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Primeiras Fábricas
"As primeiras fábricas surgiram, no Brasil, nas décadas iniciais do século XIX.  Eram estabelecimentos de pequeno porte e tiveram, em geral, vida efêmera.  Somente a partir de 1870 começaram a aumentar, em número e em importância, num processo que se intensificaria entre os anos 1885-1895.  Muitos autores situam, nesse período, aquilo que se convencionou chamar de "nosso primeiro surto industrial". 

Tratava-se, porém, de uma "industrialização" que possuía características bem diferentes daquelas assumidas pelo mesmo processo na Inglaterra, na Alemanha e outros países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão.


Para podermos entender essas diferenças e explicar porque surgiram e se mantiveram tais traços específicos, é necessário analisar, ainda que rapidamente, a situação geral da indústria brasileira no período colonial e as primeiras tentativas industrializantes efetuadas após a Independência.

Atividades Industriais na Colônia - Durante os três primeiros séculos de nossa história as atividades industriais (aqui entendidas no sentido genérico do termo) reduziam-se, praticamente, à fabricação do açúcar nos engenhos e à mineração. As técnicas utilizadas em ambos os casos eram bastante rudimentares, havendo pouca diferença entre o processo de fabricação do açúcar e da aguardente no século XVI e no início do século XIX. "
Primeiras Fábricas
Ilustração de Percy Lau
"A produção de ouro era já bem reduzida em 1808, entrando a mineração em decadência, cada vez mais acentuada, apesar da contratação de técnicos e engenheiros europeus e de outras medidas adotadas por D. João VI.  Durante esse longo período colonial, uma série de outras atividades industriais - artesanais e manufatureiras - foram aqui desenvolvidas, porém todas elas com um caráter de atividade acessória, ocupando um papel secundário no conjunto da economia. É o caso, por exemplo, das diferentes tentativas de exploração metalúrgica com fundições de ferro, ou ainda da fabricação de tecidos e da construção naval.  De fato, o minério de ferro era há muito conhecido no Brasil onde, especialmente na zona aurífera mineira, era aproveitado em pequenas forjas de tipo catalão para a fabricação de ferramentas  , picaretas, pás, enxadas, machados, facas, facões, panelas, ferraduras etc., tudo isso em quantidades ínfimas.  Aliás, tais explorações siderúrgicas datam do século XVI, quando Afonso Sardinha pôs em funcionamento a primeira "fábrica de ferro" do continente americano em Araçoiaba, nas proximidades da atual Sorocaba.

Também a produção de tecidos data dos primeiros anos da colonização.  O algodão, que já era conhecido e utilizado pelos indígenas, continuou a ser cultivado pelos portugueses em certas capitanias, dando origem a uma produção têxtil doméstica de certa importância, principalmente no Maranhão e no Pará, que chegou a exportar tecidos para o Reino.  Também no Ceará e em São Paulo e, algum tempo depois, em Minas Gerais, desenvolveram-se manufaturas de tecidos.  A distância que a separava do litoral e as dificuldades de transporte fizeram com que na região da mineração, em meados do século XVIII, começassem a surgir manufaturas de uma certa importância para atender às necessidades locais da população.  Em alguns lugares, os tecidos eram finos e se exportavam para fora da Capitania, o que prejudicava os interesses de Lisboa.  O próprio Marquês de Lavradio, vice-rei do Brasil na época, confessava que "à força de eu reclamar, algumas fábricas que se iam fazendo mais públicas, como as do Pamplona e outras, se suprimiram; porém as particulares que há em cada uma das fazendas, ainda a maior parte delas se conserva".  Eram teares com que se faziam panos e estopas e "diferentes drogas de linho, algodão e lã".

