Terra Brasileira
Brasil Folclórico
folclore
modus Transporte
artesanato culinária
literatura Contos lendas mitos
música danças religiosidade tipos ofícios contatos
Loja

Mito Nacional
O Saci-Pererê
Mitos Gerais

Mitos Regiões

Norte
-Caipora
-O Curupira
-Jurupari
-Macunaima
-A Iara
-Outros Mitos
 Nordeste
 Centro-oeste
 Sudeste
 Sul
















Caapora / Caipora

É o Curupira tendo os pés normais. De caá, mato, e pora, habitante, morador.

O padre João Daniel, missionário no Amazonas, 1780-97, informa sobre a significação primitiva do vocábulo: “Do que se infere que o diabo disfarçado de figura humana, Coropira, tem muita comunicação com os irmãos mansos e já aldeados; e muito mais com os bravos, a que chamam Caaporas, isto é, habitantes do mato”. (“Tesouro Descoberto no Rio Amazonas”, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, II, 482).
Caipora O Curupira é um caapora, residindo no interior das matas, nos troncos das velhas árvores. De defensor de árvores passou a protetor da caça, talqualmente sucedeu à Diana greco-romana. Discute-se a existência do Caapora quinhentista, contemporâneo do Curupira, e não simples fusão posterior. Frei André Thevet (em inédito citado por Métraux, La Religion, 63) informa o pavor dos indígenas a um “esprit que les assiège durant la nuit”, chamado Agnan, Raa-Onan ou Kaa-Gerre. Jean de Léri denomina-o Kaegerre.

Gonçalves Dias (Brasil e Oceânia, 106) traduz facilmente Kaa, mato, e Gerre, ou Guerre,
corrutela de Guara, habitante, morador. O mesmo que pora, Kaagerre é informe e ameaçador como o Curupira de Anchieta. Os indígenas defendiam-se andando com um tição flamejante durante as jornadas noturnas. 

Esses fantasmas da noite fogem da claridade que os homens dominam. Negros e orientais viajam com fogos, amedrontando os bichos fabulosos que povoam as horas escuras.
É um mito tupi-guarani, emigrando do Sul para o Norte. 
Couto de Magalhães fixou-o como um grande homem coberto de pêlos negros por todo o corpo e cara, montado sempre num porco de dimensões exageradas.
Émile Allain cita esse “géant velu monté sur un énorme porc sauvage”.

Ambrosetti, estudando o Caapora da Argentina, faz coincidir o desenho: “es un hombre velludo, gigantesco, de gran cabeza, que vive en los montes, comiendo crudos los animales que el hombre mata y luego no encuentra”. (Supersticiones, 87).

Em qualquer direção, pelo interior do Brasil, o Caapora-Caipora é um pequeno indígena, escuro, ágil, nu ou usando tanga, fumando cachimbo, doido pela cachaça e pelo fumo, reinando sobre todos os animais e fazendo pactos com os caçadores, matando-os quando descobrem o segredo ou batem número maior das peças combinadas.  
Caipora
O Caipora pequeno e popular é o velho Curupira, sem a influência platina que Couto de Magalhães aceitou, e possivelmente representa o Caapora inicial, o selvagem apenas, agigantado pelo medo que espalhava no mistério da floresta. O próprio Couto de Magalhães, querendo escrever em nheengatu gigante morador do mato, grafou Caapora-assu. Se o Caapora fosse um gigante, dispensaria o sufixo açu, aumentativo.

Por todo o nordeste do Brasil duas imagens verbais pintam o duende: fumar como o Caipora e assobiar como o Caipora. Dizem, nessa região, comumente o Caipora fazendo-o sempre uma indiazinha, amiga do contato humano, mas ciumenta e feroz quando traída. Quem a encontra fica infeliz nos negócios e tudo quanto empreender.

Do Maranhão para o sul o Caipora é o tapuia escuro e rápido. No Ceará, além do tipo comum, aparece com a cabeleira hirta, olhos de brasa, cavalgando o porco, caititu, e agitando um galho de japecanga (Smilax). Engana os caçadores que não lhe trazem fumo e cachaça, surra impiedosamente os cachorros.

