Terra Brasileira
Brasil Folclórico
folclore
modus Transporte
artesanato culinária
literatura Contos lendas mitos
música danças religiosidade tipos ofícios contatos
Loja

Ofícios e Técnicas
Contribuição Indígena
Contribuição Africana
Ciclo do Açúcar
Ciclo do Gado
Ciclo do Ouro
Ciclo do Café
Produtos da Terra
 -Água de Cacimba
 -Babaçuais
 -Buritizal
 -Cacaual
 -O Cajueiro
 -Carnaubais
 -Coqueirais
 -Ervais
 -O Mandiocal
 -Mata da Poaia
 -Pinhal
 -Salinas
Primeiras Fábricas
Ofícios Urbanos


Produtos da Terra : Salinas
Salinas
Salinas - Ilustração de Percy Lau
Ao longo de quase todo o litoral do Nordeste, sobretudo no trecho entre Macau, no Rio Grande do Norte, e Cascavel, no Ceará; bem assim na Região Leste, particularmente na zona costeira entre Cabo Frio e Araruama (estado do Rio de Janeiro), possui o Brasil imensas e importantes salinas, cujos processos de obtenção do sal da água do. mar decorrem das condições em que a evaporação natural se realiza, em cada zona considerada.

Nos pontos semi-áridos da Região Nordeste a concentração de camadas líquidas, espessas, permite a obtenção mais vantajosa de cristais de sal maiores, devido a circunstâncias físico-geográficas mais favoráveis.
Caracterizados por longos períodos de seca, nos quais a temperatura se mantém mais ou menos elevada, até uns 24° - e mesmo 35º - na época da "salinação"; sujeitos, além disso, a um regime de ventos regulares, intensos; encerrando grau de umidade relativamente baixo, porém constante; os pontos semi-áridos da Região Nordeste são servidos, por outro lado, por uma costa baixa, efetivamente de inclinação insignificante - como acontece no Rio Grande do Norte - onde a penetração fácil da maré contribui para a concentração das espessas camadas de líquido.

A "salinação" se processa, aí, nos chamados "baldes" ou "cristalizadores", depois de ter a água procedido dos "evaporadores", sendo o aproveitamento das marés, para abastecer os "evaporadores", feito de acordo com as circunstâncias da fisiografia da região. Muitas vezes aquele abastecimento se realiza pelo moderno sistema das comportas automáticas, como sucede no braço de mar de Macau, a que popularmente se dá o nome de "rio" Imburana.
Na costa salineira do Brasil de Leste, nos locais em que prevalece vento constante e forte, tempo seco, sujeito, não obstante, a fortes aguaceiros e caracterizado por temperaturas que se mantém entre 20° e 30°, com 82% de grau higrométrico médio relativo, a concentração de camadas finas de líquido proporciona minúsculos cristais de sal, que a técnica local da "salinação" prefere realizar, como no Nordeste, nos "cristalizadores" ("baldes" dos nordestinos) depois, também, do aproveitamento prévio das marés, porém pelo emprego mais generalizado de bombas e moinhos de vento - sobretudo no estado do Rio de Janeiro, onde, devido às particularidades da topografia local, a lagoa de Araruama funciona, no complexo industrial salineiro, à maneira de depósito abastecedor de todas as salinas, em Cabo Frio, São Pedro da Aldeia e na própria Araruama.

A paisagem salineira - tanto no Nordeste quanto no estado do Rio - nos seus traços fisionômicos mais gerais e expressivos, enfeixa, em conjunto, certas analogias: vento intenso; aridez mais ou menos pronunciada; vegetação rasteira psamófila, mesclada de cactáceas e bromeliáceas; séries de dunas paralelas, orlando as praias e constituindo as eminências revestidas de mato ralo, que barram, às vezes - emoldurando-a - a brancura típica do quadro geográfico. Tal quadro técnica humana de "salinação" por evaporação da água do mar e visando, por fim, à consequente cristalização do sal. Como elementos essenciais da integração do quadro natural figuram os trabalhadores e os moinhos de vento, imprimindo à paisagem, logo ao primeiro relance, um sopro de dinamismo, de que resulta uma nota pictórica peculiar, não obstante uma certa e paradoxal melancolia, intensificada pela regularidade do tabuleiro quadriculado dos "cristalizadores", onde, aqui e ali, entremeados pelas "eiras" alvacentas, jazem esparsos os montes de sal, "chorando" ao relento ...

Data dos tempos coloniais a atividade salicícola entre nós, tendo tido sua importância no bom êxito dos rebanhos, espalhados pelo interior, os antigos "caminhos de sal" que levavam, até as regiões de criatório, o indispensável alimento corretivo das forragens.
Considerando-se o fato de ser o Brasil um dos mais ricos países pastoris do globo e de haver desempenhado a pecuária, em nossa economia, papel valioso, a ponto de, à sua atividade, ligar-se a origem de inúmeras povoações, arraiais e até cidades, torna-se possível compreender o importante valor que as "salinas" possuem para o Brasil, sobretudo quando se acentua, cada vez mais, a "criação industrializada", particularmente no sul do país e no momento em que, progressivamente, o consumo aumenta em relação, também, ao número sempre crescente de habitantes e ao movimento das indústrias.

