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Engenhos e Usinas
Engenhos e Usinas
Engenhos e Usinas - Ilustração de Percy Lau
Os primeiros engenhos instalados no Brasil eram movidos por animais, preferentemente bois ou, então, situando-se nas margens dos rios, eram estes aproveitados para acionarem as rodas d'água que movimentavam as moendas de espremer cana.
Na indústria açucareira do Brasil, contrastando com as grandes usinas dotadas de todos os aparelhamentos modernos, instalados com o fim de se obter o máximo rendimento possível de cana e a maior pureza dos produtos, subsistem, ainda, os engenhos de tipo colonial nas suas diferentes modalidades os engenhos movidos por animais, que no caso de serem bois, são chamados "trapiches", os "engenhos de água" com as suas três variantes: "copeiro", no qual a roda se move com água que lhe cai em cima nos cubos mais altos; "covilhete" ou "meio copeiro", que recebe a água em meio da roda e "rasteiro", movido pela água que vem de um nível muito baixo e, finalmente, os engenhos de vapor.

De modo que nas zonas açucareiras do Brasil ainda se encontram os diferentes tipos de engenho, que representam os três estágios da evolução da indústria do açúcar. Chamados, genericamente, de "banguês", no Nordeste, constituem eles a fábrica de uma época de industrialização incipiente. Processando-se morosamente a nossa evolução industrial, é freqüente encontrar-se no interior brasileiro a rotina suplantando a técnica. Assim é que se contam por centenas esses engenhos primitivos, de instalações rudimentares, baixo rendimento industrial e açúcar de tipo inferior.

Instalados em terras brasileiras, desde o início da colonização, constituíram eles uma civilização açucare ira, com a figura típica do senhor de engenho, que levava vida faustosa na "casa grande" e gozava de grande prestígio e influência política. Possuidor de extensos latifúndios, com esplêndidos canaviais, escravaria numerosa e engenhos bem montados, era ele o representante de opulenta aristocracia rural.

Os primeiros engenhos instalados no Brasil eram movidos por animais, preferentemente bois ou, então, situando-se nas margens dos rios, eram estes aproveitados para acionarem as rodas d'água que movimentavam as moendas de espremer cana.

Tanto o aparelhamento industrial dos "banguês", quanto os métodos de fabricação do açúcar empregados neles são, ainda hoje, os mesmos dos tempos coloniais, apesar de rudimentares e antiquados.

Na época da safra, a atividade é intensa nos engenhos. As canas, traz idas pelos "carreiras", nos seus carros de boi ou pelos "cambiteiros", nos seus burros, são logo levados para as pequenas moendas de madeira. O caldo, recolhido em grandes tanques é levado às caldeiras para ser cozido a fogo cru. Em seguida, depois de limpo vai para os tachas de cobre, onde é engrossado e batido. Levado para a casa de purgar, o melado é posto em formas de barro, madeira ou ferro, que colocadas sobre tábuas furadas, deixam escorrer o mel, que pode ser aproveitado para a fabricação do açúcar de retame ou para a destilação da aguardente em alambiques de cobre ou de barro. Escorrido o mel das formas ajunta-se barro para branquear o açúcar. Os pães de açúcar, deste modo preparado, são postos, em seguida, a secar ao sol.
Produz-se, assim, um tipo inferior, o açúcar bruto, que pode ser seco ou melado, purgado, mascavo ou de retame.

Um tipo de açúcar, de qualidade ainda pior, é produzido, principalmente nos "banguês" de Alagoas: o açúcar de rampa, que nem é purgado. Saindo do último tacho, em ponto semi-líquido, o melado passa por uma rampa de cimento, onde é batido e esfriado. Ainda morno, este açúcar melado é posto em sacos e, assim mesmo, transportado nos carros de boi ou cavalo. Numerosas são, pelo interior do Brasil, as engenhocas, que fabricam rapadura, alimento bastante apreciado pelo sertanejo do Nordeste.

Também são ainda comuns, os engenhos de vapor, aqui introduzidos em princípios do século XIX e que representam já, uma evolução dos primitivos engenhos de bestas e engenhos d'água. Em nossos dias, o estado, possuidor de maior número de engenhos "banguês" e de engenhocas é o de Minas Gerais.

