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Saci-pererê
O Saci-Pererê
Pererê vem do Tupi pererek, que significa pular, o Saci-Pererê que, por não ter uma perna, anda aos pulos.

Que personagem é mais tipicamente brasileiro que o Saci? Sua origem é mista, tanto indígena como africana; tem a malandragem, o espírito inventivo, a qualidade de se tornar invisível de repente ou estar em toda a parte, a arte de pregar peças, menos por maldade que para fazer rir, características de que os brasileiros se orgulham, ou gostariam de ter. Evoca mais simpatia do que medo; sua negritude o faz símbolo brasileiro positivo, contrabalançando o preconceito que infelizmente ainda não conseguimos erradicar do país.
Saci-pererê
O Livro reeditado de Monteiro Lobato, conta a história do ser que povoa o imaginário caboclo do Brasil, escrito quase como a biografia de alguém que existe de verdade, recria sua personalidade, reunindo depoimentos sobre a figura de uma perna só.

Luís da Câmara Cascudo chama a atenção para as diferenças entre o Saci na região norte, na Amazônia, - onde é pássaro e parente da mítica matintaperera, e pode ter ligação com o mundo das almas – e o Saci do sul, na região povoada pelos tupi-guarani.
Câmara Cascudo nota que o bonezinho vermelho do Saci, ou sua mão furada, poderiam estar ligados ao folclore europeu, mais um elemento de mistura para o brasileirinho perneta. Aliás, muitos episódios atribuídos ao Saci no inquérito de Monteiro Lobato parecem ter elementos europeus, como a história da “segunda, terça, quarta”, no Depoimento de “Brasilophilo”.

Há muitos mitos indígenas de um ser de uma perna só, afiada, a princípio ameaçador, mas que se transforma às vezes em espírito, e vem em auxílio da humanidade. É o caso, por exemplo, de Santi, o perneta, figura mitológica dos Suruí de Rondônia; de um ser semelhante nos Gavião-Ikolen e em inúmeros outros povos das Américas. A analogia com o Saci não seria forçada.

A ideia mais difundida, e não apenas porque é negro, é que Saci vem da África. Lydia Cabrera, por exemplo, a grande especialista em religião africana em Cuba, descreve o Dono das Ervas, Ossain, o orixá bruxo, médico e clarividente, como sendo estropiado, coxo e manco, brincando e pulando numa perna só; aparece de noite aos viajantes, pedindo fogo para seu pito, e é muito temido.
O livrinho encantador de Olívio Jekupé, uma ficção sobre o Saci, inspira-se nas histórias contadas por muitos tios e tias seus que vivem nas terras Guarani. A novidade trazida por Olívio é a insistência num Saci indígena – foi sua descoberta nas aldeias. A epígrafe no livrinho reforça seus conhecimentos: é uma citação de Egon Schaden, grande estudioso da cultura Guarani, extraída do livro Aspectos da Cultura Guarani, em que o antropólogo menciona que o Saci já era encontrado nos Tupinambá litorâneos, e fala da figura de Kambaí, o Saci que documentou nos Guarani do Araribá, meninote de duas pernas1.

O Saci fora do Brasil

No Paraguai é o Yasí Tere, Yasí Yatere, Yasí Ateré,  não é o negrinho e não se fala na carapuça vermelha. Transvia os transeuntes e possui uma varinha mágica, atributo europeu das Fadas e os "gênios" orientais. Na região missionária argentina o Yasy-Yateré leva um bastão de ouro em sua mão, rapta crianças de peito e as leva para o monte. Informa Ambrosetti que o Yasy-Yateré rapta também moças e as leva para os montes. O filho desse amores será Yasy-Yateré igualmente. As crianças recuperadas ao Yasy ficam atoleimadas e têm ataques epiléticos no aniversário do rapto. Quem conseguir arrancar o bastão de ouro ao Yasy terá todas as coisas.

O Yasi argentino reúne os atributos do seu irmão paraguaio e uruguaio. É anão, vermelho, usa bastão de ouro ou uma varinha encantada. Varinha ou bastão dariam ao possuidor o poder de mandar no Yasi, como no Brasil se dá com quem tome a carapuça vermelha que cobre a carapinha do Saci.