A indústria extrativa do sal possui, por consequência, um futuro promissor, dadas, além disso, a evidência da fase de subconsumo que o país ainda atravessa e a ação reguladora do Instituto Nacional do Sal, criado pelo decreto-lei nº 2300 de 10 de julho de 1940, tendo por incumbência assegurar o equilíbrio da produção, a fixação dos tipos do produto, a sugestão de medidas necessárias ao melhoramento da produção etc.

A indústria do sal é muito antiga no Brasil, remontando aos tempos pré-cabralianos. Mas o consumo somente aumentou depois do século XVII graças à prosperidade da pecuária e ao grande surto da mineração.

Focalizando aspectos da situação, ainda reinante até a criação do Instituto, DEOCLÉCIO DUARTE, em livro publicado em 1941 - A indústria Extrativa do Sal e a sua Importância na Economia do Brasil (Serviço de Informação Agrícola - Ministério da Agricultura - Rio de Janeiro) - chamou a atenção para a situação de penúria em que tal indústria ainda se encontrava. Depois de aludir às suas grandes possibilidades e ao fato de constituir o sal um elemento indispensável à existência, bem assim ao progresso do indivíduos, referiu-se à inexistência de meios fáceis de transporte e, também, aos trabalhadores das salinas:

"Indústria genuinamente brasileira, é uma dádiva generosa da natureza. O sol, a terra, as águas, os ventos, os caboclos fortes, resistentes a tudo, de epiderme queimada e pés e mãos sangrando ao contato dos cristais, são os trabalhadores do sal. Gente rara e indomável. Os ombros crescem e se enrijam. Toma o andar uma feição única. O caboclo das salinas do Nordeste é, ao mesmo tempo, agricultor e pescador. Na época das chuvas corre para a vida rural e emprega os recursos economizados durante os trabalhos do verão. Cerca de 40000 pessoas dependem da explotação salífera, somente nos municípios de Mossoró, Areia Branca, Açu e Macau".

Na Região Nordeste o sal é embarcado com destino ao Rio de Janeiro, nos portos de Macau e Areia Branca, trazido de uma distância de 8 milhas da costa, em numerosas barcaças de madeira, após inúmeras dificuldades. Entretanto, a situação geográfica do porto de Areia Branca, servido pela Estrada de Ferro de Mossoró (atualmente desativada), é boa porque está em relação com o interior de outros estados nordestinos como Ceará, Paraíba, Pernambuco, sendo, destarte, um escoadouro natural de diferentes e importantes produtos, entre os quais se inclui o sal.
A dificuldade de exportação do sal norte-rio-grandense reside, pois, na condição natural dos portos, como Areia Branca e Macau, os quais ainda não se encontram, infelizmente, devidamente aparelhados para o importante mister da saída fácil e econômica do produto.

No estado do Rio de Janeiro, porém, a exportação do sal, devido às condições naturais do porto de Cabo Frio, se realiza em melhores e mais eficientes condições de trabalho. Sai o sal a granel ou, então, ensacado, tanto por Cabo Frio quanto pela Estrada de Ferro Maricá (atualmente desativada). Além disso, como em Araruama, por exemplo, encontram-se instalados "armazéns" sendo assim possível, na zona fluminense, a saída pela ferrovia e o embarque direto das barcaças.

O maior centro brasileiro produtor de sal é o Rio Grande do Norte, seguindo-se o estado do Rio de Janeiro, vindo depois, com produção muito inferior, Ceará, Sergipe, Bahia e Maranhão.

No Rio Grande do Norte a área de cristalização, que é superior a cinco milhões de metros quadrados - o maior parque salineiro da América do Sul - situa-se entre o delta do rio Açu e a foz do rio Apodi ou Mossoró, sendo a salina do Conde a mais importante do Brasil, com seus 120 "cristalizadores", seus três "moinhos", suas "bombas centrífugas" e sua capacidade de 800 alqueires de 160 litros de sal lavrado, em cada safra, em ano normal.
Localizando-se em ambas as margens dos rios Açu, Cavalos e Amargozinho. Macau é o centro das maiores salinas do país. No estado do Rio a situação já é outra.

Próximo dos centros criadores de Minas Gerais e distante cerca de 150 quilômetros da capital da República, a zona salineira fluminense está em condições de proporcionar ao sal melhores condições, do ponto de vista comercial, salientando-se a salina Perinas que consegue, em Cabo Frio, uma produção da ordem de 20000 toneladas e se distingue pelos esforços em prol de uma orientação visando sempre ao aumento e à melhoria do artigo.

