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Produtos da Terra : Carnaubais
Carnaubais
Carnaubais -  Ilustração de Percy Lau
A importância da fisionomia da vegetação, na caracterização de uma paisagem, decorre das próprias funções das plantas e das necessidades fisiológicas de sua existência, e é ao conjunto dos diversos vegetais que revestem o solo, acentuando-lhe as ondulações e os contornos, que deve a paisagem o seu caráter comum de individualidade.
Se fora da região amazônica é possível encontrar, nos chapadões de águas perenes do Nordeste Ocidental, a participação da flora amazônica, em transição para os cocais característicos do planalto tabular úmido, com tipos outros de vegetação, já no litoral, com particularidade no Maranhão, o que prevalece é a tendência gregária ou exclusivista dos mangues da zona marítima e, especialmente, das próprias palmeiras, em cujo rol figura a carnaubeira - a esbelta Copernicia cerifera, MARTIUS.
Imprimindo à paisagem notável efeito ornamental, as carnaubeiras - individualmente, ou compondo bosques, mais ou menos extensos (carnaubais) avultam, neste último caso, mesmo no Nordeste Ocidental, tanto nos campos do litoral, quanto nos do interior. Aparecem, ainda, quer em torno da baia de São Marcos, quer no trecho territorial entre Codó e Caxias. Ampliam-se, contudo, ao longo das margens do Parnaíba, onde os indivíduos chegam a atingir a casa dos milhões, quanto ao número, no Maranhão.

Planta gregária e hidrófila, que se desenvolve à maravilha nos vales fluviais, a carnaubeira - além do Maranhão e do Piauí - forma suas maiores concentrações no Ceará (vales do Jaguaribe, Acaraú e Coreaú) , no Rio Grande do Norte (vale do Açu, desde a cidade dêsse nome até Macau) , na Paraíba (em Sousa, São João do Rio do Peixe, Cajazeiras, São José de Piranhas), em Pernambuco (nos municípios sanfranciscanos de Coripós, Petrolina e Petrolândia) e, em menor escala, no Pará (região do Tocantins), na Bahia, Sergipe e Alagoas, bem assim, em Goiás. Em Mato Grosso é errôneamente identificado como Copernicia cerifera, MARTIUS, a palmeira-carandá (que não dá cera) a qual, segundo BECCARI, pertence à espécie distinta, a Copernicia australis.

A carnaubeira (Copernicia cerifera, MARTIUS, ou Corypha cerifera, ARR. CÂM.) pertence à família das palmáceas e possui espique reto, cilíndrico, mais espesso na base. Distinguem-se pelo menos a "carnaubeira-guandu" e a "carnaubeira-lavada", a primeira possuindo a base dos pecíolos aderentes e a segunda a de pecíolos lisos, o que está em relação com a idade da palmeira.
Baseando-se na direção - para a direita ou para a esquerda - seguida pelas hélices das caracas ou base dos pecíolos, os sertanejos distinguem, praticamente, a "carnaúba-branca" e a "carnaúba-vermelha", havendo ainda uma variedade "preta". Na nomenclatura cearense, com particularidade, O povo chama de carnaubeira a árvore e de carnaúba, o fruto, segundo informação do técnico HUMBERTO R. DE ANDRADE, o qual valendo-se de observações próprias, inclina-se a aceitar três variedades na espécie comum: "carnaúba-sem-espinhos", "carnaúba-gigante" e "carnaúba-branca".

O botânico A. J. SAMPAIO descreveu a Copernicia cerifera, MARTIUS, como "uma linda palmeira, esbelta, de caule ou estipe cilíndrico, ereto e em geral indiviso e que atinge 1,6 a 20 metros de altura por 30 a 50 centímetros de diâmetro, apresentando na base e até certa altura restos de pecíolos, dispostos em espiral. O capitel formado de folhas flabeliformes, isto é, em leque, com pecíolo de 1,30 metro de extensão e no qual se encontram duas séries de espinhos negros, fortes, achatados e curvos".

