros da música popular no Brasil apresentam uma forte relação com o corpo e com a dança, ligando de forma marcante a criatividade musical à sensualidade. É o que ocorre no lundu e no samba – este último gênero que, a partir da década de 1930 passou a ser priorizado como expressão musical maior de nossa identidade cultural.
Além da presença do samba em suas diversas variações, como samba-canção, partido-alto e samba de breque, como partes constituintes da tradição da MPB, no mês de fevereiro ele surge com toda a força ao ser evocado por escolas de samba que desfilam nas grandes capitais (com destaque para o Rio de Janeiro) e, principalmente como dança, durante o carnaval.
Se a expressão lundu tem sua origem no calundu, dança ritual africana que aportou no Brasil na época colonial, estritamente relacionada aos batuques dos negros, o mesmo ocorre com o samba. A palavra samba não aparece apenas no Brasil, mas em outras regiões da América, sempre relacionada aos rituais negros e tem como origem a expressão semba, que significaria umbigada, gesto coreográfico presente nas danças afro-brasileiras. Assim, lundu, coco (ver região Nordeste: Coco) e samba apresentam características bastante semelhantes: a disposição em roda dos partipantes que batem palmas enquanto uma pessoa dança ao centro até que escolhe, através do gesto da umbigada, um par do sexo oposto que passa a ocupar o centro da roda. Enquanto isso, a dança é acompanhada pelo canto de um solista, respondido pelo restante do grupo, através de um refrão.
Ao longo da história, esses gêneros de dança vão sofrendo modificações: o lundu se transforma em canção. O mesmo ocorre com o samba. Embora a ênfase coreográfica nos movimentos do baixo corporal esteja presente no samba contemporâneo, o que remete à umbigada, não é possível dizer com precisão em que momento os passos do samba adquiriram a configuração atual. Há, entretanto, alguma aproximação entre os passos do samba e as artimanhas utilizadas pelos capoeiristas para ludibriar o parceiro.

Identidade Nacional

É justamente na década de 1930, marcada pela ascensão de Vargas ao poder e pela afirmação do modernismo, que o samba se transformou em símbolo nacional. Houve nesse momento uma inversão do ideário de construção da identidade nacional concebido na década anterior, como o desenvolvido por Mário de Andrade no Ensaio sobre a música brasileira, de 1928. Nesse texto-manifesto, Mário propunha a contribuição das musicalidades de todas as regiões e etnias do país para o estabelecimento da identidade nacional. Fundamentando-se nessa perspectiva, defendia radicalmente a representação do Brasil através da síntese promovida pelas três raças – portuguesa, negra e indígena -, recusando o procedimento de pensar o país a partir de um único elemento, tanto cultural quanto geográfico. Ao contrário, portanto, da proposta de Mário de Andrade, que operava com a ideia de fusão, a inteligência dos anos 1930 optou por concentrar no Rio de Janeiro a escolha dos ingredientes básicos para a construção da identidade nacional, entre os quais o samba se destaca pelo seu valor emblemático. Em reflexão bastante original sobre o tema, desenvolvida em O mistério do samba, Hermano Vianna argumenta que, nos anos 1930, se recorre ao mito da “descoberta” do samba, como se de certa forma o morro contivesse o samba em essência. Assim, não só o samba como também o Brasil passam a ostentar uma natureza carnavalesca.
E, curiosamente, tomou-se como símbolo nacional uma musicalidade que, para os padrões modernistas da década anterior – que apostava numa estética mais elaborada, como a de Villa-Lobos -, se caracterizava por uma extrema simplicidade. Só no final da década o samba deixou de ser valorizado em sua “naturalidade”, pois o gênero começou a sofrer uma série de desenvolvimentos, responsáveis, em grande medida, pelo surgimento do samba cívico, ou samba-exaltação. Essa nova modalidade de samba se projetou com muita força, num viés mais sinfônico e monumental, a partir de Aquarela do Brasil, que Ari Barroso compôs em 1939. Seria uma das diversas mudanças experimentadas pelo gênero em sua trajetória ao longo do tempo.


Temática malandra

Foi numa roda de amigos que o sapateiro Alcebíades Barcelos, o Bide, e seus companheiros do Estácio, bairro do centro do Rio de Janeiro, criaram a primeira escola de samba, a Deixa Falar. Era um domingo: 12 de agosto de 1928.
Bide, por sua vez, compõe a figura do malandro no próprio corpo, ao se vestir com os indefectíveis terno branco e colarinho engomado. No caso do Cartola (Angenor de Oliveira), da Mangueira, o próprio apelido se refere a seus trajes - mais precisamente ao chapéu que usava e que constituía peça indispensável do figurino malandro.

Quanto ao estilo musical desenvolvido por essa segunda geração de sambistas, é curioso observar que, apesar da linguagem debochada da temática malandra, se iniciaram, a partir do final dos anos 1920, os contatos entre as favelas e a cidade.

