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Cafezal
Cafezal
Cafezal - Ilustração de Percy Lau 
Tão importante foi a influência da cultura do café no progresso e na civilização brasileira, que mereceu de eminente estadista do Império a justa apreciação de que "o Brasil é o café". 
De fato, foi o café o modelador da fisionomia econômico-social do Brasil centro-meridional. Por onde se estenderam os cafezais, estradas se abriram e cidades apareceram. Deu ele origem, nos tempos do Império, à opulenta aristocracia latifundiária fluminense; fez a riqueza e tornou-se o propulsor capital do progresso de São Paulo e, para dentro das nossas fronteiras, canalizou os recursos necessários à instalação das grandes indústrias.

Durante decênios todo o nosso desenvolvimento e progresso estiveram estreitamente ligados à paisagem das colinas riscadas de cafezais alinhados. Qual centro de atração, todos os esforços convergiam para a produção do "ouro verde".

O cultivo do café iniciado, justamente, quando se verificava a crise da mineração, deu ao Brasil muito mais riquezas do que o ouro extraído das suas minas ou lavado nos seus rios.

As terras cansadas, abandonadas pelo café, logo em seguida, se despovoavam e empobreciam. As terras virgens por ele conquistadas, enchiam-se de uma vida ativa, de um trabalho febril, se enriqueciam e progrediam. O café foi, e continua sendo, o principal produto de exportação e o esteio da economia brasileira.

Transplantado da Guiana e introduzido no Pará, ao que se presume, em 1727, pelo sargento-mor FRANCISCO DE MELO PALHÊTA, o café, da família das rubiáceas e gênero coffea, não encontrou no Norte do país condições ecológicas próprias ao seu desenvolvimento. Numa peregrinação de quase meio século, atingiu o Rio de Janeiro, graças ao desembargador JOÃO ALBERTO CASTELO BRANCO, que importou sementes do Maranhão. Plantadas na chácara dos Barbadinhos, frades capuchinhos italianos, deram origem aos extensos cafezais que se estenderam pelas províncias do Rio, Minas Gerais e São Paulo. Uma nova época se iniciava, então, para a economia brasileira: a época áurea do café.

Cultivado, inicialmente, na região de "serra abaixo" entre a serra do Mar e o oceano, os cafezais galgaram logo as encostas, em busca de condições climáticas mais apropriadas, atingindo, assim, o vale do Paraíba. Daí se irradiaram as culturas, que alcançaram, em princípios do século XIX, a "Zona da Mata", em Minas Gerais e caminharam para o sul em direção a São Paulo. Até então, toda a produção de café se escoava pelo porto do Rio de Janeiro.
Ainda antes de findar aquele século, em São Paulo, o vale do Paraíba, impropriamente chamado zona norte, e a zona central atingiram o seu apogeu na produção cafeeira. Ambas eram zonas já exploradas e povoadas. As plantações de café se instalaram em torno dos núcleos anteriormente estabelecidos e à margem das vias de comunicação.

Deste modo, a província de São Paulo se foi, aos poucos, colocando na vanguarda das regiões cafeeiras do país. O porto de Santos arrebata do Rio de Janeiro a primazia na exportação do café.
À medida que os cafeeiros avançaram pelo planalto piratiningano, encontrando aí condições ideais de clima e solo, multiplicavam-se aos milhares, constituindo o que ENRICO FERRI considerou "a obra mais notável do gênio agrícola do mundo".

Na sua avançada ininterrupta em busca de terras virgens, o café conquista as zonas da Paulista e Mojiana; depois, da Araraquarense, Alta Sorocabana, Noroeste... Surgem as cidades-cogumelos, do dia para a noite na boca do sertão desbravado pelo cafezal".

A extraordinária fertilidade das novas terras exploradas, a relativa facilidade de comunicações, atraem para os sertões grandes levas de imigrantes estrangeiros e elementos nacionais. A região toda se povoa e enriquece.
E o café continua na sua irresistível marcha para oeste, "sempre e cada vez mais à cata da terra virgem", invadindo o norte do Paraná e o sul de Goiás.
À retaguarda, entretanto, os cafezais mais antigos vão sendo abandonados. A monocultura cede lugar à policultura; as plantações antigas são substituídas por pastagens artificiais para a criação de gado; os grandes latifúndios se subdividem em pequenos sítios explotados por antigos colonos imigrantes e se instalam as indústrias.

Este desenvolvimento extraordinário da lavoura cafeeira faz do estado de São Paulo um dos maiores centros de produção de todo o mundo. Diferentes fatores se conjugam favoravelmente para dar-lhe tal primazia: condições climáticas apropriadas, fertilidade natural do solo, mão-de-obra numerosa e vias de comunicação bem distribuídas.

