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Musgos e fetos são
numerosos na Mata da Poaia. Nela outrossim, as bromeliáceas seguidas
das aráceas, atingem as maiores dimensões, mesmo as espécies epífitas
de begônia comuns em outros tipos de florestas mato-grossenses,
apresentam-se em maior quantidade, na referida mata.
A Mata da Poaia encerra, por outro lado, variadas palmeiras como a "auaçu" ou "pindoba", a "cortical", o "açaí", o "buriti" e também musáceas de grande porte, bem assim pindaibais da família das anonáceas. O primeiro andar da mata é constituído de arbustos e ervas de reduzido sistema radicífero, medrando sobre os detritos vegetais. Aliás, em quase toda a extensão da mata a superfície do solo é eriçada e fofa, formada que é de detritos em decomposição, ou já decompostos. Entre os arbustos e ervas, as rubiáceas ocupam lugar de realce e crescem no humo à sombra úmida da floresta. Nos pontos mais inclinados ficam as formas fruticosas vicejando por entre as grandes árvores, ajudando a compor o primeiro andar da mata famosa. Nos pontos não atingidos pelos raios do sol, despontam as rutáceas ostentando suas longas folhas agrupadas na extremidade do caule. Nos locais, onde a umidade atmosférica e a do solo coexistem, vicejam as helicônias. Das formas herbáceas diversas ciperáceas e gramíneas poderiam ser citadas. As escléricas, entretanto, preferem os lugares mais úmidos. A Mata da Poaia é também mais ou menos rica em espécies orquidáceas. HOEHNE que estudou localmente uma boa porção da mesma, salientou como mais frequente as Phygurus, Galeandra, Prescottia e Habenarias. É no humo desta floresta úmida, variada e viçosa, que a poaia cresce. A pequena planta herbácea, meio arbustiforme, que deu o nome à floresta é a poaia preta (Cephaelis ipecacuanha, A. RICH.) ou ipecacuanha verdadeira, cujas raízes são carnosas, aneladas e um tanto onduladas, tendo de 20 a 40 cm de comprimento. É a mais importante das plantas eméticas existentes nas florestas, campos limpos e cerrados do Brasil. Para o agrônomo PEDRO PAIS DE BARROS (A ipecacuanha, sua extração, cultura e comércio, Serv. Inf. Agr. M. Agr., Rio de Janeiro, 1942), a ipeca "é uma planta herbácea, de caule francamente lenhificado, com 30 a 50 centímetros de altura. Quando atinge esse comprimento, o caule vai-se inclinando para o solo geralmente depois de um ano de idade - formando o falso rizoma, que emite raízes laterais, partindo dos nós, transformando algumas delas em raízes tuberosas, ricas em substâncias de reserva. As folhas são simples, inteiras, opostas, ovaladas, curtamente pecioladas, de um verde pálido, na face interior peninervadas. O pecíolo é levemente caniculado. As flores são brancas, situadas na gema apical, envoltas em brácteas envolucradas pubescentes. Esses pelos são em número de dez em cada bráctea. As brácteas são em número de duas, adjacentes aos pecíolos". Os frutos são colhidos pelo poaieiro, pequeno pássaro, que os come espalhando depois as sementes com as fezes. Segundo narra F. C. HOEHNE, tais frutos são pequenas bagas alvacentas e carnosas e as flores "aparecem em pseudos capítulos terminais, bastamente congregadas e envoltas por algumas brácteas relativamente largas que formam um pseudo-receptáculo para elas". Em seu trabalho Plantas e Substâncias Tóxicas e Medicinais (Dep. de Bot. do Est. S. Paulo, 1939) o citado cientista refere-se ao respeito que o colhedor de raízes da poaia tem pela referida ave cujo grito estridente é por ele traduzido como "Poaia, poaia, poaia, fogão, poaia-fogão, porque onde ele assim assovia existe, segundo diz, uma reboleira (fogão) desta plantinha que dá para se colherem alguns quilos de raizes". Não apenas possui a Cephaelis ipecacuanha, de RICH, raízes com ação emética. Muitas espécies de violáceas, menispermáceas, poligaláceas, etc., contém raízes com ação emética afim da verdadeira poaia. A Cephaelis ipecacuanha, A. RICH., é considerada o centro ou verdadeira poaia esclarece HOEHNE, na obra citada - "porque contém respeitável porcentagem de alcalóide enquanto o povo insiste em asseverar que outras de gêneros afins, são igualmente terapêuticas e eméticas, embora a indústria não as queira para tais fins". A raiz da poaia de ação enérgica como vomitivo, conhecida de longa data pelos indígenas, foi levada ao conhecimento da ciência européia no decurso dos séculos XVII e XVIII graças a WILHELM PIES, HELVETIUS, GRENIER e outros. Todavia, só em 1817, pôde PELETIER extrair o princípio básico da poaia, embora em estado impuro. Aperfeiçoado o processo da extração por MAGENDE, em 1821, foi aquele princípio denominado emetina. Daí por diante, os trabalhos de investigação prosseguiram mais ou menos ativamente. Da verdadeira poaia, a preta, KELLER e COWLEY conseguiram, em 1895, purificar a emetina, seu principal alcalóide, dela isolando a cafeína e a psicotrina. O mais importante emprego da emetina é como remédio contra a disenteria amebiana cujo mal aflige tantas pessoas em diferentes regiões do mundo. Nestas condições compreende-se o valor que a poaia preta possa alcançar no mercado mundial. A Mata da Poaia viceja numa região de clima quente e úmido no verão, com abundante queda pluviométrica e ventos de norte e noroeste. Na época estival, torna-se quente e seco porém com ondas de frio nos meses de maio a julho quando se verifica, às vezes, queda da temperatura até 5 a 6 graus acima de zero. Finalmente, segundo as observações do agrônomo PEDRO PAIS DE BARROS, na grande Mata da Poaia, "a insalubridade não é tão acentuada e a maleita já não faz tantas vítimas; porém, nas margens do Guaporé e seus afluentes, a extração da ipeca só é possível no período das secas de maio a setembro, em desacordo com as leis estaduais, visto que, na época das chuvas, a maleita não poupa a vida dos ousados que lá se metam, mesmo com o quinino preventivo". Veja também: O Poaieiro |
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