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Islamismo
Meca e Corão
Meca e Corão 
O Islã, religião fundada por Maomé na Arábia no séc. VII, divulgou-se na Ásia e, em menor medida, na África e na Europa.
Maomé recebeu de Deus a revelação corânica. O Corão ou Alcorão e o hadith (tradição do Profeta) formam a tradição (sunna), que serve de modelo imperativo aos muçulmanos.
O dogma principal do Islã é a existência de Deus (Alá), ser supremo único, infinitamente perfeito, criador do universo e juiz soberano dos homens. O Islã reafirma, portanto, o fundamento das religiões monoteístas, precedentemente reveladas, o judaísmo e o cristianismo, e aperfeiçoa a revelação divina.


A adesão ao Islã repousa em cinco atos essenciais, ou pilares do Islã:
- a profissão de fé, ou chahada, que consiste na recitação da fórmula: “Eu testemunho que não há outra divindade além de Alá e que Maomé é seu enviado”;
- a prece legal ou salat; o fiel, purificado pelas abluções, cumpre cinco vezes por dia, na direção de Meca, um conjunto estritamente regulamentado, de invocações e de prosternações diante de Alá;
- a observância do jejum diurno durante o mês de ramadã;
- a peregrinação a Meca, ou hadjdj, que todo fiel sadio deve realizar uma vez na vida;
- o pagamento da esmola legal, ou zakat (uso que, pouco a pouco, desapareceu).
Tais práticas põem o crente em relação direta com Deus.
Não existe um clero muçulmano. Em compensação, homens da lei (mufti, que dão parecer autorizado sobre questões jurídicas, e qadis ou cádis (juízes) velam pela aplicação da lei corânica (chari’a).

Os muçulmanos formam uma comunidade (umma). A comunidade primitiva de Medina organizou-se em um Estado cujo chefe (imã ou califa) era encarregado de fazer aplicar a lei corânica. Pelas conquistas da guerra santa (djihad), esse Estado se estendeu e tornou-se um vasto império, governado pelos califas da Arábia, depois pelos omíadas, pelos abácidas e, enfim pelos otomanos.
Mas, a partir do séc. IX, presenciou-se certa separação prática entre poder temporal e espiritual: os soberanos asseguraram o poder em uma região, reconhecendo o imã-califa como chefe espiritual da comunidade. Assim se constituíram os Estados muçulmanos. O califado foi abolido a partir de 1924, e os Estados modernos regem o mundo muçulmano contemporâneo. Mas, quer esses Estados, tenham adotado Constituição laica (Tunísia, Turquia) quer continuem submetidos às leis do Corão, o Islã continua a desempenhar um papel político de primeira ordem como alma da resistência à colonização européia dos séculos XIX e XX ou como valor de identificação nacional ou cultural, reivindicada pelas nações contemporâneas.
Corão
Corão: foto gentilmente cedida e enviada por Melina (de Beirute)


OS PILARES DO ISLÃ

"Entre comunidades variadas, vivendo num vasto círculo de terras que se estendiam do Atlântico ao golfo Pérsico, separadas por desertos, sujeitas a dinastias que subiam, caíam e competiam umas com as outras pelo controle de recursos limitados, havia apesar disso um laço comum: a princípio o grupo dominante, e mais tarde a maioria de seus membros, eram muçulmanos, vivendo sob a autoridade da Palavra de Deus, o Corão, revelada ao Profeta Maomé em língua árabe. Os que aceitavam o Islã formavam uma comunidade (umma). "Sois a melhor umma produzida para a humanidade, acolhendo o bem, rejeitando o que é desaprovado, acreditando em Deus"; estas palavras do Corão expressam uma coisa importante sobre os adeptos do Islã. Esforçando-se por entender e obedecer os mandamentos de Deus, homens e mulheres criaram um relacionamento correto com Ele, mas também uns com os outros. Como disse o Profeta em sua "peregrinação  a deus": "Sabei que todo muçulmano é irmão de um muçulmano, e que os muçulmanos são irmãos".
Certos atos ou rituais desempenhavam um papel especial na manutenção do senso de filiação a uma comunidade. Eram obrigatórios para todos os muçulmanos capazes de observá-los, e criaram um elo não apenas entre os que os praticavam juntos, mas entre sucessivas gerações. A idéia de uma silsila, uma cadeia de testemunhas que se estendia do Profeta até o fim do mundo, passando a verdade por transmissão direta de uma geração para outra, foi de grande importância na cultura islâmica; num certo sentido, essa cadeia formava a verdadeira história da humanidade, por trás da ascensão e queda de dinastias e povos.

