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Está certo, respondeu o Curupira,
empreste-me sua faca. O Caçador entregou-lhe a faca e afastou-se o mais que pôde, temendo levar uma facada. O Curupira, porém, estava sendo sincero. Enterrou a faca no próprio peito e tombou, sem vida. O Caçador não esperou mais, disparou pela floresta com tal velocidade que deixaria para trás os bichos mais velozes... Quando chegou à aldeia, estava com a língua de fora e prometeu a si mesmo não voltar nunca mais à floresta. Pensou: "Desta escapei. Noutra é que não caio" Durante um ano, o indígena não quis saber de entrar na mata. Quando lhe perguntavam por que não saía mais da aldeia, ele se desculpava, dizendo estar doente. O Caçador tinha uma filha que era muito vaidosa. Como haveria uma festa dentro de poucos dias, ela pediu ao pai um colar diferente de todos os que ela já tinha visto. O indígena, pai dedicado, começou a pensar num modo de satisfazer o desejo da filha. Lembrou-se, então, dos dentes verdes do Curupira. Daria um bonito colar, sem dúvida. Partiu para a floresta e procurou o lugar onde o gênio havia morrido. Depois de algumas voltas, deu com o esqueleto meio encoberto pelo mato. Os dentes verdes brilhavam ao sol, parecendo esmeraldas. Conseguindo vencer o receio, apanhou o crânio do Curupira e começou a bater com ele no tronco de uma árvore, para que se despedaçasse e soltasse os dentes. Imaginem a sua surpresa quando, de repente, viu o Curupira voltar à vida! Ali estava ele, exatamente como antes, parecendo que nada havia acontecido! Por sorte, o Curupira acreditou que o Caçador o ressuscitara de propósito e ficou todo contente: |
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- Muito obrigado! Você devolveu-me
a vida e não sei como agradecer-lhe!
O indígena percebeu que estava salvo e respondeu que o Curupira não tinha nada que agradecer, mas ele insistia em demonstrar sua gratidão. Pensou um pouco e disse: - Tome este arco e esta flecha. São mágicos. Basta que você olhe para a ave ou animal que deseja caçar e atire. A flecha não errará o alvo. Nunca mais lhe faltará caça. Mas, agora, ouça bem: jamais aponte para uma ave ou animal que esteja em bando, pois você seria atacado e despedaçado pelos companheiros dele. Entendeu? |
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O indígena disse que sim e desde aquele
momento não mais lhe faltou caça. Era só atirar a
flecha e zás! O bicho caía. Tornou-se o maior caçador
de sua tribo. Por onde passava, era olhado com respeito e admiração.
Um dia, ele estava caçando com outros companheiros que não tinham mais palavras para elogiá-lo. O indígena sentiu-se tão importante que, ao ver um bando de pássaros que se aproximava, esqueceu-se da recomendação do Curupira e atirou... Matou somente um pássaro e, como o Curupira avisara, foi atacado pelo bando enlouquecido pela perda do companheiro. De seus amigos, não ficou um: dispararam pela floresta, deixando-o entregue à própria sorte. O pobre indígena foi estraçalhado pelos pássaros. A cabeça estava num lugar, um braço no outro, uma perna aqui, outra longe... O Curupira ficou com pena dele. Arranjou cera e acendeu um fogo para derretê-la. Depois recolheu os pedaços do Caçador e colou-os com a cera. O indígena voltou à vida e levantou-se: - Muito obrigado! Não sei como agradecer-lhe! - Não tem o que agradecer, respondeu o Curupira, mas preste atenção. Esta foi a primeira e ú1tima vez que pude salvá-lo! Não beba, nem coma nada que esteja quente! Se o fizer, a cera se derreterá e você também! Durante muito tempo, o indígena levou uma vida normal. Ninguém sabia do acontecido. Um dia, porém, sua mulher lhe serviu uma comida quente e apetitosa, tão apetitosa que o indígena nem se lembrou que a cera poderia derreter-se. Engoliu a comida e pronto! Não só a cera se derreteu, mas também o próprio indígena.2 |
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