Terra Brasileira
Brasil Folclórico
folclore
modus Transporte
artesanato culinária
literatura Contos lendas mitos
música danças religiosidade tipos ofícios contatos
Loja

Ofícios e Técnicas
Contribuição Indígena
Contribuição Africana
Ciclo do Açúcar
Ciclo do Gado
Ciclo do Ouro
Ciclo do Café
Produtos da Terra
 -Água de Cacimba
 -Babaçuais
 -Buritizal
 -Cacaual
 -O Cajueiro
 -Carnaubais
 -Coqueirais
 -Ervais
 -O Mandiocal
 -Mata da Poaia
 -Pinhal
 -Salinas
Primeiras Fábricas
Ofícios Urbanos


Água de Cacimba do Nordeste
A água consumida no Nordeste provém, quase sempre de açudes, pois com exclusão do São Francisco e do Parnaíba, os rios da região não são permanentes.
A água que se conserva em seus leitos é pouca; resume se em manchas esparsas que, assim mesmo, se evaporam logo que o verão se acentua. Disso decorrem transtornos de profundas consequências na vida da região para cujo desenvolvimento a água é fator específico.

As populações dos sertões mais recuados são menos favorecidas pelas iniciativas oficiais de combate às "secas" e se vêem a braços, periodicamente, com o clássico flagelo. Resultado: o homem, desamparado mas preso à terra pela fé e pela coragem, trava verdadeira batalha com o inclemento adversário que lhe dizima os rebanhos, cresta as culturas, arrebata vidas e esperanças.
Não raro a escassez de água força o despovoamento e estende a miséria aos mais extremos flagrantes. Mas, mesmo diante das dificuldades sempre múltiplas que se opõem ao seu trabalho, o homem nordestino ainda encontra soluções para os problemas mais imediatamente angustiosos, reagindo ao abandono definitivo do seu rincão.
Quando a água escasseia e as matas se transformam no estertor da garrancharia cor de ferrugem; quando as pedras chamuscam como brasas os pés que percorrem as estradas e, nos campos, os incêndios são provocados pela combustão fácil da almácega e dos paus
Água de Cacimba do Nordeste
Água de Cacimba do Nordeste  - Ilustração de Percy Lau
ressequidos, é nos terrenos mais baixos que o homem encontra refrigério, socorro. Aí, a umidade permanece verão adentro, nos solos em que predomina a argila negra ou o barro massapê, ocorrências originadas pela sedimentação de compostos químicos arrastados pela água da chuva.
De consistência pegajosa, espessa e plástica, a argila reúne qualidades que impedem a evaporação rápida, concentrando entre suas partículas consideráveis e generosos lençóis de água potável. É o "brejo". Nos brejos são abertas cacimbas para onde afluem núcleos de povo humilde que vão "apanhar", aos bocados, a água que "nasce" vagarosamente de veios preguiçosos.

As cacimbas obedecem a diferentes modelos: essa diversidade está em função do solo arenoso ou argiloso, de rio ou brejo, respectivamente.

Na gravura inclusa temos uma cacimba de brejo, um dos espécimes mais curiosos da sua ordem. Sua construção é rústica. Primeiramente se faz um grande círculo no chão com as ferramentas usuais do caboclo: pás e picaretas. O círculo se aprofunda até os primeiros vestígios de água. Então, espera se o rendimento dessa primeira escavação, o qual se atingir alguns palmos permite
o consumo imediato.

Até que se extinguam esses primeiros veios, uma romaria permanente converge para o jovem manancial. Uma freqüência heterogênea se acotovela em seu redor estabelecendo contato com vizinhos que se ignoravam, criando uma atmosfera de sociabilidade singular no exotismo das crendices, no entendimento das coisas e sua vulgarização. Em pouco a cacimba seca e perseguem se, mais abaixo, novos veios, se o terreno ainda é propício. A escavação, agora, é feita
em círculos mais estreitos até o extremo de permitirem, no interior da cacimba, uma ou duas pessoas, apenas.

Uma variedade grande de cacimbas teríamos, ainda, a exemplificar. Cacimbas de lagoas, de rios, nos brejos, nas vazantes ou ao longo dos caminhos.
 
Todas frutos de esforço inventivo e premência de circunstâncias para dessedentar o Nordeste. Anda o povo quilômetros e quilômetros com seus vasilhames, seus animais emagrecidos e seus músculos exaustos, em quase peregrinação, que dá à paisagem desolada das caatingas feição de quadro bíblico.


Fontes: Água de Cacimba no Nordeste / Francisco Barboza Leite in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970



Ofícios e Técnicas
Deixe seu comentário: Deixe seu comentário:
Correio eletrônico Facebook
Livro de visitas Twitter