A construção naval foi a atividade industrial que reuniu, junto com os engenhos, o maior número de trabalhadores por unidade de produção durante a Colônia. Nela, a divisão do trabalho era bastante acentuada e exigia-se, para certas tarefas, uma especialização muito grande.  No início, eram serviços de assistência aos navios em trânsito, quando necessitados de reparos.  Logo a seguir, ainda no século XVI, pequenas embarcações para o desenvolvimento da navegação de cabotagem começaram a ser construídas. O estaleiro mais importante era o da Bahia, por ser a capital da colônia e por estar Salvador na rota dos navios da Carreira da índia.  No século XVIII foi relativamente grande o número de navios ali construídos, inclusive galeões para a travessia oceânica, naus, fragatas, corvetas e escunas.  Havia estaleiros menores em Belém, São Luís, Recife; Ilhéus, Rio de Janeiro e São Vicente.  O de Salvador apresentava-se como "um complexo de edifícios ocupando largo espaço da ribeira e comportando fundições, carpintaria, armazéns, casa de velas, oficinas de pintores, alfaiates, etc.  Assemelhar-se-ia a uma colmeia. . ." O Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro também passou a construir embarcações de grande porte a partir de 1764. Essa indústria de construção naval estimulou o aparecimento de várias outras manifestações manufatureiras nos séculos XVII e XVIII: confecção de cordas, velas, cabos, estopas e óleos.
Além das atividades acima mencionadas, ainda poderíamos lembrar a produção de charque  e de produtos alimentícios, a preparação de fumo de corda, a fabricação do anil, a extração do sal, a produção de azeite de baleia usado na iluminação pública, a confecção de móveis, a construção civil (casas, pontes, aquedutos), como manifestações de atividades industriais e manufatureiras no Brasil Colônia.  Sem falar na atividade artesanal que era exercida, tanto nos engenhos e fazendas, como nas cidades, por ferreiros, serralheiros, carpinteiros, calafates, seleiros, ourives. sapateiros, alfaiates, caldeireiros, lapidadores, tanoeiros, latoeiros, curtidores, oleiros, e outros.  A enumeração de todas essas atividades, porém, não deve nos fazer perder de vista o verdadeiro caráter geral da colonização brasileira que foi o de "uma colônia destinada a fornecer ao comércio europeu alguns gêneros tropicais de grande expressão econômica. É para isto que se constituiu.  Nossa economia subordinar-se-á por isso inteiramente a tal fim, isto é, se organizará e funcionará para produzir e exportar aqueles gêneros.  Tudo mais que nela existe, e que, aliás, será sempre de pequena monta, é subsidiário e destinado unicamente a amparar e tomar possível a realização daquele objetivo essencial".

À medida em que a população colonial foi crescendo e começando a procurar outras iniciativas em que aplicar suas atividades, a política de restrições econômicas por parte da metrópole se acentuou. Foi proibido o cultivo da vinha, da oliveira, da pimenta, da canela e outras culturas que interferiam no comércio de Portugal com o Oriente. Tentou-se, por todos os meios, impedir a produção de sal em Cabo Frio e Mossoró, e as manufaturas de tecidos.  Finalmente, em 1785, a Rainha D. Maria I promulgou um alvará mandando fechar as manufaturas existentes no Brasil.

Indústrias no Reino e no Império - Com a transferência da Corte para o Brasil algumas medidas liberalizadoras foram adotadas. O alvará de 10. de Abril de 1808 revogou as peias do regime colonial, formulando os princípios de uma nova orientação no que diz respeito à indústria.  O de 28 de abril de 1809 estabeleceu medidas de ordem prática, concedendo isenção de direitos aduaneiros às matérias-primas necessárias às "fábricas nacionais", isenção de imposto de exportação para os produtos manufaturados no país, concessão de privilégios exclusivos, por 14 anos, aos inventores de novas máquinas, e empréstimos às manufaturas de algodão, lã, seda, ferro e aço.  Esses incentivos enquadravam-se no espírito tradicional do mercantilismo.  Se, no passado, a concessão de monopólio e privilégios tinha tido certa eficácia, o mesmo não se dava ao início do século XIX - em que as mudanças e o avanço da tecnologia se davam em ritmo acelerado.  As medidas adotadas por D. João VI quase nenhum resultado prático teriam.  Nossas "fábricas nacionais" lembravam palidamente as manufaturas reais de Colbert, pelo fato de estarem sob a tutela do Estado, que as fiscalizaria, sem, entretanto, tomá-las sob sua direção .