Esses atos ou rituais eram comumente conhecidos como os "Pilares do Islã". O primeiro deles era o shahada, o testemunho de que "só há um Deus, e Maomé é o Seu Profeta". O dar esse testemunho era o ato formal pelo qual uma pessoa se tornava muçulmana, e era repetido
diariamente nas preces rituais. Continha em essência os artigos de fé pelos quais os muçulmanos se distinguiam dos descrentes e politeístas, e também dos judeus e cristãos, que se incluíam na mesma tradição de monoteísmo: que só há um Deus, que Ele revelou Sua Vontade à humanidade através de uma linha de profetas, e que Maomé é o Profeta em que a linha culmina e termina, "o Selo dos profetas".
Uma afirmação ritual desse credo básico devia ser feita diariamente na prece ritual, salat, o segundo dos Pilares. A princípio, a salat era praticada duas vezes por dia, mas depois veio a aceitar-se que devia ter lugar cinco vezes por dia: ao amanhecer, ao meio-dia, no meio da tarde, após o crepúsculo e na primeira parte da noite. As horas de prece eram anunciadas por uma convocação pública (adhan) feita por um muezim (mu'adhdhin), de um lugar elevado, em geral uma torre ou minarete junto a uma mesquita. A prece tinha uma forma fixa. Após uma ablução ritual (wudu'), o fiel executava uma série de movimentos do corpo - curvava-se, ajoelhava-se, prostrava-se no chão - e dizia várias preces imutáveis, proclamando a grandeza de Deus e a baixeza do homem em Sua presença. Depois de ditas essas preces, podia também haver súplicas ou pedidos individuais (du 'a).

Essas preces podiam ser ditas em qualquer parte, a não ser em algumas tidas como impuras, mas julgava-se um ato digno de louvor rezar em público com os outros, num oratória ou mesquita (masjid). Uma prece em particular devia ser feita em público: a prece do meio-dia na sexta-feira se fazia numa mesquita de um tipo especial (jami'), com um púlpito (minbar). Após as preces rituais, um pregador (khatib) subia no púlpito e fazia um sermão (khutba), que também seguia uma forma mais ou menos regular: louvor a Deus, invocação de bênçãos sobre o Profeta, uma homília moral muitas vezes tratando de assuntos públicos da comunidade como um todo, e finalmente a invocação da bênção de Deus para o soberano. Ser assim mencionado no khutba passou a ser encarado como um dos sinais de soberania.
Meca
Meca: foto gentilmente cedida e enviada por Melina (de Beirute)
Um terceiro Pilar era, em certo sentido, uma extensão do ato de culto. Era o zakat, as doações tiradas da própria renda para certos fins específicos: para os pobres, os necessitados, o socorro aos endividados, a libertação de escravos, o bem-estar dos viajantes. Dar o zakat era visto como uma obrigação para aqueles cuja renda ultrapassava uma certa quantia. Eles deviam doar uma proporção de sua renda, que era coletada e distribuída pelo soberano ou seus funcionários, mas outras esmolas podiam ser dadas a homens da religião, para que as distribuíssem, ou então diretamente aos necessitados.

Havia mais duas obrigações não menos compulsórias para os muçulmanos, mas a serem cumpridas com menos freqüência, como solenes lembranças da soberania de Deus e da submissão do homem a Ele, a certa altura do ano litúrgico. (Para fins religiosos, o calendário usado era o do ano lunar, mais ou menos onze dias mais curto que o ano solar. Assim, essas cerimônias podiam ser realizadas em diferentes estações do ano solar. O calendário usado para fins religiosos, e também nas cidades, não podia ser usado pelos lavradores, para os quais os acontecimentos importantes eram as chuvas, a inundação dos rios, as variações de calor e frio. Em sua maioria, recorriam a calendários solares mais antigos.)
Os dois Pilares eram o sawn, ou jejum uma vez por ano, no mês do Ramadan, e o hadj, ou peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida. Durante o Ramadan, mês em que o Corão foi revelado, todos os muçulmanos acima dos dez anos eram obrigados a abster-se de comer e beber, e de manter relações sexuais, do amanhecer ao anoitecer;  faziam-se exceções para os que se encontravam muito debilitados fisicamente, os doentes mentais, os ocupados em trabalho pesado ou na guerra, e os viajantes. Isso era encarado como um ato solene de arrependimento dos pecados, e uma negação do eu em favor de Deus; o muçulmano que jejuava devia começar o dia com uma declaração de intenção, por vezes passava a noite em preces rituais. Aproximando-se de Deus dessa maneira, os muçulmanos também estariam se  aproximando uns dos outros. A experiência do jejum em companhia de toda a aldeia ou cidade fortalecia o senso de uma comunidade única espalhada no tempo e no espaço; as horas após o anoitecer podiam ser dedicadas a visitas e refeições feitas em comum; o fim do Ramadan era comemorado como uma das duas grandes festas do ano litúrgico, com dias de banquetes, visitas e presentes ('id al-fitr).

