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Extração de Pinho
As extensas e magníficas florestas do Brasil representam uma de suas mais abundantes riquezas naturais. Não é o Amazonas com sua majestosa floresta de 168 milhões de hectares, nem o Pará com 92 milhões de hectares cobertos de densa mata, nem Mato Grosso com 60 milhões, os maiores estados exportadores de madeira, com explotação organizada, como se poderia supor. Mas, é no Sul, onde se levantam os extensos e verdes pinhais, que encontramos as únicas florestas do Brasil explotadas, economicamente, para produção de madeira em larga escala.

Estendendo-se dos 21° aos 30° de latitude sul, cobrindo uma área, segundo Romário Martins, de "80 milhões de hectares, sendo que mais da metade dessa superfície (55%) no Paraná e a restante nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo", constituem os pinhais fonte apreciável de riquezas, capazes de modificar, por si sós, a situação econômica das regiões onde se desenvolvem e são explotados.

A bela e majestosa conífera, o gigante da Curiirama, que constitui a fisionomia vegetal característica do planalto meridional, pode ser comparada, economicamente, à extraordinária carnaubeira do Nordeste, a "árvore-providência", pois, tal como nesta, na araucária tudo pode ser aproveitado: a madeira, não só é de grande beleza, como tem todas as condições de elasticidade e resistência, podendo ser utilizada em obras de marcenaria, carpintaria, vigamentos, caixotaria etc.; 
Extração de Pinho
Extração de Pinho - Ilustração de Percy Lau
a fibra é considerada das melhores, para a fabricação de papel; a resina aproveitada industrialmente produz alcatrão, breu, piche; os "nós", que saem da base dos ramos do pinheiro têm larga aplicação em pequenos objetos de luxo e o seu poder calorífico é comparável ao do carvão de pedra; a casca e os galhos podem também ser utilizados como combustível e, finalmente, sua semente, o "pinhão", grandemente substancial e de sabor excelente, constitui alimento muito apreciado pelo homem do sertão. Pode substituir o milho na engorda de porcos, e, além disso, sendo o "pinhão" rico de amido fornece excelente farinha.
Unindo tão preciosas qualidades e variadas aplicações à facilidade de explotação, pois formam, geralmente, matas compactas e homogêneas, tornou-se o pinho-do-paraná, dentre todas as riquezas florestais brasileiras, a mais cobiçada e explotada.

Desde que os "madeireiros" abandonaram a explotação do pau-brasil, pela extinção das matas, ainda no tempo do Brasil-Império, desviaram suas atividades para os imensos pinheirais, conforme esclarece Baltazar Silva Lisboa no seu livro Riquezas do Brasil, em "Madeiras de construção e carpintaria". Foi. assim, que o pinho se tornou a maior vítima da explotação imoderada de "madeireiros" gananciosos, meros exploradores que, visando, apenas, ao lucro imediato e sem esforço e não se preocupando, em absoluto, com o replantio da espécie, destruíram imensos pinhais deixando as terras inaproveitadas e entregues à invasão da bracatinga "podendo dar origem a formações acaatíngadas extensas, um tipo especial de caatingas de mimosáceas" (A. J. Sampaio) .

Atualmente, com a difusão dos conhecimentos relativos à conservação dos recursos naturais, graças à orientação do Instituto Nacional do Pinho, se está processando, em certas regiões do Sul, uma explotação racional e econômica dessa imensa riqueza, sem que as fontes naturais que a constituem sejam extintas.

Sendo, pois, esta uma das atividades extrativas mais intensas e rendosas nos estados do sul, principalmente no Paraná, interessante se torna observar as condições de vida e de trabalho dos extratores da preciosa madeira.

O pinhal adquirido pelo "madeireiro" para ser explotado conta, nunca menos, com 5000 pés, pagando aquele determinada quantia por indivíduo, geralmente com exclusão da terra. Às vezes, é o mesmo proprietário do pinhal que o explota, vendendo os toros já prontos para serem serrados. Em qualquer dos casos os extratores trabalham por empreitada.

O pinhal encerra, no seu conjunto, intensa atividade humana. As serrarias para beneficiamento da madeira, instaladas no seu interior ou nas adjacências, com todas as suas dependências, os galpões, as casas de madeira dos trabalhadores, com seus "terreiros" e diminutas hortas, têm todo o aspecto de pequenas e movimentadas vilas.