As conseqüências do Tratado de 1810, imposto a D. João VI pela Inglaterra, fizeram morrer no ovo as primeiras tentativas industrializantes.  De 1810 a 1844 o Brasil viveu praticamente num regime de livre-câmbio.  Após a Independência, novos tratados comerciais foram assinados, dando a outros países europeus certas vantagens concedidas à Inglaterra em- 1810.  "Não era possível, até então, implantar aqui qualquer manufatura de valor que pudesse, desde o início, competir, no preço e na qualidade dos artigos, com a indústria inglesa .  Faltava proteção alfandegária, é verdade, mas o principal obstáculo, os maiores entraves ao processo de industrialização eram a escravidão e a divisão do mercado mundial pelas grandes potências.  O protecionismo pode servir de acelerador para o crescimento industrial.  O que ele não consegue é criar as condições para o início deste processo num país economicamente atrasado e dependente.
De fato, na primeira metade do século passado, além de um sistema de transportes totalmente deficiente e rudimentar, o desenvolvimento da técnica, que constitui um dos elementos impulsionadores da expansão industrial, era entre nós freado pelo regime escravista herdado da colônia.  Predominava o latifúndio, no campo, e nas pequenas cidades da época, um atraso cultural enorme.  As maiores limitações, porém, vinham do controle exercido pela Inglaterra sobre nosso mercado e de uma escassez muito grande de capitais.  Dentro de tão vasta extensão territorial, os grandes centros populosos espalhavam-se a grandes distâncias uns dos outros.  A população, no início do século XIX, era de pouco mais de três milhões de habitantes, dos quais quase um milhão de escravos.  Numa sociedade desse tipo os consumidores ativos eram poucos.  Sem eliminação da escravidão, a solução do problema da terra e a conquista de uma real independência para a nação, uma verdadeira industrialização não poderia surgir.

Além disso, é preciso ressaltar que sem o surgimento de um mercado de trabalho, isto é, sem a existência de um grande número de trabalhadores livres e assalariados à disposição dos empresários, não era possível o pleno desenvolvimento das relações capitalistas de produção.
A população dos Estados Unidos, na época, não era quantitativamente muito superior.  Porém as diferenças sociais eram profundas.  Nos Estados Unidos uma classe de pequenos agricultores surgira ao longo do povoamento das colônias do norte e, junto com um grupo de grandes comerciantes urbanos, dominavam o país após haver obtido a independência em relação à Inglaterra, através de uma guerra de libertação, verdadeira revolução social burguesa no interior do país.  Já as classes dominantes brasileiras, formadas ao longo de um processo de colonização muito diferente, mostravam-se incapazes de seguir o mesmo caminho.  Imensas riquezas tinham sido extraídas de nosso solo mas o país continuava pobre.  Em meados do século XVII, a exportação de açúcar brasileiro chegara a ultrapassar, durante largos períodos, 3 milhões de libras anualmente.  Nessa época a exportação total da Inglaterra não alcançava aquela cifra . No século XVIII o Brasil extraiu e exportou para a Europa, em pouco mais de 50 anos, "um volume de ouro equivalente a 50% de todo o ouro produzido no mundo nos três séculos anteriores e igual a toda a produção apurada na América de 1493 a 1850"

Essas são as causas mais profundas que explicam o atraso do país e o fracasso das várias tentativas industrializantes: essa imensa riqueza aqui produzida durante os primeiros séculos foi drenada para a Europa, mais precisamente para os banqueiros ingleses, dado o tipo de relação mantida por Portugal com a Inglaterra desde os tratados de Methuen .  Enquanto esse ouro brasileiro contribuía para a acumulação primitiva de capital que iria possibilitar, na Inglaterra, a Revolução Industrial em fins do século XVIII, nossas classes dominantes, recém-saídas do período colonial, não tinham ficado sequer com as migalhas.  Estima-se em 9 a 10 mil contos todo o numerário existente no país ao findar a era colonial, sendo 2/3 em ouro e 1/3 em prata.  "Tal era o montante dos recursos de que dispúnhamos como meio circulante para todas as transações de negócios.  Para o viajante Aguirre, isso não dava para permitir economias consideráveis aos particulares, nem para a acumulação de capitais, não havendo, no Rio de Janeiro de 1782, um único que dispusesse de capital de cem contos de réis.  Assinalavam-se, como coisa extraordinária, as casas cujos donos tinham cinqüenta contos de fortuna."

Não obstante essas circunstâncias tão desfavoráveis, houve, durante a primeira metade do século XIX, várias tentativas de implantação de indústrias. Em 1819 já se instalara, no Rio, uma fábrica de tecidos, o mesmo se dando em 1824 em Minas Gerais.  Mas é apenas com a proteção relativa oferecida pela tarifa Alves Branco, em 1844, que as fiações e tecelagens puderam desenvolver-se um pouco mais.  Surgiram na Bahia, nos anos quarenta do século passado, as primeiras fábricas modernas.  Até o final da década de 60 a Bahia seria o maior "centro" têxtil do país, sendo então ultrapassada sua produção pelas tecelagens do Rio de Janeiro.  Apesar disso, sua produção era minúscula.  No Brasil todo havia apenas 9 fábricas de tecido em 1866."

Fonte: Primeiras Fábricas e Formação do Capital Industrial / Victor Leonardi in Brasil História - Texto e Consulta / Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari e Ricardo Maranhão - São Paulo: Editora Brasiliense, 1979.


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