Noel Rosa é sempre citado como um mediador entre os compositores pobres das periferias e os músicos cariocas de classe média e alta. Noel teria sido um dos primeiros músicos desse segmento branco e de classe média a subir os morros, como o da Mangueira e o do Estácio, e conviver com os sambistas desses redutos. Os sambistas do morro, em seus relatos, costumam reclamar da exploração a que foram submetidos no início de suas carreiras por compositores e intérpretes já conhecidos, como Francisco Alves e Mário Reis, que negociavam com eles a parceria de suas músicas. A despeito dessas situações difíceis na trajetória de compositores como Bide e Cartola, é a partir do final dos anos 1920 que o samba produzido nos morros começou a ser valorizado e apreciado por segmentos das classes alta e média da cidade.

Com a criação dos desfiles carnavalescos, os sambistas desceram do morro e começaram a fazer as evoluções na avenida. O samba passou então a contar com um público cada vez mais heterogêneo, que consumia não só no espetáculos dos desfiles, mas através dos novos meios de comunicação de massa, como o rádio, a indústria fonográfica tecnicamente mais aperfeiçoada e o cinema.
Umbicada
Umbigada
O novo Samba
Coleção Arthur Ramos
Enquanto o samba da geração anterior, dos anos 1910, era desenvolvido por músicos com maior formação técnica e se fazia a partir de um processo de composição mais elaborado, com instrumentos de corda e sopro; o novo samba era criado na base do improviso das rodas de batucadas, com tamborim, surdo, cuíca e pandeiro.
Malandro
A imagem do malandro - misterioso, mulherengo de terno branco, boêmio, tocando violão pela noite carioca.

Estilos de Sambas

Samba-canção

Com tom sentimental e melancólico, surge na década de 1920, com menos batuque e predomínio melódico próximo a modinha e à seresta. O estilo ganhou popularidade na voz de Herivelto Martins, Dalva de Oliveira, Lupicínio Rodrigues e Nelson Gonçalves, com músicas doloridas que conquistavam milhares de brasileiros nas décadas de 1940 e 1950. Esse estilo daria também base para apostas harmônicas da bossa nova, tendo sido utilizado nas primeiras composições de Tom Jobim, como Incerteza e Teresa da Praia.

Samba de partido-alto

Com letras improvisadas, o partido-alto segue a estrutura típica das canções de batuque tradicional angolano, na qual as letras improvisadas aparecem sobre linha melódica pouco variável, reforçada por estribilho coral e palmas cadenciadas. É cantado em rodas que reúnem grupo de músicos e amigos. Também pode ser cantado em forma de desafio por dois ou mais solistas com refrão e partes soladas.

Samba-enredo

Modalidade em que letra e melodia são criadas a partir de um tema escolhido como enredo de escola de samba. Os primeiros eram feitos no Rio de Janeiro de maneira livre e tratavam da realidade dos sambistas e de seu meio. A partir dos anos 1930, com a institucionalização das disputas entre escolas, esses sambas passaram a narrar episódios e a exaltar personagens da história nacional. Hoje dão o tom aos desfiles do Rio de Janeiro e de escolas de outras capitais do país.

Samba-exaltação

As letras patrióticas e ufanistas ressaltam as maravilhas do país e têm acompanhamento pomposo de orquestra. Um exemplo clássico é Aquarela do Brasil, composta por Ari Barroso e gravada em 1939 por Francisco Alves.

Samba de breque

Breque deriva da palavra break (freio ou parada em inglês). Esse gênero de samba se caracteriza exatamente por pequenas paradas repentinas na música em que o cantor pode incluir comentários, muitos deles em tom crítico ou humorístico. Um dos mestres desse estilo é Moreira da Silva, que incorporou a novidade em seus sambas na década de 1930. A modalidade desembocaria em samba sincopados de Geraldo Pereira, craque em acoplar frases ao recorte melódico.

Samba de roda

Ligado ao samba rural que segue tradição africana e tem sua origem no Recôncavo Baiano. É ligado à dança e â capoeira e tocado por um conjunto de pandeiro, atabaque, berimbau, viola e chocalho e acompanhado por canto e palmas.

Pagode

A etimologia da palavra remete a um templo pagão asiático. No Brasil, pagode passou a denominar também um tipo de festa “com comida e bebida, de caráter íntimo”, na definição acadêmica do folclorista Câmara Cascudo. Específicamente no Rio, a partir dos anos 1980, ficaram conhecidas como pagode as reuniões de sambistas em torno da música e um gênero de interpretação do samba que deu destaque a nomes como o do grupo Fundo de Quintal e também Jovelina Pérola Negra e Zeca Pacodinho.


Veja o Vídeo:

Carlinhos de Jesus ensina o Samba no pé

Extraído dos textos de Tereza Virginia de Almeida, Doutora em Letras pela PUC-RJ, com estágio de Pós-Doutorado em Literatura Comparada pela Universidade de Stanford (EUA), e professora de Literatura Brasileira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
e de Santuza Cambraia Naves, professora do Departamento de Sociologia e Política da PUC-RJ, pesquisadora do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Candido Mendes e autora de O Violão Azul, Modernismo e Música Popular (FGV, 1998)
in Revista de História da Biblioteca Nacional, Ano 1, nº 8, fevereiro / março de 2006


Danças Folclóricas

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