Pelo menos uma vez na vida, todo muçulmano que pudesse fazer a peregrinação a Meca devia fazê-Ia. Podia visitá-Ia em qualquer época do ano ('umra), mas ser um peregrino no sentido pleno era ir lá com outros peregrinos numa época especial do ano, o mês de Dhu'l-Hijja. Não eram obrigados a ir os que não eram livres nem bons da cabeça, os que não possuíam os recursos financeiros necessários, os abaixo de certa idade e, segundo algumas autoridades, as mulheres que não tinham marido nem guardião para acompanhá-Ias. Descrições de Meca e do hadj feitas no século XII mostram que nessa época havia concordância sobre como o peregrino devia conduzir-se e o que podia esperar encontrar no fim de sua jornada.
Meca
No centro do haram fica a Caaba...
Meca
A maioria dos peregrinos vão em grandes grupos...
fotos gentilmente cedida e enviada por Melina (de Beirute)
A maioria dos peregrinos ia em grandes grupos, reunidos numa das grandes cidades do mundo muçulmano. No período mameluco, as peregrinações que partiam do Cairo e Damasco eram as mais importantes. As do Magreb iam por mar ou terra até o Cairo, ali se encontravam com os peregrinos egípcios, atravessavam por terra o Sinai e desciam a Arábia Ocidental até as cidades santas, uma caravana organizada, protegida e conduzi da em nome do soberano do Egito. A viagem desde o Cairo levava entre trinta e quarenta dias, e no fim do século XV talvez de 30 mil a 40 mil peregrinos a faziam todo ano.
Os da Anatólia, Irã, Iraque e Síria reuniam-se em Damasco; a jornada, também em caravana organizada pelo soberano de Damasco, levava igualmente de trinta a quarenta dias, e sugeriu-se que uns 20 mil a 30 mil peregrinos podiam ir todo ano. Grupos menores partiam da África Ocidental, atravessando o Sudão e o mar Vermelho, e do sul do Iraque e dos portos do golfo Pérsico, através da Arábia Central.
Num certo ponto, ao aproximar-se de Meca, o peregrino purificava-se com abluções, punha uma roupa branca feita de uma única peça de tecido, o ihram, e proclamava sua intenção de fazer a peregrinação por uma espécie de ato de consagração:
"Eis-me aqui, Ó meu Deus, eis-me aqui; não tendes igual, eis-me aqui; verdadeiramente Vosso é o louvor e a graça, e o império".
Assim que chegava a Meca, o peregrino entrava na área sagrada, o haram, onde havia vários sítios e prédios de associações santas. No século XII, o mais tardar, esses lugares já tinham tomado a forma que iriam manter: o poço de Zamzam, que se acreditava tivesse sido aberto pelo anjo Gabriel para salvar Agar e seu filho Ismael; a pedra em que estava gravada a pegada de Abraão; alguns lugares associados aos imãs de diferentes madhhabs. No centro do haram ficava a Caaba, o prédio retangular que Maomé expurgara de ídolos e fizera o centro da devoção muçulmana, com a Pedra Negra incrustada numa das paredes. Os muçulmanos contornavam a Caaba sete vezes, tocando ou
beijando a Pedra Negra ao passarem por ela. No oitavo dia do mês, deixavam a cidade e seguiam para o monte 'Arafa, a leste. Ali, ficavam de pé algum tempo, pois esse era um ato essencial da peregrinação. Na volta a Meca, em Mina, realizavam-se mais dois atos simbólicos: atirar pedras a uma coluna que representava o Diabo, e sacrificar um animal. Isso assinalava o fim do período de devoção que começara com o ato de vestir o ihram; o peregrino tirava a roupa e voltava aos costumes da vida comum.
A peregrinação era, sob muitos aspectos, o acontecimento central do ano, talvez de toda uma vida, aquele em que mais plenamente se expressava a unidade dos muçulmanos uns com os outros. Em certo sentido, era um epítome de todos os tipos de viagem. Os que iam rezar em Meca podiam ficar para estudar em Medina; podiam trazer mercadorias consigo para pagar as despesas da jornada; mercadores acompanhavam a caravana, com produtos para vender no caminho das cidades santas.
A peregrinação era também uma oportunidade para o intercâmbio de notícias e idéias trazidas de todas as partes do mundo do Islã.
O hadj era um ato de obediência ao mandamento de Deus, expresso no Corão: "É dever de todos os homens para com Deus ir à Casa como peregrino, se pode fazer a jornada até lá". Era uma profissão de fé no Deus único, e também uma expressão visível da unidade da umma. Os muitos milhares de peregrinos de todo o mundo muçulmano faziam a peregrinação ao mesmo tempo; juntos contornavam a Caaba, ficavam de pé no 'Arafa, apedrejavam o Diabo e sacrificavam seus animais. Ao fazerem isso, estavam ligados a todo o mundo do Islã. A partida e retorno de peregrinos eram assinalados por comemorações oficiais, registrados nas crônicas locais, e em tempo posteriores pelo menos descritos nas paredes das casas. No momento em que os peregrinos
sacrificavam seus animais em Mina, toda família muçulmana também matava um animal, para abrir a outra grande festa popular do ano, a Festa do Sacrifício ('id al-adha).

