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Os
Colégios dos Jesuítas |
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Os
colégios dos Jesuítas nos primeiros dois séculos, depois os seminários
e colégios de padre, foram os grandes focos de irradiação de cultura no
Brasil colonial. Aqueles estenderam tentáculos até os matos e sertões.
Descobriram os primeiros missionários que andavam nus e à toa pelos
matos meninos quase brancos, descendentes de normandos e
portugueses. E procuraram recolher aos seus colégios esses
joões-felpudos. Foi uma heterogênea população infantil a que se reuniu
nos colégios dos padres, nos séculos XVI e XVII: filhos de caboclos
arrancados dos pais; filhos de normandos encontrados nos matos; filhos
de portugueses; mamelucos; meninos órfãos vindo de Lisboa. Meninos
louros, sardentos, partos, morenos, cor de canela. |
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Terão
sido os pátios de tais colégios um ponto de encontro e de amalgamento
de tradições indígenas com as européias; de intercâmbio de brinquedos;
de formação de palavras, jogos e superstições mestiças. O bodoque de
caçar passarinho, dos meninos indígenas, o papagaio de papel, dos
portugueses, a bola de borracha, as danças, etc., terão aí se
encontrado, misturando-se.
Só negros e
muleques parecem ter sido barrados das primeiras escolas jesuíticas.
Negros e muleques retintos. Porque a favor dos pardos levantou-se no
século XVII a voz del-rei num documento que honra a cultura portuguesa
e deslustra o cristianismo dos jesuítas. O rei de Portugal escreveu em
1686 ao seu representante no Brasil: “Honrado
Marquez das Minas Amigo. Eu Elrey vos envio muito saudar como aquele
que prezo. Por parte dos nossos pardos dessa Cidade, se me propoz aqui
que estando de posse ha muitos annos de estudarem nas Escolas publicas
do Collegio dos Religiozos da Companhia, novamente os excluirão e
querião admitir, sendo que nas escolas de Evora e Coimbra erão
admitidos, sem que a cor de pardo lhes servisse de impedimento.
Pedindo-me mandasse que os taes Religiozos
os admitissem nas escolas desse Estado, como o são nas outras do Reyno.
E pareceo-me ordenar-vos (como por esta o faço) que houvindo aos Padres
da Companhia vos informeis se são obrigados a ensinar nas escolas desse
Estado e constando-vos que assim he os obrigareis a que não excluão a
estes mossos geralmente só pela qualidade de pardos, por que as escolas
de sciencias devem ser igualmente comuns a todo o genero de pessoas sem
excepção alguma. Escripta em Lisboa a 20 de Novembro de 1686. Rey.”
(Carta Régia, doc. 881 bis, seção de mss. da Biblioteca Nacional, Rio
de Janeiro).
“por que as escolas de
sciencias devem ser igualmente comuns a todo o genero de pessoas sem
excepção alguma”
- são palavras que quase não se acredita virem até nós do remoto século
XVII.
O
escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro (continuação)
in Casa
Grande e Senzala / Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do
Livro S. A., s/ data.
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