F. C. Mayntzhusen em seus estudos sobre os pigmeus nas lendas guaranis alude a tradição entre os Guaranis da existência de anões fabulosos. O padre José Guevara fala em pigmeus dos Chiriguanos, no Chaco. Os Tapietés disseram que sabiam onde vivia um povo anão, de índole tranquila e falando guarani. Os Guaiaquis dão notícias dos Yakãrendis, Os Kainguás falam nos Yakãundy, etc. Nessas fontes os elementos não se aglomeram informemente. Bastões mágicos, raptos de crianças, causas de loucura, vida na floresta ou nos montes, mas todos são unânimes na versão física do duende: pequenino, vermelho e ágil, não se fala que só tenha uma perna.

Kodolde é uma espécie de Saci alemão, de Curilo da Bretanha, um diabinho irrequieto, buliçoso, agitado, atrapalhador do sossego doméstico nas residências onde ele e fixa. Agradado dos donos da casa e servos, ajuda-os, lava o soalho, limpa os móveis, arranja a cozinha, afugenta ratos e gatos. Susceptível ao extremo, zanga-se facilmente e torna a vida insuportável pelas diabruras ininterruptas. Quebra louça, queima a comida, abre as torneiras, suja os gavetões de roupa, emporcalha as salas, faz cair, nas horas de servir à mesa, os criados. E o Kodolde ri, delicado, como o Saci paulista ou mineiro. Assim também Sébillot podia ressuscitar o Gobelin, os Lutinos, os Farfadets, demônios familiares, mais travessos que malvados, incapazes de matar mas satisfeitíssimos em assombrar alguém.

Os etnógrafos europeus registraram compassivamente o Saci porque a Europa está cheia de Cambions, Elfos, Empusas, Farfadets, Góles, Gobelins, Kleudes, Koboldes, Lamias, Larvas, Lemures, Brocolacos, Lutins, Vauverts, Willis, Courils, Pulpicans, etc., um mundo atordoante de pequeninos seres poderosos, perversos ou atormentadores, vivendo derredor dos homens civilizados e orgulhosos de sua civilização.
O Saci no Brasil

Não havendo o Saci-Pererê no norte nem no nordeste e sim constando com frequência segura no folclore do sul brasileiro; tendo tradições palpitantes e vivas em todos os países que circundam o Brasil, especialmente nas regiões outrora povoadas pelos Tupi-guaranis, de cujo idioma nasce o nome, coincidindo ainda sua jornada sul-norte com o roteiro das migrações tupis, tenho o Saci como criação dessa raça e trazida ao Brasil por ela. Ausente o Saci dos mais minuciosos cronistas do Brasil-colonial, omissão injustificável se a sua influência fosse semelhante à do Curupira, Hipupiaras, Anhangas, Juruparis, Caaporas, etc., deduz-se que o mito não estava popularizado nos primeiros séculos da colonização. O Saci aparece em fins do século XVIII e tem sua vida desenvolvida durante o XIX. Podemos, até prova em contrário, situar sua aparição há uns duzentos anos, vindo do sul, pelo Paraguai-Paraná, justamente a zona indicada como tendo sido o centro de dispersão dos Tupi-Guaranis.

Em sua subida para o norte o Saci foi assimilando os elementos que pertenciam ao Curupira, ao Caapora, confundindo-se com Matitaperê, mito ornitologico. Do curupira, além de desmanchar nós e tecidos atirados pelo perseguido, o Saci herdou também o direito de desnortear o viajante, fazendo-o perder-se na floresta. Do Caapora, Caipora, dá assobio, surra os cães, atrasa negócios, pede fumo e pode proteger favoritos. Aprendeu a montar, fazendo rédeas das crinas e cansando os animais.

A perna única do Saci-Pererê, de cuja ausência parece lamentar-se muito raramente, é recordação clássica do fabulário europeu, dos seres estranhos como os Ciapodos, Monocoles, Trolls. A carapuça vermelha do Saci-Pererê é a transformação da cabeleira rubra do Curupira. Sem recorrer ao fabulário africano, sabemos popularíssima na Europa a tradição das casquetes vermelhas como atributos sobrenaturais. Em Hildesheim, no Saxe, durante o século XII, vivia calmamente na cidade um duende chamado Hecdakin, conhecido como sendo o espírito do boné. Este boné era vermelho e Hecdkin não o tirava da cabeça. Em Portugal há "o da carapuça vermelha", como um dos nomes mais familiares do Demônio, segundo Leite de Vasconcelos em Tradições Populares de Portugal. A influência portuguesa no mito do Saci-Pererê é maior que julgamos, especialmente como duende noturno. A mão furada, com que aparece em vários depoimentos paulistas no "inquérito" de 1917, é apenas uma reminiscência do "Pesadelo", o Fradinho da Mão Furada, que usa também carapuça escarlate. Informa J. Leite de Vasconcelos.

