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Anhanga

Anhanga e não anhangá, espectro, fantasma, duende, visagem.
Há Mira-anhanga, Tatu-anhanga, Suaçu-anhanga, Tapira-anhanga, isto é, visagem de gente, de tatu, de veado e de boi. Em qualquer caso e qualquer que seja, visto, ouvido ou pressentido, o anhanga traz para aquele que o vê, ouve ou pressente certo prenúncio de desgraça, e os lugares que se conhecem como freqüentados por ele são mal-assombrados.
Há também Pirarucu-anhanga, Iurará-anhanga, etc., isto é, duendes de pirarucu e tartaruga, que são o desespero dos pescadores, como os de caça o são do caçador. (Stradelli, Vocabulário).
É um dos mitos mais antigos do Brasil colonial, registrados pelos cronistas da época.
Os padres Manuel da Nóbrega, José de Anchieta, Fernão Cardim, disseram-no um ente malfazejo. Jean de Lery chamou-o aygnhan. Hans Staden, 1557, diz que os indígenas “não gostam de sair das cabanas sem luz, tanto medo tem do diabo, a quem chamam ingange, o qual freqüentemente lhes aparece.”
Outras definições poderão ser encontradas no Dicionário do Folclore Brasileiro de Câmara Cascudo. 

Bradador

Mito do interior de São Paulo e de Santa Catarina. Berrador, Barrulheiro, Bicho Barulhento. “Que ninguém ainda viu, porém, cuja voz se ouve à noite e que é tão perverso que mata aquele que o vir. É a replica brasileira à Zorra de Odeloca, à Zorra Berradeira do Algarve, responsável pelos gritos noturnos, como o argentino Kaparilo, de Santiago del Estero. O Bradador no Brasil ainda não tomou forma especial, ou não se decidiu pelas que lhe apontam, os assombrados ouvintes de seus berros horrendos.
Ver Gritador, Região Nordeste.

Canhoto

Nome do diabo, um dos mais populares e ligado, na maioria dos casos, aos acontecimentos
amorosos, seduções, bastardia. Seria Canhoto uma réplica católica do Asmodeu. Apesar do nome, canhoto, esquerdo, desastrado, é um demônio hábil na sua especialidade conquistadora. Luís Edmundo (O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis, 340, Rio de Janeiro, 1932): “O Canhoto! Monstro com o dom de transformar-se em cavalheiro capaz de seduzir a melhor dama, mas sem poder dissimular dois pés de pato, amplos e feios, duende explosivo que arrebentava, em cacos, diante de qualquer cruz, deixando, com o estampido muito grande, uma nuvem azulada e um cheirinho de enxofre.”
Cavalo de Três Pés

Animal assombroso que apavora as estradas desertas. Veiga Miranda alude a esse mito no
romance Mau-Olhado, 132, São Paulo, 1925. “É um cavalo sem cabeça, com asas e três pés, que aparece à noite nas encruzilhadas, correndo, dando coices e voando. (Bauru, São Paulo). É um cavalo sem a pata dianteira, que imprimi no barro três pegadas fundas, ataca os viajantes pelas estradas; e aquele que pisar em seu rastro será imensamente infeliz (Capital, São Paulo). É uma das transformações do Saci, em forma de cavalo de três pés, que corre pelas estradas assustando todos os que encontra (Ribeirão Preto, São Paul).”

Cavalo Fantasma

Ninguém o vê, mas o sente pelas passadas firmes. Uma luz clara, que dele emana, desenha na rua o seu vulto... As pisadas tornam-se mais fortes, assim como também a luz, à proporção que o cavalo se aproxima do observador (ou vidente). Diminui o clarão e o ruído dos passos, à medida que dele se afasta do animal. Passeia em certas ruas de Angra dos Reis, sempre a horas caladas de certas noites.

Cavalo do Rio

É um cavalo encantado que domina o rio São Francisco. Tem um poder quase igual ao Caboclo do Rio, perseguindo embarcações, virando-as, alagando a carga, empobrecendo aqueles a quem dedica sua antipatia. Ouvem-lhe os relinchos atordoadores e a bulha rítmica das patadas nas margens. O melhor amuleto afugentador do Cavalo do Rio é sua própria representação na proa da embarcação.
Noraldino Lima alude a essa crendice (No Vale das Maravilhas, 127, Belo Horizonte, 1925), falando na “embarcação, pesadíssima muitas vezes, com a guarnição, o toldo, a cordoalha, a carga e a cabeça de cavalo, recurva e grotesca, a desafiar, guiadora, os maus-olhados da viagem.”