São os mesmos processos, os mesmos métodos rotineiros e atrasados, que atravessando séculos ainda persistem na primitiva indústria açucareira do "banguês", em certa zonas do Brasil. Como diz GILENO DE CARLI "é uma paisagem quinhentista transplantada para o século da máquina".
Segundo o mesmo autor, o rendimento médio dos engenhos "banguês" é de 45 pães de açúcar bruto por hectare de cana, ou seja, 4320 quilos assim distribuídos: 3600 quilos de açúcar escorrido, acrescido de 720 quilos de açúcar de retame.

Até fins do século XIX, os "banguês" dominaram na indústria açucareira do Brasil, quando, então, como um melhoramento, foram instalados os primeiros engenhos centrais, criados pela necessidade de se melhorar a qualidade do produto, garantindo-lhe boa colocação nos mercados estrangeiros, deste modo, fazendo face aos concorrentes que surgiam no comércio internacional.
Foram eles montados graças à associação de alguns banguêzeiros, estimulados e auxiliados financeiramente pelos governos de então. Nesta época inicia-se a decadência acentuada dos engenhos "banguês", que com seu açúcar bruto, foram vencidos pela técnica e industrialização sempre crescentes. Perdem eles sua função industrial, passando os seus proprietários a meros fornecedores de cana às "centrais", que se dedicam, exclusivamente, à industrialização de matéria-prima particular.

Com a rígida subdivisão do trabalho agrícola e industrial não podiam porém os engenhos centrais subsistir. Em consequência das frequentes crises, ocasionadas por diferentes fatores: falta de preparo técnico do operariado no manejo dos maquinismos das fábricas, deficiência dos métodos agrícolas, desorganização das plantações com a abolição do trabalho servil, agravadas ainda, pela
instabilidade do suprimento de matéria-prima pelos fornecedores, independentes da fábrica, uma modificação impôs-se na estrutura econômica e social da indústria açucareira.

A usina de açúcar torna-se, então, latifundiária, a fim de garantir com suas próprias plantações, o suprimento, pelo menos, de parte da matéria-prima a ser industrializada em suas fábricas.
O aumento da concorrência entre as numerosas usinas, leva-as a adquirirem cada vez mais terras. É então que muitos dos primitivos e decadentes engenhos são absorvidos pela grande propriedade. Desmontadas todas suas instalações, permanecem apenas os extensos canaviais.

Ao lado da decadência dos engenhos, verificou-se o desaparecimento quase completo dos seus tradicionais meios de transporte: o carro de boi, a carroça e o animal de carga. Utilizados somente para transportar a cana ou a lenha, do interior dos canaviais, ou da mata para os "pontos", à margem das ferrovias, foram substituídos no transporte dos produtos, pelas estradas de ferro.
E assim, ligando com seus trilhos de aço as terras mais longínquas da usina, contribuiu a ferrovia, segundo GILENO DE CARLI, para a ampliação do grande domínio rural.

Todas as grandes e modernas usinas, tanto do Nordeste quanto do Rio de Janeiro, São Paulo ou Minas Gerais, contam com dezenas de quilômetros de estradas de ferro particulares, que não só lhes garantem o abastecimento rápido de cana, como também o abastecimento de lenha para as fornalhas. Deste modo, importantíssima rede ferroviária particular foi construída em função do desenvolvimento das usinas.

Como os primitivos "banguês", também as usinas se localizam, de preferência, à margem dos rios, atendendo à necessidade de abastecimento de água para as caldeiras, limpeza das máquinas etc., servindo, ainda, de escoadouro para as caldas inaproveitáveis.
Além disso, as terras marginais dos rios são as mais propícias à plantação dos canaviais.

A evolução da indústria do açúcar transformando o antigo senhor de engenho em fornecedor de cana e determinando a absorção dos "banguês" pelas usinas, verificou-se, principalmente, na importante zona açucareira do Nordeste: Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Paraíba.
Já em Campos, as usinas não possuem latifúndios, dominando a pequena propriedade.
Em São Paulo e Minas Gerais dominam também as grandes propriedades açucareiras, porém não se pode acompanhar a evolução progressiva da indústria açucareira pelo largo predomínio da monocultura do café. Os compensadores lucros proporcionados pela cultura cafeeira provocaram o quase total abandono da indústria do açúcar, que foi, porém, ressuscitada em consequência das numerosas crises que abalaram aquele produto. Nesta nova fase a indústria do açúcar instala já as grandes usinas.

