Terra Brasileira
Brasil Folclórico
folclore
modus Transporte
artesanato culinária
literatura Contos lendas mitos
música danças religiosidade tipos ofícios contatos
Loja

Ofícios e Técnicas
Contribuição Indígena
Contribuição Africana
Ciclo do Açúcar
 -Canavial
 -Engenhos e Usinas
Ciclo do Gado
Ciclo do Ouro
Ciclo do Café
Produtos da Terra
Primeiras Fábricas
Ofícios Urbanos

Ciclo do açúcar
O Ciclo do Açúcar criou vários tipos de ofícios: servem ao senhor do engenho, em vários ofícios, além dos escravos de enxada e fouce que têm nas fazendas e na moenda, e fora os mulatos e mulatas, negros e negras de casa, ou ocupados em outras parte, barqueiros, canoeiros, calafates, carapinas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores.
Cada senhor de engenho, tem mais, necessariamente:
um mestre de açúcar;
um banqueiro e um contrabanqueiro:
um purgador;
um caixeiro no engenho e outro na cidade;
feitores nos partidos e roças, um feitor-mor do engenho;
e para o espiritual um sacerdote seu capelão, e cada qual destes oficiais tem soldada.
Engenho de Cana-de-açúcar
Moinho de cana-de-açúcar - Minas Gerais - Ilustração de Rugendas

Engenho de Cana-de-açúcar

O primeiro engenho construído no Brasil é devido às ordens de Martim Afonso de Sousa (1533) na capitania de São Vicente. Chamou-se engenho São Jorge. Mais tarde, adquirido pelo alemão Erasmo Esquert, passou a ser conhecido como S. Jorge dos Erasmos. Em 1535, próximo de Olinda (Pernambuco) era construído outro importante engenho, chamado Nossa Senhora da Ajuda ou Engenho Velho, de propriedade de Jerônimo de Albuquerque.

Pero de Magalhães Gandavo, escrevendo possivelmente na sexta década do século XVI, nos relaciona os engenhos por esta época existentes no Brasil:

ltamaracá - um engenho e dois em construção
Pernambuco - vinte e três engenhos, dos quais três ou quatro em construção
Bahia de Todos os Santos - dezoito engenhos
Ilhéus - oito engenhos
Porto Seguro - cinco engenhos
Espírito Santo - um engenho
São Vicente - quatro engenhos


Gandavo fornece assim um total de 62 engenhos de açúcar, sendo cinco ou seis em construção.
Engenho de cana-de-açúcar
Engenho de cana - Ilustração de Henry Koster

Havia os engenhos "trapiches”, movidos por tração animal (bois ou cavalos); outros, denominados “engenhos reais", eram movimentados por força hidráulica; dividiam-se em "copeiros", "meio-copeiros" e "rasteiros", conforme a altura da queda d’água.

Deve-se ressaltar que os engenhos reais eram bem mais produtivos do que os "trapiches", embora, em épocas de seca duradoura, se mostrassem menos eficientes.  Os "trapiches" eram movidos por sessenta bois, dispostos em turmas de doze, que faziam revezamento, trabalhando um total de quinze a dezesseis horas em vinte e quatro.

Ambrósio Fernandes Brandão, autor dos "Diálogos das Grandezas do Brasil" (1618), afirma-nos que um bom engenho devia contar, no mínimo, com cinqüenta escravos, quinze juntas de bois, além de muita lenha e dinheiro.

O engenho constituía um organismo completo e que, tanto quanto possível, se bastava a si mesmo. Tinha capela, onde se rezavam as missas. Tinha escola de primeiras letras, onde o padre mestre ensinava meninos. A alimentação diária dos moradores e aquela com que se recebiam os hóspedes frequentemente agasalhados, procediam das plantações, das criações, da caça, da pesca, proporcionadas pelo próprio lugar. Também no lugar montavam-se as serrarias de onde saíam acabados o mobiliário, os apetrechos do engenho, além da madeira para as casas; a obra dessas serrarias chamou a atenção do viajante Tollenare pela sua execução perfeita.

A "casa do engenho" possuía toda a maquinaria e instalações fundamentais para a obtenção do açúcar. Primeiramente, tínhamos a moenda, onde era amassada a cana para extrair a "garapa". Em seguida, a caldeira, necessária ao fornecimento do calor para apurar a "garapa"; depois, no tendal das forças, o açúcar era condensado e, finalmente, na casa de purgar, completava-se sua "branqueação". Guardado em caixas de até 50 arrobas (cerca de 750 kg) ia então enviado para o reino.