Corpo-seco

Homem que passou pela vida semeando malefícios e que seviciou a própria mãe. Ao morrer nem Deus nem o Diabo o quiseram; a terra o repeliu, enojada da sua carne; e, um dia, mirrado, defecado, com a pele engelhada sobre os ossos, da tumba se levantou em obediência ao seu fado, vagando e assombrando os viventes nas caladas da noite (Leôncio de Oliveira, Vida Roceira, 12, citado por Basílio de Magalhães, 109). 
Mulheres que teve relações com o Demônio.
Veiga Miranda (Mau-Olhado, São Paulo, 1925): “Mulheres que viraram lobisomem, outras que dormiam com o capeta, sem saber, e depois apareciam com moléstias horríveis, descandando a pele toda. Essas relações com o Tinhoso trazia às vezes, em conseqüência, uma enfermidade estranha: o corpo da mulher ia definhando, ia diminuindo de tamanho, até ficar como o de uma verdadeira criança. A criatura possuída do demônio, se morria, era como lobo; nenhum bicho, nem os corvos, nem as formigas, nem as vespas, lhe atacaria o cadáver. Enterrada, à própria terra, anos e anos, repugnava operar a decomposição das suas carnes”. 
A tradição é européia. Os amaldiçoados e mortos sem penitência não serão desfeitos pela terra. O corpo seca. A deambulação é convergência do mito das almas-penadas.

Cramondongue

Assombração de Minas Gerais. “... e o Cramondongue, que é um carro de bois que roda à
disparada, sem precisar de boi nenhum para puxar.” (J. Guimarães Rosa, Sagarana, 174, Rio de Janeiro, 1946).

Cresce-Míngua

É o fantasma mais popular, porque existe em todos os países conhecidos, e não há relação ou pesquisa folclórica que deixe de registrar sua amável presença assombradora. 
Em Caracas havia uma variante, o Enano de la Torre, que aparecia pequenino e sereno e
bruscamente ficava da altura da torre da catedral, fazendo perder os sentidos às raras testemunhas dessa elástica e sobre-humana personalidade. 
Entre os africanos que vivam no Brasil do séc. XIX e princípios do XX falava-se em Gunucô, que tinha a mania de aparecer num bamburral, estirando-se como um coqueiro e minguando como um pé de coentro.
Na capital de São Paulo o Cresce-Míngua é duplo. “São dois homens pequeninos que ficam nas estradas junto às porteiras. Quando alguém deles se aproxima, eles aumentam de tamanho, chegando a atingir oito metros de altura, e desaparecendo nas curvas. Consta que as pessoas que o vêem terão má sorte.”
Em Teresina (Piauí), na Praça Conselheiro Saraiva (antiga “das Dores”), há ou havia um Cresce-Míngua, chamado Não se pode.
Ver Num-si-pode, Região Nordeste. 

Gorjala

“É um gigante preto e feio, que habita as serras penhascosas. A sua ferocidade lembra a do Polifemo de Homero, do qual é um descendente criado na imaginação sertaneja. Anda com as suas passadas imensas pelas ravinas, escarpas e grotões. Quando encontra um indivíduo qualquer, mete-o debaixo do braço e vai comendo-o às dentadas! Outrora, muita vez, quando um explorador desaparecia nos lugares ínvios, desconhecidos, por ter tombado num despenhadeiro profundo ou por ter sido devorado por índios, os seus companheiros afirmavam que o Polifemo Gorjala o devorara às dentadas...
Os seringueiros da Amazônia conhecem o Gorjala sob a forma do gigante batalhador, encouraçado de casco de tartaruga, chamado Mapinguari”.

Gunucô

É a divindade das florestas, quer dizer fantasma. Só aparece ou se manifesta uma vez por ano, salvo invocação para consulta prévia. Em suas manifestações, num bamburral, aumentando e diminuindo de tamanho, ele só aparece aos homens que o recebe com trajos especiais. Dá consultas, prevê os males e ordena observação de preceitos contra o que está para acontecer. É santo pertencente à tribo dos tapas, e o nagô dá-lhe o nome de Ourixá-ô-cô (Manuel Querino, Costumes Africanos no Brasil, 49). Obatalá ou Orixalá... é também invocado sob as denominações de Orixá-Guinam e Gunocô (Artur Ramos, O Negro Brasileiro, I, 32). 

