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As Missões (reduções) Jesuíticas
“Os Jesuítas reduziram as várias hordas da nação a uma vida sedentária em grandes aldeias denominadas Reduções, cujo número pelos anos de 1630 subia de 20 com 70.000 habitantes. Cada uma das Reduções, por outro nome Missões, era uma  considerável, ou grande vila; e todas por um mesmo risco com ruas direitas e encruzadas em angulos retos; as casas geralmente térreas, cobertas de telha, branqueadas, e com varandas pelos lados para preservarem do calor e da chuva; de sorte que vendo uma, se forma ideia verdadeira das outras...
Um vigário, e um cura, ambos Jesuítas, eram os únicos eclesiásticos e suficientes para
Missões
Missões Jesuíticas
exercer todas as funções paroquiais; sendo ainda os inspetores em toda a economia civil, debaixo de cuja direção havia corregedores eleitos anualmente, um cacique vitalício, e outros oficiais, cada um com sua inspeção e alçada. A exceção destes, todos os indivíduos d’um e outro sexo usavam uma camisola talar, ou quase de algodão  branco...
Tudo passava à vista dos corregedores, ou d’outros subalternos”. (Aires de Casal). Puro regime de internato de colégio de padre. Ou de orfanato. Tudo aparado por igual. Sedentariedade absoluta. Grande concentração de gente. Severa vigilância e fiscalização. A nudez dos caboclos tapada, em todos os homens e mulheres, com feias camisolas de menino dormir.
Uniformidade. As raparigas à parte, segregadas dos homens. Enfim, o regime jesuítico que se apurou no Paraguai, e que, em forma mais branda dominou no Brasil, por isso mesmo que admiravelmente eficiente, foi um regime destruidor de quanto nos indígenas era alegria animal, frescura, espontaneidade, ânimo combativo, potencial de cultura; qualidade e potencial que não poderiam subsistir à total destruição de hábitos de vida sexual, nômade e guerreira, arrancados de repente dos indígenas reunidos em grandes aldeias."

Casa Grande e Senzala / Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do Livro S. A., s/ data.

As missões geralmente acompanharam as migrações dos indígenas à medida que estes fugiam dos principais centros de colonização, tentando escapar da escravização a que os colonos os submetiam. Dessa forma  fixaram-se principalmente no sertão, em regiões que não apresentavam atrativos de exploração imediata, o que não quer dizer que estivessem isentas de investidos, que não formassem elas mesmas um alvo de cobiça dos colonizadores, pela quantidade de índios domesticados que aldeavam.
Seus principais redutos localizaram-se no deserto do norte do México, nas orlas da floresta amazônica e no interior da América do Sul. Pela forma com que se organizaram, evoluíram como economias voltadas para a produção de excedentes comercializáveis pelos religiosos. 
Vale a pena citar um trecho de um estudo recente sobre o assunto: "Este modo de produção subsiste teve uma gravitação decisiva na extensa região que atualmente compreende a República do Paraguai, grande parte das províncias argentinas de Missões, Corrientes, Santa Fé, Chaco e Formosa, o Estado brasileiro do Paraná e os departamentos de Artigas, Salto, Paissandu, Rio Negro e Tacuarembo na República Oriental do Uruguai.

Missões
Planta da Missão jesuítica de São João Batista - Arquivo Geral de Simancas, Espanha
É um dos Sete Povos das Missões, situado no atual Rio Grande do Sul, fundado em 1697. Todos os
povoados seguiam a mesma estrutura urbanística. Após a demarcação da igreja e da praça central eram
 traçadas as demais construções. De um lado da igreja, ficava a casa dos padres e as oficinas de arte e
de trabalho. No outro lado, o cemitério e o cotiguaçu, a casa que abrigava as viúvas. Essa planta de 1755 foi ilustrada com uma festa religiosa, ao centro.
A difusão geográfica deste modo de produção foi bastante ampla. Com relação a suas características geográficas, chegou a compreender, durante o século XVIII, a uns 130.000 indígenas, cifra muito alta se recordarmos as da população total da região.
Este modo de produção, chamado despótico-aldeão ou despótico-comunitário, teve como fenômeno fundamental a recriação por parte do branco de uma comunidade indígena organizada em "pueblos" (aldeias) tendo em vista uma exploração mais racional da mão-de-obra indígena.
Os "pueblos" funcionassem até à expulsão em 1768 , como unidades produtivas relativamente autárquicas, que, embora mantivessem certa comunicação entre si, viviam totalmente separadas do resto da sociedade branca, com a qual se relacionavam economicamente apenas por meio da rede administrativa da Companhia de Jesus. ... Porém não devemos nos enganar sobre o sentido final dessa subtração de mão-de-obra efetuada pelos jesuítas aos 'encomenderos'. Obviamente a organização jesuítica significou também para os indígenas um sistema de exploração, na medida em que teve ela como resultado uma destruição quase total de seus valores culturais, além da pura espoliação econômica."