A usina, contrariamente ao que ocorria com os engenhos, contribui para a decadência e empobrecimento das cidades nas zonas açucareiras. Em Pernambuco, por exemplo, Goiânia, Iguaçu, Ipojuca, Serinhaém cidades que, cercadas antigamente de centenas de engenhos, eram progressistas, movimentadas, constituindo verdadeiros entrepostos comerciais, onde vinham abastecer-se os banguêzeiros, entraram em decadência depois da instalação das usinas, que centralizam toda a vida econômica da região.

Pelas dificuldades de transporte, os senhores de engenho tinham Pernambuco, por exemplo, Goiana, Iguaçu, Ipojuca, Serinhaém cidades que se situavam nas cercanias de suas propriedades.


No entanto, com o advento da usina e a construção das estradas de ferro e rodovias, as distâncias desapareceram. O usineiro emigrou para, a capital.

Usina
1 -  Torre de destilação
2 - Armazém do álcool
3 - Laboratório e bombas
4 - Fermentação
5 - Esteiras
6 - Moendas
7 - Força
8 - Caixa d'água
9 - Usina (purificação, evaporação e cocção)
10 - Turbinagem e ensacamento
11 - Depósito de açúcar
12 - Oficina e carpintaria
13 - Garage
14 - Medição
15 - Capela
16 - Residência principal
17 - Vila operária
18 - Depósito de produtos químicos.
A usina com todas as suas instalações: casa da força, casa das caldeiras, moendas, fornalhas, balanças, cristalizadores, destilarias e mais as vilas operárias, cooperativas, escolas, capelas, cinemas, campos de desporto, reproduzindo, em pequena escala, todas as comodidades das cidades modernas, tornou-se importante centro econômico e social, substituindo a cidade que entrou em decadência.
Somente quando ela se instala dentro da cidade ou nos seus arrabaldes, como em Pernambuco, em Barreiros e Catende, é que seu progresso se mantém, vivendo a cidade em função da usina.


Naturalmente, muitas vantagens advieram para a indústria açucareira da instalação das usinas: grande melhoria da qualidade do açúcar, aumento da produção, tanto pela quantidade maior de açúcar extraído da cana, quanto pela maior extensão dos canaviais, que passaram a ser tratados por processos agrícolas racionais e mecânicos.

O crescente aumento da produção açucareira criou, porém, o problema da superprodução. Para resolvê-lo, o governo federal criou, em 1933, o Instituto do Açúcar e do Álcool, tornado órgão controlador de todas as atividades ligadas às indústrias açucareiras e alcooleira. Entre as medidas por ele tomadas, salienta-se como base da política de defesa do açúcar, o estabelecimento de quotas de produção para as usinas, a fim de torná-las capazes de suprirem apenas as necessidades internas do país, procurando-se, deste modo, evitar novas crises de superprodução. Os excessos de matéria-prima são destinados ao fabrico do álcool.

Como o açúcar, poucos produtos têm exercido influência tão marcante na vida econômica, social, política e cultural da nação.
Na época colonial, a exportação sempre crescente do açúcar, a princípio para a metrópole apenas, mais tarde para outros mercados europeus, garantiu-lhe a preponderância no comércio exterior do Brasil até meados do século XIX.
Porém, afastado do mercado internacional, pelo fechamento dos centros consumidores da Europa, que passaram a se abastecer de açúcar de beterraba e pela concorrência de novos produtores de açúcar de cana, que podiam vender o produto a preços inferiores, o açúcar cedeu ao café o lugar de produto principal na exportação brasileira.

Deste modo, deixando o açúcar de ser objeto de trocas internacionais destinou-se toda sua produção ao consumo interno do país.
Com a transformação de numerosos engenhos e "banguês", em grandes e modernas usinas, a secular indústria açucareira, animada por novos impulsos, intensificou a sua produção, continuando a ser assim, um dos ramos mais importantes do trabalho e da riqueza nacional.


Fontes: Engenhos e Usinas / Elza Coelho de Souza  in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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