Mão-de-Cabelo
 

Entidade fantástica, de forma humana e esguia, tendo as mãos constituídas de fachos de cabelos. Anda envolto em roupagem branca. É o espantalho das crianças no sul da Província de Minas Gerais. (Da época em que Minas Gerais era uma Província).
Aos meninos que costumam mijar na cama era muito empregada esta frase caipira: “Óia, si neném mijá na cama, Mão-de-Cabelo vem te pegá e cortá minhoquinha de neném.”
(Vale Cabral, in Antologia de Folclore Brasileiro, 274).

Mãozinha-Preta

Assombração em São Paulo e que alcança a fronteira de Minas Gerais e o Estado do Rio de Janeiro. É uma pequenina mão negra, solta no ar, fazendo todos os trabalhos de casa, com uma rapidez, resistência e força miraculosa. Também, conforme ordens, castiga, bate, surra e termina a tarefa, quando lhe dizem: Chega, Mãozinha de Justiça!
Como a mão é negra, não castigava nem atormentava os escravos. Daí sua popularidade entre eles. (Cornélio Pires, Conversas ao Pé do Fogo, 146-148, 3.ª Ed., São Paulo, 1927; Folclore Nacional, Centro de Pesquisas Mário de Andrade, sep. da Revista do Arquivo Municipal, CXVII, 22, São Paulo, 1948).
Mãos errantes que castigam e acariciam, ajudam o serviço caseiro são conhecidas pela Europa e América (J. Leite de Vasconcelos, Tradições Populares de Portugal, 290-292, Porto, 1882).

Mulher de Duas Cores

É uma assombração, visagem, fantasma, que aparece de dia, na luz do sol, nas estradas de Minas Gerais, fronteira com São Paulo, ou dentro das pequenas matas.
Veste roupa de duas cores, branco-preto, azul-encarnado, azul-amarelo, etc., e não fala, não canta, não resmunga. Limita-se a atravessar caminho, com passo surdo e leve, pisando sem usar o calcanhar, silenciosa, sem olhar para os lados nem para ninguém. Corresponde ao medo, miêdo português, nas raias de Espanha, espalhando pavor pela simples presença.
“Quando senão quando, passou rente comigo ua mulher estrambótica, muito magra, vestido de duas cor; pro lado direito era azul inteirinha, inté o rumo do nariz; pro lado esquerdo, amarela só; se o azul fosse mais tapado um quêzinho, a mulher tava do jeito de uma águia imperial. Carregava trouxinha de roupa debaixo do braço direito, e caminhava de pressa, quaji de carreira, mas porém só inté no meio dos pés, sem botá os carcanhar no chão”. (Valdomiro Silveira, Mixuangos, 207, Rio de Janeiro, 1937).

Onça Borges

Onça fantástica de uma zona mineira do rio São Francisco, alargando a área de presença até a região das fazendas de criar. 
Conta-se ter sido uma transformação do misterioso vaqueiro Ventura, não mais voltando a forma anterior pela covardia do companheiro, que não teve coragem de colocar na boca da onça um molho de folhas verdes, indispensável para o retorno ao humano. 
A onça Borges se tornou a mais violenta e afoita das onças e deu trabalho heróico para matá-la. Reaparece, às vezes, continuando as estrepolias contra o gado miúdo e graúdo.
Geografia dos Mitos Brasileiros, 411-415; Manuel Ambrósio, Brasil Interior, 30-50.

Onça Cabocla

Monstro encantado, que se metamorfoseia em gente, ou melhor, em velha tapuia. Alimenta-se de pessoas, tendo preferência pelo fígado e pelo sangue das vítimas; folclore norte-mineiro do vale do São Francisco. (Saul Martins, Belo Horizonte).

Onça-Maneta

É um animal fabuloso, caracterizado pelo rastro. Onça que perdeu uma das patas dianteiras. É de espantosa ferocidade, força incrível e mais ágil, mais afoita, mais esfomeada que outra qualquer de sua espécie. Aparece inopinadamente, atacando sempre rebanhos, caçadores, viajantes, num arranco desesperado e brutal, como se não comesse há muitos meses. Naturalmente a origem foi uma onça, que, ferida numa pata ou tendo-a decepada em luta, conseguiu fugir aos caçadores e da matilha de cães e, por algum tempo, ferida e doida de raiva, guerreara fazenda e roceiros, numa despedida heróica.
Veiga Miranda citou-a em São Paulo (Mau-Olhado, 132, São Paulo, 1925).
Maior Registro em “Folclore Nacional”, 18-19, sep. de Revista do Arquivo Municipal, CXIX, São Paulo, 1948.
Ver Onça da Mão Torta, Região Centro-Oeste.

Fonte : Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data


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