Relativamente às condições climáticas exigidas pelo cafeeiro para o seu pleno desenvolvimento e produção, os fatores decisivos são a temperatura e o regime de chuvas. A temperatura média favorável à sua cultura oscila de 17° a 24°C. A planta não suporta calor nem frio excessivos e é para protegê-la contra o excesso de calor que nos países tropicais se pratica o sombreamento dos cafezais.
A distribuição das chuvas é fator importantíssimo: no início da primavera, com a elevação da temperatura e as primeiras chuvas dá-se a floração dos cafezais, devendo a estação chuvosa estender-se até o período da maturação dos frutos. A época sêca deve coincidir com a colheita e o tratamento do café nos terreiros.
Neste duplo ponto de vista o estado de São Paulo oferece ao cafeeiro condições excepcionais.

Quanto ao solo, exige o cafeeiro terreno de solo profundo, por causa de seu grande desenvolvimento radicular; permeáveis, sendo como é a umidade estagnada extremamente nociva à planta, e ricos de humo. Reunindo todas estas qualidades físicas, as terras provenientes do desbravamento das matas virgens são as preferidas para as plantações de café.
A "terra-roxa", principalmente, e a "terra-massapê", providas dos elementos nutritivos necessários à planta, reúnem as propriedades indispensáveis ao bom rendimento dos cafezais. Neste particular o estado de São Paulo é bastante favorecido.

Por causa mesmo da umidade, o café deve ser plantado em terrenos ondulados, porque nos lugares em declive as águas não permanecem em quantidade maior do que a necessária para saturar o solo e esta quantidade de água é suficiente para satisfazer as exigências da planta. Qualquer excesso é prejudicial ao cafeeiro e, conseqüentemente, à qualidade do produto.
Na plantação dos cafezais é importante também a altitude, por causa das geadas. Em São Paulo, as plantações são feitas, de preferência entre 600 e 850 metros, para evitar os prejuízos que podem as geadas causar, principalmente, aos cafezais mais jovens. É frisante a diferença entre as condições de cultura de São Paulo e dos demais estados do Brasil.

Contrastando com a superioridade natural da grande região cafeeira paulista, os outros estados que produzem também café - Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia - não apresentam, no seu conjunto, condições tão favoráveis. Só nos terrenos montanhosos a cultura com bom rendimento é possível, pois o cafeeiro exige como condição de boa produtividade, clima relativamente fresco, como esclarece AUGUSTO RAMOS. De modo que, nestas regiões de latitude mais baixa e, portanto, de temperatura mais elevada, o clima, para se manter propício ao cafeeiro, precisa ganhar em altitude o que perde em latitude.

Sendo, ainda, a camada de humo pouco espessa e o regime de chuvas impróprio ao ciclo vegetativo do cafeeiro, acontece que, à medida que se avança de São Paulo para o norte do Brasil, a produção por unidade vai diminuindo e os cafezais vão-se estendendo pelas encostas elevadas.
Pode-se dizer que na Bahia se extingue a cultura do café, pois a produção dos estados do Norte é praticamente insignificante e nada pesa na economia cafeeira do Brasil.

Não só as condições ecológicas mais favoráveis do estado de São Paulo contribuem para o maior rendimento e produção dos seus cafezais, como, também, sendo o clima do planalto propício ao colono europeu, pôde o estado beneficiar-se largamente com as correntes imigratórias incentivadas no final do século XIX, após a abolição da escravatura, dispondo, assim, de abundante mão-de-obra para tratar de suas extensas plantações.

Deste modo, a organização do trabalho em São Paulo, onde este é feito, predominantemente, pelos "colonos" de origem italiana, espanhola, portuguesa ou japonesa, difere bastante das outras regiões cafeeiras do Brasil, onde o trabalho é feito, de preferência, por elementos nacionais.

Dentro do próprio estado de São Paulo verifica-se diversidade no sistema de trabalho. A região do estado, situada a oeste da capital, de terras muito férteis e onde se instalaram as grandes fazendas com milhares de pés de café, exerceu atração maior sobre os imigrantes, do que o leste, mais quente, mais montanhoso, com solo menos permeável e profundo e, consequentemente, produzindo colheitas menos abundantes e remuneradoras que tornavam, portanto, o trabalho pouco rendoso.

O preparo do terreno para a plantação do café, isto é, a roçada, derrubada das árvores e queimada, é quase sempre feito por elementos nacionais, bem adestrados nesse serviço, qualquer que seja a região cafeeira.