As "Guerras Guaraníticas"

As "partidas de limites" do sul foram comandadas pelo capitão-general do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, e pelo marquês espanhol, Val de Lírios. Estas comissões chegaram a constituir-se, mas logo tiveram seus trabalhos dificultados, pela oposição das populações indígenas dos Sete Povos aos destinos que o Tratado de Madrid lhes dava. Nas palavras de Darcy Ribeiro em "As Américas e a Civilização", essas missões constituíam "a tentativa mais bem sucedida da Igreja Católica para cristianizar e assegurar um refúgio às populações indígenas, ameaçadas de absorção ou escravização pelos diversos núcleos de descendentes de povoadores europeus, para organizá-las em novas bases, capazes de garantir sua subsistência e seu progresso". Pelo tratado, elas deveriam ser transferidas para as margens ocidentais do rio Uruguai, o que representaria "Para os guaranis das sete reduções condenadas (...) a espoliação, a ruína e o infortúnio, a destruição do trabalho de muitas gerações, a deportação de mais de trinta mil pessoas, segundo as cifras mais modestas". Quando os indígenas souberam o que os esperava, por decisão comum de portugueses, do rei de Espanha e da própria Companhia de Jesus, que enviou emissários, entre eles o Padre Lopes Luís Altamirano, para impor-lhes a obediência, assim se expressaram seus chefes: "Como poderá a vontade de Deus ser que vós tomeis e arruineis tudo o que nos pertence? Aquilo que possuímos é exclusivamente o fruto de nossas fadigas, e o nosso rei não nos deu coisa alguma... Não somos apenas os sete povos da margem esquerda, mas doze outras reduções estão decididas a sacrificarem-se conosco desde que tenteis apoderar-vos de nossas terras. . ." 

Ruínas de São Miguel
São Miguel das Missões, RS -  Os Guarani participaram como mão-de-obra na construção e muitas vezes eram os autores das esculturas e dos frisos decorados.
São Miguel das Missões guarda a mais preservada missão jesuítica do Brasil. As ruínas do
povoado, fundado no século 17, foram declaradas Patrimônio Mundial pela Unesco em 1983
Os jesuítas ficaram entre a cruz e a espada. Se apoiassem os indígenas seriam considerados rebeldes. Se não se solidarizassem com eles, perderiam sua confiança. Alguns se submeteram às ordens da Coroa, outros permaneceram junto aos guaranis apenas por circunstâncias, mas outros ainda, a exemplo do Padre Lourenço Balda, cura de São Miguel, deram todo seu apoio aos indígenas e à organização de sua resistência, não se importando que recaíssem sobre eles as acusações de traidores da pátria e de culpados de crimes de lesa-majestade.

Foi à heróica resistência desses índios à ocupação de suas terras e à escravização que se deu o nome de "Guerras Guaraníticas". Apesar da inferioridade, no tocante a armamentos e a instrução militar, resistiram a ataques isolados ou conjugados de portugueses e espanhóis até 1767, graças à sua tenacidade na luta, às táticas desenvolvidas e à condução de chefes como Sépé Tirayu e Nicolau Languiru.
Para Pombal, a resistência indígena era obra da hostilidade jesuítica. Vem desse tempo a sua Relação Abreviada da República dos Jesuítas, atribuindo a estes a tentativa de criação de um "Império Temporal Cristão" na região das missões. Em 1759 foram expulsos, por ordem do marquês, de Portugal e demais domínios do reino.


Brasil História - Texto e Consulta: 1 Colônia / Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari e Ricardo Maranhão - São Paulo: Editora Brasiliense, 1979

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