O trabalho de extração do pinho, bastante rude e pesado, requer sempre para sua execução homens fortes, peritos e afeitos à vida difícil e cheia de imprevistos das matas.

Desbravando a mata, abrindo "picadas" vai, na frente, o "marcador" que, munido de facão de mato, foice ou machado, assinala, com talho feito na casca do pinheiro, aqueles que devem ser abatidos, fazendo ao mesmo tempo a sua classificação de acordo com a grossura: pinheiro de lª, 18 polegadas de diâmetro, livre de casca e medidas 1 metro acima do solo; pinheiro de 2ª, 12 polegadas; pinheiro de 3ª, 8 polegadas. Faz-se, assim, a derrubada selecionada, em vez do arrasador clearcutting dos estadunidenses.

Os "toreiros", encarregados da derrubada e preparo dos toros são, geralmente, 3 homens fortes e acostumados ao trabalho braçal, No início da semana, partem eles para o interior dos pinhais, onde permanecem até o sábado à tarde, entregues à sua faina extrativa, ficando alojados em toscos ranchos de madeira.

Entrando em atividade um dos "toreiros", depois de limpar com a foice todo o mato que, em volta do pinheiro, pode dificultar o trabalho, inicia a derrubada fazendo, com golpes certeiros do machado, a "barriga", corte inicial do lado em que se pretende derrubar a árvore e que não atinge nunca mais do que 1/4 do seu diâmetro, Munidos da serra traçadeira manual, num movimento contínuo de vaivém, os outros dois "toreiros" começam a trabalhar. De repente, a gigantesca conífera oscila, balança, inclina-se e cai fragorosamente ao chão.

Em seguida, procedem eles ao "descascamento", muito fácil no verão, quando a casca se desprende com grande facilidade, e ao corte do pinheiro, comumente, em 4 toros de 3 a 5 metros, sendo que no Rio Grande do Sul os toros medem 5,5 m.

Estes três extratores constituem uma "turma de toreiros" que trabalham por empreitada. Essas "turmas" têm sempre um chefe, que é o "toreiro" mais instruído e melhor conhecedor do trabalho.

Depois de prontos os toros entra em atividade o "estaleirador" ou "boiadeiro" que, auxiliado por um rapazola, depois de ter prendido os toros com correntes de ferro leva-os "de arrasto", puxados por 4 bois, a uma clareira onde os toros estaleirados ficam esperando transporte para a serraria em carros de tração animal ou caminhão. Na serraria são os toros industrializados e transformados em tábuas, pranchas, vigas, laminados etc., e exportados para consumo. O "estaleirador" trabalham, também, por empreitada

A melhor época para a derrubada do pinho é de maio a agosto, sendo aconselhável também a sua extração durante o quarto minguante e lua nova, pois estas fases lunares parecem coincidir com o mínimo de seiva no tronco, o que permite à madeira secar mais depressa, e impede de ser atacada pelos insetos e de se fender sob o efeito dos tecidos. Estes preceitos porém, raramente são levados em conta pelos extratores.

Os "extratores de pinho", em geral, associam a exploração da floresta com a cultura de hortas, roças de milho e pequenas criações de galinhas, porcos e cabritos. A estas atividades dedicam eles as suas horas de folga sendo, eficazmente, auxiliados pela mulher e pelos filhos. Os que exercem essa dupla atividade são, comumente, descendentes de estrangeiros, alemães, poloneses e italianos.

No entanto, entre os "extratores" existem muitos que nada plantam e nada criam vivendo, exclusivamente, do salário.

Joviais e alegres, fazem eles, de vez em quando, as suas festas, desmanchando as paredes de divisão interna da casa maior, que transformada em um grande salão, se anima ao som de melodias dolentes da gaita e da sanfona.

A tanta atividade e a tanto movimento, quando o pinhal desaparece, sucede o abandono e a devastação, resultantes desta ocupação efêmera. Ranchos abandonados, pinheirais devastados, marcam a esteira dos "madeireiros" e "extratores" que, sem se apegarem à terra, seguem para diante, em busca de inexplorados pinhais


Fontes: Extratores de Pinho / Elza Coelho de Souza in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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