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Produtos da Terra : Cacaual
Quando LINEU tratou de classificar a árvore do cacau - denominou-a Theobroma cacao - não achou, provavelmente, nada mais sugestivo do que recordar, de acordo com a lenda asteca, a origem divina do cacaueiro. Daí Theobroma, que significa manjar ou alimento dos deuses.

É muito provável que o cacaueiro seja nativo da Amazônia brasileira, tal a espontaneidade e exuberância com que aí se apresenta, encontrando-se ainda, em estado selvagem, na bacia do Orinoco, estendendo-se o seu habitat até o México, através da América Central.

A árvore do cacau só teve a sua existência conhecida pelo europeu na fase inicial da conquista da América, quando em 1519, MONTEZUMA ofereceu a CORTEZ um pouco da bebida à qual chamavam chocolate. Esta bebida, preparada à base de cacau, era a princípio uma infusão em água, de uma mistura de cacau, milho e pimenta. Ao tempo de MONTEZUMA, os indivíduos ricos consumiam o cacau puro, adoçado com mel. Por sua vez os europeus aperfeiçoaram o chocolate, reunindo ao cacau o açúcar de cana, e canela ou baunilha como aromáticos. Os indígenas brasileiros também preparavam, à base de cacau, uma bebida vínosa, fazendo fermentar a polpa do fruto.

A difusão do cacau se fêz através da bebida. Sob a forma de chocolate ele foi introduzido na França, em 1659. Da França, espalhou-se pela Europa.
O cultivo do cacau, no Brasil, teve início no último quartel do século XVII, no Pará.
Cacaual
Cacaual - Ilustração de Percy  Lau
O cacau baiano, segundo consta veio do Pará em 1746, quando um colono francês trouxe as primeiras sementes, que foram plantadas em terras do atual município de Canavieiras. Há, no entanto, afirmativas de que a cultura do cacaueiro na Bahia foi iniciada no município de Ilhéus.
A partir de 1816, colonos alemães fizeram plantações de Theobroma cacao, nos municípios de Ilhéus e Canavieiras, espraiando-se a cultura pelos largos vales dos rios e ao longo do litoral. O fato é que o tropical cacaueiro deu-se às maravilhas no sul baiano e VON MARTIUS, quando por aí passou em 1819, salientou a pronta adaptação dessa árvore às condições locais. Nessas tentativas está a origem da atual cultura e indústria baiana do cacau.

As condições ecológicas para a vida útil de um cacaual são unidade e temperatura elevadas, mas não excessivas, e sombra; terrenos de solo profundo, possuindo 1 a 2% de cal e 0,25% de ácido fosfórico e bastante humo. No Brasil, a temperatura exigida pelo cacaueiro, oscila de 24° a 28°C para a média anual, sendo de 18° a 20°C a média das mínimas. A umidade decorrente da proximidade dos rios não basta; ela deve ser assegurada por uma altura pluviométrica anual situada acima de 1600 milímetros e inferior a 1800 com uma distribuição anual regular, o que torna a condição umidade um tanto rígida e permite concluir-se que o cacaueiro se desenvolve bem em regiões onde não haja diferenciação sazonal. Como a temperatura e a umidade são influenciadas pela altitude, temos a considerar ainda esse terceiro fato, e realmente essa árvore prefere as terras baixas das várzeas.

A exigência de uma temperatura média anual não inferior a 24°C nem superior a 28°C; o requisito de uma pluviosidade entre 1600 e 1800 milímetros; a necessidade de sombreamento (céu encoberto ou anteparo florestal); a pequena altitude; a condição de solo humoso e profundo, fazem com que a cultura do cacau se localize, de preferência, no Brasil de clima tropical super-úmido (Amazônia) e úmido (litoral baiano e espírito-santense, do recôncavo ao baixo rio Doce). O solo profundo e humoso e a necessidade de sombra situam esta cultura nas terras de várzea e nas regiões florestais: e a altitude limita, sem rigidez, a existência produtiva de um cacaual às cotas de 100 ou 200 metros.

Na Bahia - o maior centro cacaueiro nas Américas - é comum ver-se os cacaueiros subirem os vales dos rios, tanto em função da umidade das terras marginais quanto pela sombra necessária que a floresta próxima fornece, e quanto pela maior fertilidade do solo florestal. Por isso o desenvolvimento da cultura do cacau é de certo modo preservativo da integridade das matas, salvo quando o processo de plantação consiste preliminarmente na derrubada.

A importância econômica do cacau data de mais de quatro séculos, pois antes da descoberta das Índias Ocidentais por COLOMBO, já os caroços do fruto eram usados como moeda. Modernamente, o valor do cacau advém da sua qualidade de ótimo alimento dinamogênico e dos produtos que dele se obtêm na indústria, como sejam o chocolate comercial (à base de cacau), a manteiga de cacau, o óleo, o sabão de cacau, um alcalóide - a teobromina - e o vinho de cacau, do qual se obtêm álcool e vinagre.

A gravura reproduz o aspecto de um cacaual baiano. Vê-se que a paisagem é de árvores não muito altas, de troncos robustos, ásperos e enverrugados pelos frutos que se lhes prendem pelos pedúnculos. Nota-se ainda que o solo esta acolchoado pelas fôlhas caídas, pois o cacaueiro perde os seus órgãos clorofilados duas vezes ao ano: abril-maio e setembro-outubro. Esta paisagem pode perdurar por muito tempo; é que o ciclo de vida e produção do cacaueiro atinge um século e mais. Na Amazônia e na Bahia encontram-se cacaueiros centenários com produção razoável.

O cacau, dado o seu caráter de alimento energétíco, é grandemente consumido nas regiões de clima frio, e daí ser um produto de grande exportação para a Europa e América do Norte. O Brasil ocupa o 2.° lugar na produção e exportação mundial do cacau, apenas superado pela Costa do Ouro.

A história do cacau lembra um pouco a do café e a da borracha. Como a do café, a cultura do cacau foi fundamente atingida pela Abolição que marca o declínio dessa cultura na Amazônia, Maranhão e Bahia. Entretanto, houve um reerguimento em favor do cacaueiro e, hoje, à Bahía, correspondem 98% da produção nacional e a produção paraense se distingue pela qualidade. Os estados principais produtores são: Bahia, Pará, Amazonas e Espírito Santo. Analogamente à borracha, o cacau também foi grande riqueza econômica da Amazônia. A Hevea brasiliensis, a Bertholletia excelsa e o Theobroma cacao constituem as três grandes esperanças para o reerguimento econômico do vale amazônico no plano vegetal.


Fontes: Cacaual / Lindalvo Bezerra dos Santos  in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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