Na região oeste de São Paulo os "colonos" são quase todos estrangeiros, trabalhando mediante contrato com o fazendeiro, com vantagens e obrigações de parte a parte. Tais contratos duram. geralmente, um ano. Entrando em vigor no fim das colheitas podem ser renovados ou prorrogados ao fim de cada ano de serviço. A eles cabe o trabalho do plantio do café, que pode ser feito diretamente pela introdução das sementes no solo ou, então, mediante a plantação de mudas em vasos. jacas etc., covas previamente abertas, alinhadas e separadas pelos "carreadores", verdadeiras ruas. por onde transitarão, 'na época da colheita, os veículos destinados ao transporte do produto.

Os "colonos" são também incumbidos de cuidar das culturas: as capinas ou carpas feitas 3 ou 4 vezes ao ano, a poda e adubação dos cafezais, a colheita, secagem e transporte do café para ser beneficiado.
Os "colonos" ganham determinada quantia pelo tratamento de 1000 pés de café, variando aquela em função do custo da vida e com a abundância ou escassez de braços.

Geralmente, nos cafezais novos, o proprietário da fazenda permite aos "colonos" plantarem milho, feijão, batata etc., entre as filas de cafeeiros e como lhes pertencem integralmente as colheitas, têm eles, assim, um lucro adicional.

Quando o número de "colonos" é insuficiente para realizar todo o trabalho, o fazendeiro ajusta turmas volantes, de nacionais, na maioria, para auxiliar nas capinas e, principalmente, na colheita, época em que se necessita de numerosos braços. Terminada esta, os trabalhadores dessas turmas são em geral dispensados, exceto quando persiste a falta de "colonos".

Os filhos destes, depois dos sete anos vão para a roça auxiliar os trabalhos, bem como as mulheres, quando lhes permitam os místeres caseiros. Nas fazendas, as famílias vivem separadamente em suas casas, sempre bem localizadas e que reunidas em grupos formam as "colônias".

Este sistema de trabalho, no qual terminado o ano agrícola, pode o "colono" engajar-se para trabalhar em outra fazenda, gera nele certo "nomadismo", buscando sempre as fazendas novas onde, com a plantação de cereais entre as filas dos cafeeiros, pode aumentar seus lucros.

A grande ambição dos ''colonos'' é adquirir um lote de terra, tornando-se eles, por sua vez, pequenos proprietários. Assim foi que centenas deles se tornaram lavradores por conta própria, fazendo a sua independência econômica.

Já o sistema de trabalho na zona oriental de São Paulo representa uma transição entre o trabalho das fazendas fluminenses, de que são o prolongamento natural e o das fazendas do oeste paulista. Ê um sistema de trabalho misto.
Como vimos, nesta zona, por influência das condições naturais, os trabalhadores das fazendas são quase todos nacionais, muito mais arraigados à terra e menos ambiciosos do que o colono estrangeiro.

As lavouras cafeeiras são tratadas pelo sistema de trabalho por porcentagem ou parceria nas colheitas, em geral, "a meias", cabendo a cada família, como remuneração pelo tratamento dos cafezais, metade do produto delas. Geralmente o "colono", que também é chamado "agregado", vende ao próprio fazendeiro a parte do café que lhe coube, ainda não beneficiado. No entanto,
quando ele o vende a estranhos, o beneficiamento é feito à sua própria custa.

Excetuando-se uma parte das lavouras de Minas Gerais e do Paraná, situadas nas fronteiras de São Paulo e que seguem o mesmo sistema de trabalho daquele estado, as demais lavouras cafeeiras do Brasil são, na grande maioria, tratadas pelo sistema de "meação" ou de "têrças", cabendo ao colono, neste caso, em vez da metade, a terça parte da colheita. Também é comum os fazendeiros empregarem turmas de trabalhadores, assalariados por dia, para o tratamento dos cafezais, distribuídos em "eitos" pelos "apontadores", que são os encarregados de dirigir as turmas.

Quando há grande falta de braços, outro sistema de trabalho, comumente adotado pelos fazendeiros, é o de empreitada, organizando os empreiteiros as turmas para realizar o serviço.
Nos estados do Norte, em que se cultiva café, o sistema geralmente adotado é o do salário.

A lavoura do café no Brasil já foi uma das mais ricas do mundo, estando hoje reduzida a pouco mais de 2300000000 de pés. A despeito das crises de superprodução, dos graves erros cometidos na política do café, da proibição de novas plantações em vigor durante alguns anos, do impulso dado à policultura, o café tem sido e continua a ser o eixo da economia brasileira, repercutindo
profundamente, as suas crises, no organismo político e econômico do Brasil.

Fonte : Cafezal / Elza Coelho de Souza in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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