Na opinião do técnico J. SAMPAIO FERNANDES (Indústria do Sal, relatório apresentado ao Ministério da Agricultura, Serviço de Publicidade Agrícola, Rio de Janeiro, 1939) o sal do Nordeste é, em geral, bom e seco, satisfazendo, no prazo de um ano, as melhores exigências da indústria de carnes, ao passo que o de Cabo Frio, devido talvez às condições do clima, se apresenta - mesmo com vários meses de empilhamento - com maior teor de umidade, necessitando para atender às necessidades da indústria de carnes, de uma modificação no critério de beneficiamento. Este, na prática, se realiza como na Região Nordeste, pelo sistema do empilhamento ao tempo; mas, devido às condições meteorológicas locais - sol, arejamento etc. - os resultados obtidos por meio desse processo simples não fornecem um sal comercial e industrialmente melhor, donde os esforços, já realizados, no sentido de se conseguir, pelas instalações de beneficiamento - lavagem do sal e sua centrifugação - um produto de qualidade,
capaz de corresponder às exigências da indústria da carne o que, felizmente, já se tornou possível.

O estudo comparado das duas mais importantes zonas salineiras do país revela, também, certas diferenciações quanto à técnica industrial e à terminologia relativa empregada em cada região.

Nas salinas do Nordeste a linguagem popular reservou, por exemplo, o termo "cerco" para designar os tanques onde se realiza a "concentração", depois de terem sido as águas do mar elevadas até os mesmos, trazidas dos grandes depósitos, por meio de bombas ou de moinhos de vento, dispostos, para tal efeito, em nova série, convenientemente espalhada pela superfície em explotação.

No Estado do Rio, com efeito, particularmente em Cabo Frio, "tanques de carga" são os "cercos" dos nordestinos e os "evaporadores" são, na zona de Macau, os "chocadores", isto é, série de depósitos menores que recebem a água dos "tanques" (ou "cercos") numa concentração sempre crescente até a deposição do cálcio, sob a forma de sulfato, dentro de uma área teórica que está para a dos "cercos" como a unidade para cinco. Se no Nordeste, o sal, depois de retirado dos "baldes" ("cristalizadores" em Cabo Frio) e, em seguida, empilhado nas margens para depuração, forma "pilhas" enormes, cubando de 500 a alguns milhares de toneladas, no estado do Rio constitui empilhamento de pequenos montes tendo apenas algumas toneladas de cubagem, circunstância que se explica, sem dúvida alguma, pelo modo diferente de se trabalhar as salinas. A propósito o técnico SAMPAIO FERNANDES, estudando minuciosamente, in loco, o modo do referido trabalho, em cada região, escreveu que "enquanto no Nordeste os cristalizadores são de 50 X 50, 60 X 70, 50 X 70 e até 50 X 100 e de 70 X 70 metros, com enormes depósitos de sal cristalizados, formando verdadeiras lajes de sal de 5 a 100 centímetros e mais de espessura, que é preciso quebrar, a picareta, para transportar penosamente para as margens, empilhando-o aí, no estado do Rio os cristalizadores parecem brinquedos de criança, comparadamente com as suas dimensões padronizadas de 7 X 7 metros com 4 centímetros de altura útil e nos quais nunca o sal chega a engrossar os cristais e a formar laje, porque para aproveitar as condições meteorológicas locais é puxado a rodo para as margens e em pilhado em pequenos montes que raramente atingirão à centena de toneladas e donde, depois de algum tempo de exposição é, muitas vezes, carregado para os numerosos armazéns, espalhados pelas salinas, para protegê-lo contra os rigores das chuvas. No norte as salinas, regra geral não dispõem de armazéns.
A perda decorrente da ação das chuvas é, lá, calculada em 15% no máximo, chegando a 30% na região fluminense. Explica-se, assim, a necessidade de armazenamento nesta última região, armazenamento que protege também, bastante, o sal contra a poeira, embora dificulte o arejamento e, portanto, a seca".

Pelas feições particulares das condições naturais em que aparecem, como pela sua importância econômica e social, no transcurso dos tempos, constituem as salinas um dos aspectos geográficos mais interessantes do País, realçados, ainda mais, pela ressonância que tiveram na formidável expansão da pecuária colonial, a cujo vigor se deve, em grande parte, o êxito dos bandeirantes, em sua arrojada e profunda irradiação de que, territorialmente, tanto se beneficiou o Brasil.

As maiores salinas do País estão localizadas nos municípios de Mossoró e Macau, no Rio Grande do Norte. Elas somam um total de 9 mil hectares de área de evaporação e mais de 700 hectares de cristalizadores, onde são produzidos até 2 milhões de toneladas de sal por ano. Esse total representa 40% da produção de sal marinho do Brasil atualmente.


Fontes: Salinas / José Veríssimo da Costa Pereira in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


Ofícios e Técnicas
Deixe seu comentário: Deixe seu comentário:
Correio eletrônico Facebook
Livro de visitas Twitter