O senso de pertencer a uma comunidade de fiéis expressava-se na idéia de que era dever dos muçulmanos cuidar das consciências uns dos  outros, proteger a comunidade e estender seu âmbito onde possível. A jihad, guerra contra os que ameaçavam a comunidade, fossem eles infiéis hostis de fora ou não muçulmanos de dentro que rompessem seu acordo de proteção, era em geral encarada como uma obrigação praticamente equivalente a um dos Pilares. O dever da jihad, como os outros, baseava-se nas palavras do Corão: "Ó tu que crês, combate o infiel que tens perto de ti". A natureza e extensão da obrigação eram  cuidadosamente definidas pelos autores legais. Não era uma obrigação individual de todos os muçulmanos, mas da comunidade, de fornecer um número suficiente de combatentes. Após a grande expansão do Islã nos primeiros séculos, e com o início do contra-ataque da Europa Ocidental, a jihad tendeu a ser encarada mais em termos de defesa que de expansão.
Meca
Mecafoto gentilmente cedida e enviada por Melina (de Beirute)
Claro, nem todos que se diziam muçulmanos levavam essas obrigações igualmente a sério, nem davam o mesmo sentido ao seu cumprimento. Havia diferentes níveis de convicção individual, e diferenças em geral entre o Islã da cidade, do campo e do deserto. Havia uma gama de observância que ia do estudioso ou mercador devoto da cidade, que fazia as preces diárias e o jejum anual, capaz de pagar o zakat e fazer a peregrinação, até o beduíno comum, que não rezava regularmente nem jejuava no Ramadan, porque vivia toda a sua vida à beira da privação, não fazia aperegrinação, mas ainda assim professava que só há um Deus e Maomé é Seu Profeta.

Estima-se em 1,6 bilhão o número de muçulmanos, o que representa 23,2% da população mundial. A Ásia ocupa o primeiro lugar, com 61,7%; em segundo lugar vem a África 19,8% no norte da África e 15,5% na África Subsaariana. a Europa responde por apenas 2,7% dos muçulmanos do mundo, mas eles são quase 43,5 milhões, o equivalente a 5,9% da população europeia. Estimativade 2009.

Fontes : Grande Enciclopédia Larousse Cultural - São Paulo: Editora Nova Cultural, 1988
Uma história dos povos Árabes / Albert Hourani ; tradução de Marcos Santarrita. - São Paulo :
Companhia das Letras, 1994
Estimativa :
https://orientemedioemfoco.wordpress.com/2012/12/19/quantos-muculmanos-existem-no-mundo

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