Em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, o Saci-Pererê deixa, como vestígio indiscutível das sua habilidades de equitação, as crinas do animal entrançadas como teias, um emaranhado impossível de se desfazer e consertar. O uso do fumo é que julgo bem brasileiro. O Yací Yateré paraguaio, uruguaio, argentino, não pede fumo e sim fogo ou alimentos. No Brasil o indígena ensinou o colono a fumar. Nos contos africanos é banal o pedido de tabaco pelos entes sobrenaturais.

Mito de existência relativamente moderna, o Saci-Pererê substituiu na popularidade literária ao Curupira, registrado pelo venerável Anchieta. É hoje o demônio inseparável das estórias, das anedotas, dos causos, das conversas matutas, caipiras e fazendeiras, vago, assombrador, inesperado, malicioso, humorista, atarantador, diluído na lembrança emocional dos que já não têm a idade espiritual para temer-lhe o espantoso encontro...2
Saci-Pererê

O Saci-Pererê é um duende idealizado pelos indígenas brasileiros como apavorante guardião das florestas. A princípio ele era um curumim perneta, de cabelos avermelhados, encantador de crianças e adultos que pertubava o silêncio das matas.
Em contato com o elemento africano tornou-se negro, ganhou um gorro vermelho e um cachimbo na boca. Em alguns lugares, como às margens do rio São Francisco, adquiriu duas pernas e a personalidade de um demônio rural que faz travessuras e gosta de enganar pessoas. É o famoso Romão ou Romãozinho.
Na zona fronteiriça ao Paraguai ele é um anão do tamanho de um menino de 7 a 8 anos, que gosta de roubar criaturas dos povoados e largá-las em lugar de difícil acesso. Talvez devido aos vestígios culturais trazidos pelos bandeirantes em suas andanças pelo sul do Brasil, o saci mineiro recebeu, além dessas qualidades do "Yaci-Yaterê" guarani, um bastão, laço ou cinto, que usa como a "vara de condão" das fadas européias. Sincretizado freqüentemente como o capeta, tem medo de rosários e de imagens de santos. Quando quer desaparecer, transforma-se num corrupio de vento3.

O Sacy-Perêrê: resultado de um inquérito é fruto de uma pesquisa promovida por Monteiro Lobato em janeiro de 1917, nas páginas do "Estadinho", apelido da edição vespertina de O Estado de S. Paulo. Sob o título de "Mitologia brasílica", convidava os leitores a colaborar com informações sobre o duende "genuinamente nacional". Procurando fixar características e conteúdo lendário do saci, o inquérito utilizava uma técnica de coleta de dados até então inédita, recorrendo ao questionário como ferramenta de investigação. A grande receptividade da iniciativa levou Lobato a organizar os depoimentos em livro.

31 de Outubro : Dia Nacional do SACI PERERÊ

O Dia Nacional do Saci Pererê foi instituído no dia 31 de outubro através do projeto 2762/2003. No artigo segundo, ficou estabelecido a participação do Poder Público na promoção e divulgação desta lei: "Apoiará as iniciativas, programas e atividades culturais de entidades públicas, em cooperação com a sociedade civil, que poderão contribuir para a celebração do folclore brasileiro, através do Saci e de seus amigos (Iara, Curupira, Boitatá e tantos outros)".

Já existem leis sobre o dia do Saci em São Paulo (São Paulo, São José dos Campos e São Luís do Paraitinga) e no Espírito Santo (Vitória). Em São Paulo, além das leis municipais, foi aprovada também uma lei estadual.


Fontes : 1- Texto extraído do prefácio escrito por Betty Mindlin, antropóloga, pesquisadora do IAMÁ – Instituto de Antropologia e Meio Ambiente, para o livro O Saci Verdadeiro de Olívio Jekupé – Londrina: Ed. UEL, 2000
2- Geografia dos Mitos Brasileiros / Luís da Câmara Cascudo. - São Paulo: Global, 2002
3- Folclore Brasileiro / Nilza B. Megale - Petrópolis: Editora Vozes, 1999.
Ilustrações de J. Lanzellotti


Saci-Pererê

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