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Lavadeiras
É de 1816 que data a inovação, no Rio, da indústria da lavagem de roupa. Essa época coincide também com a chegada de inúmeros estrangeiros à capital. Esse novo ramo de atividade, pouco a pouco desenvolvido, já tomara grande incremento em 1822, graças à presença, no momento, de uma multidão de indivíduos atraídos pela solenidade da sagração do imperador.
Com efeito, antes da implantação dessa indústria européia, o brasileiro de todas as classes fazia lavar sua roupa pelo seu escravo.

A indústria importada da Europa tornou-se uma fonte de recursos para algumas famílias brasileiras da classe média; assim, por exemplo, a viúva de um funcionário com vários filhos, cuja módica pensão não basta; assim a mulata viúva de um artífice, que não pode manter seu estabelecimento com operários pouco habilidosos; 
a solteirona, etc.
Lavadeiras Caboclas
Caboclas lavadeiras
Debret representa no desenho famílias de lavadeiras caboclas, residentes no Rio de Janeiro há muitos anos. Reúnem-se diariamente de manhã para ir lavar roupa á beira do pequeno rio que passa sob a ponte do Catete, um dos arrabaldes da cidade. Aí ficam o dia inteiro, só voltando ao cair da tarde.
Bem antes de sua chegada ao Rio de Janeiro, já havia um grande número de caboclos empregados no serviço particular dos ricos proprietários do interior do Brasil. 
E como os indivíduos que compõem essa classe possuem em geral um certo número de escravos de ambos os sexos, torna-se vantajoso alugar uma chácara perto de um rio, a fim de empregar as negras como lavadeiras; uma ou duas das mais inteligentes são encarregadas de passar a roupa, e a digna de maior confiança vai entregá-la na cidade e receber o pagamento.
Essas empresas devem seu êxito e seus lucros, aliás grandes, não somente à presença dos estrangeiros residentes no Rio, mas ainda às casas de cômodos inglesas e francesas, quase sempre cheias de viajantes. 
Uma família rica tem sempre negras lavadeiras e uma mucama encarregada especialmente de passar as peças finas, o que a ocupa pelo menos dois dias por semana, pois uma senhora só usa roupa passada de fresco e renova mesmo sua vestimenta para sair um segunda vez de manhã. Mas as casas pobres, que só possuem um negro, mandam-no lavar roupa nos chafarizes da cidade, principalmente no da Carioca ou no do Campo de Sant’Ana , ambos cercados de vastos tanques especialmente destinados a esse fim. Por isso ai se encontram dia e noite lavadeiras, cujo bater de roupa se ouve de longe.
Graças a esse clima feliz, vêem-se as negras reunidas diariamente à beira do mesmo riacho límpido, ocupadas em corar a roupa ao lado das que ensaboam de um modo infinitamente econômico, servindo-se unicamente de  vegetais saponáceos, como a folha de aloés (babosa) e a folha da árvore chamada  timbubá, bem como as de muitas outras. Assim, as lavadeiras deixam aos citadinos a despesa bastante onerosa do sabão estrangeiro, pois o que se fabrica no Brasil é de cor escura e impróprio para a roupa fina. Quanto às musselinas, que não poderriam suportar a fricção de uma folha sem se esgarçarem, são lavadas estendendo-se sobre a grama, ao sol, e regando-se constantemente, à medida que secam. Esse tipo de lavagem em geral adotado, é muito cômodo e economiza bastante a roupa.
Lavadeiras à beira do rio
Lavadeiras à beira do rio -  Registros de Debret - Início do século XI, no Rio de Janeiro.
Emprega-se também a bosta de cavalo e o suco de limão, esta para fixar as cores do algodão estampado. As lavadeiras brasileiras, aliás muito mais cuidadosas que as européias, têm a vaidade de entregar a roupa não somente bem passada e arranjada em ordem dentro de uma cesta, mas ainda perfumada com flores odoríferas, tais como a rosa de quatro estações (única no Rio de Janeiro), o jasmim e a esponja, florzinha cujo cheiro forte seria desagradável em grande quantidade; especialmente destinada a esse fim, vendem-na nas ruas em pequenos ramalhetes com cerca de quarenta flores arranjadas em torno de uma vareta. A esponja, flor flosculosa, de um dedo de grossura, floresce numa árvore da família das acácias (mimosas), cultivadas em todas as chácaras.
No século passado no Rio de Janeiro, a lavadeira, vestida geralmente de chita, lenço amarrado a cabeça, e calçada de tamancos, a lavadeira traz, uma ou duas vezes por semana, da casa da freguesa, a trouxa de roupa, que é lavada em tina colocada do lado de fora da casa à guisa de tanque. A água utilizada é apanhada nas bicas, quando existem, sendo algumas vezes obtidas em casas que possuem água corrente em quantidade superior às necessidades. Quando há "minas", no morros, o proprietário aumenta certa quantia no aluguel da lavadeira profissional, levando em conta a quantidade média de água que gasta. Em latas sobre a cabeça, é carregada pela própria
lavadeira que paga, porém. a outra pessoa, geralmente um menino quando, por um motivo qualquer, não pode fazê-lo. Outras vezes, paga pela concessão de colocar a tina perto da mina, tendo então, maior facilidade no trabalho.
O coradouro é constituído de quatro ripas de madeira ou bambu, sobre as quais são colocadas outras horizontalmente, em virtude de o pequeno espaço não permitir o de grama ou capim.