Em Pernambuco (Barbosa Rodrigues) apresenta-se com um pé só, e este mesmo redondo, como o pé-de-garrafa, e o segue o cachorro Papa-Mel.

Na Bahia é uma cabocla quase negra ou um negro velho, e também um negrinho em que só se vê uma banda (Silva Campos), lembrando os Ma-Tébélés africanos (Blaise Cendrars) ou os Nisnas clássicos, evocados por Gustave Flaubert na Tentação de Santo Antão

Em Sergipe, quando não o satisfazem, mata o viajante a cócegas.
No Extremo Sul reaparece o homem agigantado. No Rio Grande do Sul (J. Simões Lopes Neto, Lendas do Sul, 89, Pelotas, 1913).

No Paraná é também um gigante peludo.

Em Minas Gerais e Bahia, ao longo do rio São Francisco, é um “caboclinho encantado, habitando as selvas”, com o rosto redondo, um olho no meio na testa (Manuel Ambrósio).

Por onde emigra, o nordestino vai semeando suas figuras e crenças. O Caipora, ou a Caipora, popularizadíssimo em sertão, agreste e praia, vai alargando a área geográfica do domínio. 
No Chile há o Anchimallén, anão guia e protetor dos animais, ligando-se aos mitos ígneos, porque se pode transformar em fogo-fátuo. O Anchimallén entra em acordo com caçadores, mas exige sangue humano nos contratos. Dá igualmente infelicidade e anuncia a morte. Há várias semelhanças com o Yastay argentino, guiando as manadas de guanacos e vicunhas, defendendo-as da dizimação ou deixando-as matar se o caçador lhe oferece coca e farinha de chaclión (farinha de milho). O mesmo sucede nas regiões da erva-mate com a Coamanha, mãe-da-erva, apaixonando-se, auxiliando, enriquecendo o namorado, mas perseguindo e vingando bestialmente seu amor abandonado.

O Caipora, com o contato do focinho do porco, da vara de ferrão, do galho de japecanga ou da ordem verbal imperativa, ressuscita os animais mortos sem sua permissão, apavorando os caçadores.
Não conheço nem creio que exista ligação do mito do Caipora com o Batatão, o Boitatá ígneo. 
Bibliografia: Couto de Magalhães, O Selvagem, 137; Gonçalves Dias, Brasil e Oceânia, 105;
Beaurepaire Rohan, Dicionário de Vocábulos Brasileiros; Barbosa Rodrigues, 
Poranduba Amazonense, no estudo do “Kurupira”; Manuel Ambrósio, Brasil Interior, 71; Cornélio Pires, Conversas ao Pé do Fogo, 154; Luís da Câmara Cascudo, Geografia dos Mitos Brasileiros, com registro de depoimento de caçadores contemporâneos.
Donald Pierson, Brancos e Pretos na Bahia, 324-325, São Paulo, 1945, encontrou a versão que “o caipora pode ser afastado mastigando-se alho”, e registra um episódio que é variante do Mapinguari, em Silva Campos, LXXVI: “O Caipora existe mesmo. Assim como um soco no braço da gente deixa sinal vermelho, o Caipora também deixa sinais. Conheço um imigrante português, homem honrado e digno de fé, que foi avisado para não caçar às sextas-feiras. Ele riu-se do aviso e foi ao mato procurar jacus: achou um e atirou. O jacu voou para ele com as garras estendidas e arranhou-o cruelmente. Ele atirou outra vez. O jacu voltou e arrancou-lhe os olhos. Então ele ouviu uma voz dizer: “Você sabe que não deve caçar nas sextas-feiras”. Era o Caipora. O homem voltou cambaleando para casa e caiu sem sentidos na porta. Conheci bem esse homem”.
Essa interdição da caça nas sextas-feiras, como na estória do Mapinguari do rio Purus, referente aos domingos, identifica a influência católica da catequese.
Ver Curupira, Região Norte e Ossonhe, Região Nordeste.


Fonte : Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data


Saci-Pererê

Deixe seu comentário: Deixe seu comentário:
Correio eletrônico Facebook
Livro de visitas Twitter