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Produtos da Terra : Buritizal
Buritizal
Buritizal - Ilustração de Percy Lau
Na paisagem fitogeográfica do Brasil, o "buritizal" aparece ora como mata pluvial marginal interior, sendo neste caso um raro exemplo de floresta pura, ora como um capão característico das grandes baixadas inundáveis, principalmente dentro da área territorial planáltica, estendida para o norte do país, a partir do paralelo 20º sul, até o Amazonas. 
O "buriti" (Mauritia vinifera, MART.) é a espécie que melhor representa tais formações, no meio das subxerófilas, ao lado da (Mauritia flexuosa, MART.) e da "buritirana" (Mauritia aculeata, A.B.K.), todas geralmente denominadas "buritizais" ou "miritizais", na nomenclatura popular, com particularidade, nos chamados campos de São Marcos, no alto rio Branco, estado do Amazonas.

A redução em extensão, das matas ciliares as "ilhas de mato" localizadas em meio dos campos, de preferência nas proximidades dos cursos d'água ou nas suas cabeceiras, está em relação com os pontos onde uma camada impermeável foi descoberta pela erosão, permitindo o afloramento do lençol d'água. Daí a natureza brejosa do solo. A vegetação da mata paludosa que nele esponta frequentemente na forma de buritizais - depois de uma chapada extensa e seca, nos baciões de solo argiloso, negro e compressível - pode mesmo acompanhar trechos dos córregos e riachos.

Os buritis, palmeiras que podem atingir nove a dez metros de altura, tendo vinte e cinco a quarenta centímetros de diâmetro, combinam-se de diversos modos e maneiras para constituírem os buritizais, que tanto se formam por indivíduos isolados, autêntico "capão", às vezes em forma de renque, quando dispostos em caprichosos arruamentos obedientes à direção do curso d'água cristalina que os assinala.

Rebentando, como elucida GONZAGA DE CAMPOS, em poderoso manancial de centenas de litros, - na área extensa da rocha impermeável onde a erosão preparou o aparecimento de uma fonte, de até um metro cúbico d'água por segundo, ou apresentando-se na forma de correntes líquidas que as várzeas acompanham - a água está sempre. ligada à existência do buritizal. Casos há em que o buritizal aparece salpicado de outras palmeiras esguias, as pindaíbas (Xylopsia emarginata), as quais, nele prevalecendo, constituem o "pindaibal", um dos quadros mais sedutores, por exemplo, da paisagem dos sertões sul-mato-grossenses.

Se as "matas ciliares" - acompanhando os cursos d'água - se condicionam à escassa quantidade de chuva anual e à prolongada estação seca, nas encostas, entretanto, a vegetação se reduz. Aparecem, então, nas vastas extensões do planalto os "campos-cerrados", grande parte dos "campos-limpos" e "cerradões", ordinariamente estendidos entre as matas hidrófilas ou dispostas na base das formações higrófilas, ao sopé das serras, segundo HOEHNE. Quando, porém, o tipo
daquelas matas se enfraquece ainda mais, até o ponto de se restringir a "capões" - de que um dos mais belos é o buritizal, mesmo na sua mais ampla significação popular - o que contribui para lhe dar o cunho insular de um pitoresco oásis de verdura, perdido em meio de um gigantesco tapete de relva homogênea, na altura e na cor é, sem dúvida, além da água, a estrutura dos planaltos, onde é comum a presença do arenito alternando com xistos em camadas horizontais.

Uma tal circunstância não passou despercebida a GONZAGA DE CAMPOS, ao correlacionar a presença da'água, frequente nos buritizais, com a composição geológica da vastíssima área em que aparecem: "quando o grés forma a capa superficial, coberta de campos e campos-cerrados, as águas descem até a camada de xistos impermeáveis subjacente ao grés; nos lugares onde as erosões escavaram até essa camada, surge uma fonte e, se a área da rocha impermeável é muito
extensa, pode rebentar um poderoso manancial".

Quanto ao limite oriental do buriti, ainda não foi possível fixá-Ia com precisão. SAINT-HILAIRE viu pela primeira vez aquela palmeira, na localidade de Taioba, município de Bocaiúva (nordeste de Minas Gerais). Descreveu-a, então, com remarcada minúcia: "Seu tronco que pode elevar-se até a altura de cinquenta e cinco pés, tem o mesmo diâmetro em toda a extensão e é revestido de uma casca de cor cinza-escura; esse fuste não tem, como sucede em outras espécies, a base das folhas caídas; mas o lugar que estas ocupavam sobre sua superfície é aí unicamente indicado por zonas circulares, afastadas uma das outras cerca de três polegadas. O buriti termina por um tufo largo e arredondado de folhas em leque, que são numerosas, lisas, brilhantes e de um verde carregado: quatro ou cinco dentre elas murchas e secas, caem ao longo do caule. O pedalo dessas folhas é largo, do comprimento de cinco pés, triangular, e pode medir uma polegada em cada face. O limbo da folha é inteiro e pregueado na base; seus dois lados aproximados formam uma espécie de cartucho; e, a cerca de meio pé da origem, divide-se em grande número de tiras, da largura de uma polegada, do comprimento de quatro pés, rijas nas folhas novas, pendentes nas antigas. Os panículos frutíferos são igualmente pendentes, e atingem até nove ou dez pés; seus ramos são simples, alternados e dispostos em duas ordens."

O buriti - "a árvore da vida" - do padre JOSÉ GUMILA, fornece ao povo vários proveitos, tais como madeira, fibras e palhas para esteiras e chapéus, fios para cordas, cocos, polpa para doce, certa bebida fermentada, etc.

No Nordeste Ocidental, no interior maranhense, na região do Balsas, do Parnaíba, etc., os buritizais ocorrem comumente alternando com os açaízais, conforme FRÓIS ABREU, tendo sido também assinalados, na sua extensão para o norte, na zona do Cumíná, no estado do Paraná, pelo cientista, patrício A. J. SAMPAIO.

Seguramente entre as causas explicativas da dispersão em manchas verificadas no habitat rural, particularmente do Brasil Central, figuram, a um só tempo, a água e o buritizal.

É no buritizal, com efeito, que reside a grande atração do homem do interior: nele existem a água, o material de construção e parte da alimentação humana.
Retirando, assim, das palmeiras buritis, material empregado nas suas habitações, a começar pela cobertura das casas, feita com suas folhas, além de outros proveitos de utilidade pessoal - já apontados - os homens efetivamente reforçam do modo mais econômico possível, o seu aparelhamento para a luta quotidiana pela vida. Tal luta se trava, então, nos campos, em derredor, os quais gradativamente se diferenciam e se sucedem, a partir de cada buritizal. É que a natureza do solo e a posição relativa dos buritizais se encontram, por um lado, estreitamente correlacionadas com o regime das chuvas e com o ciclo de erosão a que geomorfologicamente corresponde, por outro lado, com a forma topográfica atual, dominante na paisagem da região. 


Fontes: Buritizal / José Veríssimo da Costa Pereira in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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