Em cordas (varais) do lado de fora da casa, é posta a roupa a secar. Quando chove há necessidade de recolhê-la e .estender as cordas no interior da casa, o que não constitui problema muito sério quando o barraco possui mais de um cômodo.
Do mesmo modo que o sabão e o anil, o carvão para o ferro de engomar é adquirido pela lavadeira, sendo raras as. freguesas que os pagam separadamente.
Pronta e engomada a roupa, é ela arrumada em pilhas para ser entregue. Geralmente é enrolada em uma toalha apropriada, de saco alvejado, com renda grossa ou franja nos pontos. Hoje, porém, notamos outra tendência: pelo fato de lavarem para pontos diferentes da cidade, as lavadeiras se acostumaram a embrulhar a roupa em papel grosso e resistente, de sacas de cimento, que não se rompem nos bondes ou trens.

O trabalho da lavadeira é, algumas vezes, realizado na casa da freguesa, onde lucra a possibilidade de melhor alimentação e maior facilidade de trabalho. Não é esse, porém, o comum dos casos. A necessidade de ter freguesas mais numerosas e de cuidar dos filhos, além da liberdade de tratar dos misteres domésticos faz com que a roupa seja levada para lavar em casa.
Lavadeiras
Lavadeiras - Ilustração de Percy Lau
Premida pelas dificuldades da vida a auxiliar o marido, a lavadeira tem, outras vezes, a seu cargo, a direção da família da qual se torna o verdadeiro chefe e que essa muda heroína da favela
consegue manter com o seu esforço humilde e sem glória.



Em Minas Novas, às margens do rio Fanado, onde garimpeiros extraíam ouro de suas areias, hoje as lavadeiras quaram suas roupas nas pedras.



Quarar:
expor a roupa ao sol para branquear.
Lavadeiras em Minas Novas
Lavadeiras em Minas Novas -  Foto de Saulo Mazzoni

Fontes: Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil / Jean Baptiste Debret. – São Paulo: Círculo do Livro, sem data.
A Lavadeira / Eloísa de Carvalho  in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia /
Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970
Lavadeiras em Minas Novas in Caminhos de Minas / apresentação de Francisco Iglésias; texto de Sebastião Martins; foto de Saulo Mazzoni. – São Paulo:Editoração Publicações e Comunicações, 1992.


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