O longo período sem chuvas durante o ano exige da carnaubeira adaptação ao período seco que, por seis ou mais meses, é normal em toda a vasta extensão de seu habitat. Para proteger a planta contra a inexistência da água, as células epidérmicas das folhas se revestem de uma camada de cera, mais abundante e de melhor qualidade nas folhas novas. Trata-se de singular autodefesa que, obstruindo os estomas foliáceos com matéria cerosa, impede a transpiração, determinando a diminuição da intensa evaporação, o que implica numa considerável economia d'água. Daquela notável circunstância resulta a maior riqueza dos carnaubais do Nordeste Oriental, tendo-se em vista a produção da cera.

Na paisagem cultural do Nordeste, a carnaubeira aparece como a "árvore-providência", a "árvore-da-vida", denominação de HUMBOLDT, ao considerar esse botânico, as numerosas utilidades da palmeira. Não será exagerado afirmar que existe mesmo, no Brasil de nordeste, uma "Civilização da Carnaubeira" aguardando ainda o seu intérprete, em toda a sua delicada e complexa trama antropogeográfica.

Toda a geografia do habitat rural na região nordestina seria incompleta, se, acaso, se pretendesse faze-lo fora da consideração antropogeográfica dos carnaubais, porque quase toda a atividade humana regional gira em torno dos carnaubais, que são os fornecedores da matéria-prima com a qual é possível satisfazer todas as necessidades primárias do homem e as da economia rural. Com efeito, de todas as partes da carnaubeira tira o homem proveito.

No interior, as casas são construídas - quase sempre - com os espiques, que fornecem linhas, caibros, ripas. As principais modificações introduzidas na paisagem pelo homem rural decorrem das casinholas de carnaúba, com suas paredes, suas portas, suas janelas e coberturas construídas com matérias retiradas dos carnaubais. Assim sucede no vale do Jaguaribe, onde se enfileiram às margens não inundáveis do rio. Os homens que nelas vivem, usam chapéus, bolsas, surrões e vários outros objetos, fabricados com folhas da Copernicia.
Portas e janelas - do tipo veneziana - cercas e jiraus, lastros de camas e rolhas de garrafa, tudo provém dos pecíolos que a linguagem popular denomina talos da carnaúba. A própria circulação geral se vale do espique da carnaubeira para montar postes telegráficos e pilares de pontes. Toda a construção rural, numa palavra, se realiza principalmente com as seções inferior e superior do espique, a que denominam "tronco" e "cabeço", sendo a secção média reputada como boa madeira de construção, macia e de bonita cor verde-escura.

A carnaubeira e seus produtos condicionam, assim inquestionavelmente, a adaptação humana ao meio físico ingrato, sugerindo não apenas um gênero de vida, único no Brasil, talvez no mundo, mas fornecendo, também, horizontes de trabalho à considerável massa anônima do sertão, que mais diretamente padece das crises econômicas e mais de perto sofre os efeitos das secas por que periodicamente passa o Nordeste.

Embora cada carnaubeira dê, em média de 60 a 80 gramas de cera, e apesar de ser a cera de carnaúba uma indústria extrativa tradicional no Nordeste, ainda não foi possível. com efeito, industrializá-la como seria de desejar, aparecendo como esforços isolados, as tentativas de alguns proprietários de carnaubais do vale do Jaguaribe. Atualmente há, entretanto, já largo e intenso aproveitamento industrial dos produtos da carnaubeira fabrico de velas, preparo de couros, encerramento de calçados e madeiras, lubrificantes, fósforos, sabonetes, fabricação de ácido pícrico, de pólvora e de outros produtos, isolantes para cabos, discos fonográficos etc.

Estendendo-se desde o Pará (região do Tocantins) e Maranhão até Bahia e Goiás, os carnaubais representam verdadeiras "ilhas-humanas" da zona do Nordeste flagelada pelas secas, tomada a expressão no sentido em que a empregou JEAN BRUNHES, na sua conhecida obra La Géographie Humaine.

Veja também em http://brasilescola.uol.com.br/biologia/carnauba.htm


Fontes: Carnaubais / José Veríssimo da Costa Pereira in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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