Um engenho tinha uma produção que oscilava entre três mil e dez mil arrobas anuais. A exportação pernambucana do produto - calculava o Padre Fernão Cardim - era de perto de duzentas mil arrobas anuais, no final do século XVI.

Muitas vezes, ligadas ao engenho produtor de açúcar, havia as destilarias de aguardente, funcionando como atividade subsidiária. De outro lado deve-se citar a existência de engenhos exclusivamente produtores da cachaça, denominados "engenhosas" ou "molinetes". Servia a aguardente como elemento de troca no escambo de escravos, sendo assim de uma importância econômica relativamente grande. 

A Fábrica de Açúcar

No picadeiro depositam-se as canas vindas do campo e destinadas à moagem. Dali são conduzidas para um estrado ao lado das moendas pelos tombadores, e na moendas colocadas pelo moendeiro.
O bagaço vai saindo do outro lado e é conduzido para a bagaceira em bangüês, espécie de padiola de cipó, levada por dois homens. (...) Na bagaceira é o bagaço espalhado por homens e mulheres com umas varas apropriadas.
Depois de seco é conduzido para a fornalha do assentamento.
O mestre-de-açúcar é o técnico que superintende toda a atividade do preparo do açúcar, no engenho. (...) Outros técnicos, em especializações particulares, ajudam o mestre-de-açúcar em funções específicas: o caldeireiro, que baldeia o caldo para as tachas e vai também limpando, com a espanadeira, a espuma fervente nas caldeiras, ajudando o caldo; o tacheiro, que se incumbe de acompanhar o desenvolvimento do caldo nas tachas; e o purgador, que é o químico no preparo da cristalização do açúcar nas fôrmas.
Outros ainda se distribuem nas diversas atividades do engenho.

Veja também : Fábrica de Rapadura

Vocabulário:

Calafate: indivíduo cujo ofício é calafetar.
Carapinas: carpinteiros com especialização de trabalho nos engenhos. Havia os de moenda, os de obra branca e de barcos. Obra branca: trabalho manual tanto em madeira como em algumas formas de reparo.
Oleiros: aqueles que trabalham em olaria (fábrica de produtos de cerâmica, barro).
Banqueiro: oficial encarregado da casa das caldeiras à noite, em substituição ao mestre: “e, ao chegar a noite, entra a fazer o mesmo o banqueiro, que é como o contra-mestre desta casa”. Auxiliava-o o ajuda-banqueiro. Antonil fala ainda do contra-banqueiro. A rigor o banqueiro era o soto-mestre.
Purgador: oficial do engenho encarregado de superintender os trabalhos na casa de purgar. Era trabalhador livre e assalariado. Purgar o açúcar, isto é, fazê-lo ficar branco e acabado.
Feitor: trabalhador livre e assalariado dos engenhos. Havia deles três tipos: o feitor-mor, para “governar a gente e reparti-la a seu tempo, como é bem, para o serviço”, que era o superintendente geral; o feitor de moenda, que fiscalizava o trabalho da moenda, e o feitor de partido ou de fazendas, que fiscalizava o trabalho da lavoura e corte da cana.
Soldada: quantia com que se paga o trabalho de criados, operários, etc.
Tanoeiro: aquele que faz e/ou conserta pipas, cubas, barris, dornas, tinas, etc.


Fontes: Brasil História: Colônia / Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari, Ricardo Maranhão. - São Paulo: Editora Brasiliense, 1979
População e Açúcar no Nordeste do Brasil / M. Diegues Jr. – Rio de Janeiro: Ed. Casa do Estudante Brasileiro, 1954 in História da Sociedade Brasileira / Francisco Alencar, Lúcia Carpi Ramalho, Marcus Venício Toledo Ribeiro. – Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1996
Engenho, Moagem de cana de açúcar  in Brasil Revisitado : palavras e imagens / Carlos Guilherme Mota, Adriana Lopez. - São Paulo, Ed. Rios, 1989


Ofícios e Técnicas
Deixe seu comentário: Deixe seu comentário:
Correio eletrônico Facebook
Livro de visitas Twitter