|
|
Essas
empresas devem
seu êxito e seus lucros, aliás grandes, não somente à presença dos
estrangeiros residentes no Rio, mas ainda às casas de cômodos inglesas
e francesas, quase sempre cheias de viajantes.
|
|
||
Uma
família rica tem sempre negras lavadeiras e uma mucama encarregada
especialmente de passar as peças finas, o que a ocupa pelo menos dois
dias por semana, pois uma senhora só usa roupa passada de fresco e
renova mesmo sua vestimenta para sair um segunda vez de manhã. Mas as
casas pobres, que só possuem um negro, mandam-no lavar roupa nos
chafarizes da cidade, principalmente no da Carioca ou no do Campo de
Sant’Ana , ambos cercados de vastos tanques especialmente destinados a
esse fim. Por isso ai se encontram dia e noite lavadeiras, cujo bater
de roupa se ouve de longe.
Graças a esse clima feliz, vêem-se as negras reunidas diariamente à beira do mesmo riacho límpido, ocupadas em corar a roupa ao lado das que ensaboam de um modo infinitamente econômico, servindo-se unicamente de vegetais saponáceos, como a folha de aloés (babosa) e a folha da árvore chamada timbubá, bem como as de muitas outras. Assim, as lavadeiras deixam aos citadinos a despesa bastante onerosa do sabão estrangeiro, pois o que se fabrica no Brasil é de cor escura e impróprio para a roupa fina. Quanto às musselinas, que não poderriam suportar a fricção de uma folha sem se esgarçarem, são lavadas estendendo-se sobre a grama, ao sol, e regando-se constantemente, à medida que secam. Esse tipo de lavagem em geral adotado, é muito cômodo e economiza bastante a roupa. |
Lavadeiras à beira do rio - Registros de Debret - Início do século XI, no Rio de Janeiro. |
||
Emprega-se
também a bosta de cavalo e o suco de limão, esta para fixar as cores do
algodão estampado. As lavadeiras brasileiras, aliás muito mais
cuidadosas que as européias, têm a vaidade de entregar a roupa não
somente bem passada e arranjada em ordem dentro de uma cesta, mas ainda
perfumada com flores odoríferas, tais como a rosa de quatro estações
(única no Rio de Janeiro), o jasmim e a esponja, florzinha cujo cheiro
forte seria desagradável em grande quantidade; especialmente destinada
a esse fim, vendem-na nas ruas em pequenos ramalhetes com cerca de
quarenta flores arranjadas em torno de uma vareta. A esponja, flor
flosculosa, de um dedo de grossura, floresce numa árvore da família das
acácias (mimosas), cultivadas em todas as chácaras.
|
|||
No
século passado no Rio de Janeiro, a lavadeira, vestida geralmente de
chita, lenço amarrado a cabeça, e calçada de tamancos, a lavadeira
traz, uma ou duas vezes por semana, da casa da freguesa, a trouxa de
roupa, que é lavada em tina colocada do lado de fora da casa à guisa de
tanque. A água utilizada é apanhada nas bicas, quando existem, sendo
algumas vezes obtidas em casas que possuem água corrente em quantidade
superior às necessidades. Quando há "minas", no morros, o proprietário
aumenta certa quantia no aluguel da lavadeira profissional, levando em
conta a quantidade média de água que gasta. Em latas sobre a cabeça, é
carregada pela própria
lavadeira que paga, porém. a outra pessoa, geralmente um menino quando, por um motivo qualquer, não pode fazê-lo. Outras vezes, paga pela concessão de colocar a tina perto da mina, tendo então, maior facilidade no trabalho. O coradouro é constituído de quatro ripas de madeira ou bambu, sobre as quais são colocadas outras horizontalmente, em virtude de o pequeno espaço não permitir o de grama ou capim. Em cordas (varais) do lado de fora da casa, é posta a roupa a secar. Quando chove há necessidade de recolhê-la e .estender as cordas no interior da casa, o que não constitui problema muito sério quando o barraco possui mais de um cômodo. Do mesmo modo que o sabão e o anil, o carvão para o ferro de engomar é adquirido pela lavadeira, sendo raras as. freguesas que os pagam separadamente. Pronta e engomada a roupa, é ela arrumada em pilhas para ser entregue. Geralmente é enrolada em uma toalha apropriada, de saco alvejado, com renda grossa ou franja nos pontos. Hoje, porém, notamos outra tendência: pelo fato de lavarem para pontos diferentes da cidade, as lavadeiras se acostumaram a embrulhar a roupa em papel grosso e resistente, de sacas de cimento, que não se rompem nos bondes ou trens. O trabalho da lavadeira é, algumas vezes, realizado na casa da freguesa, onde lucra a possibilidade de melhor alimentação e maior facilidade de trabalho. Não é esse, porém, o comum dos casos. A necessidade de ter freguesas mais numerosas e de cuidar dos filhos, além da liberdade de tratar dos misteres domésticos faz com que a roupa seja levada para lavar em casa. |
Lavadeiras - Ilustração de Percy Lau |
|
|
Premida
pelas dificuldades da vida a auxiliar o marido, a lavadeira tem, outras
vezes, a seu cargo, a direção da família da qual se torna o verdadeiro
chefe e que essa muda heroína da favela
consegue manter com o seu esforço humilde e sem glória. Em Minas Novas, às margens do rio Fanado, onde garimpeiros extraíam ouro de suas areias, hoje as lavadeiras quaram suas roupas nas pedras. Quarar: expor a roupa ao sol para branquear. |
Lavadeiras em Minas Novas - Foto de Saulo Mazzoni |
|
Deixe seu comentário: | Deixe seu comentário: | |
Correio eletrônico | ||
Livro de visitas |