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Tudo
passava à vista dos corregedores, ou d’outros subalternos”.
(Aires de
Casal). Puro regime de internato de colégio de padre. Ou de orfanato.
Tudo aparado por igual. Sedentariedade absoluta. Grande concentração de
gente. Severa vigilância e fiscalização. A nudez dos caboclos tapada,
em todos os homens e mulheres, com feias camisolas de menino dormir. Uniformidade. As raparigas à parte, segregadas dos homens. Enfim, o regime jesuítico que se apurou no Paraguai, e que, em forma mais branda dominou no Brasil, por isso mesmo que admiravelmente eficiente, foi um regime destruidor de quanto nos indígenas era alegria animal, frescura, espontaneidade, ânimo combativo, potencial de cultura; qualidade e potencial que não poderiam subsistir à total destruição de hábitos de vida sexual, nômade e guerreira, arrancados de repente dos indígenas reunidos em grandes aldeias." Casa
Grande e Senzala / Gilberto Freyre - São Paulo: Círculo do
Livro S. A., s/ data.
As
missões geralmente
acompanharam as migrações dos indígenas à medida que estes fugiam
dos principais centros de colonização, tentando escapar da
escravização a que os colonos os submetiam. Dessa forma
fixaram-se
principalmente no sertão, em regiões que não apresentavam
atrativos de exploração imediata, o que não quer dizer que
estivessem isentas de investidos, que não formassem elas mesmas um
alvo de cobiça dos colonizadores, pela quantidade de índios
domesticados que aldeavam. |
Planta
da Missão jesuítica de São João Batista - Arquivo Geral de
Simancas, Espanha
É um dos Sete Povos das Missões, situado no atual Rio Grande do Sul, fundado em 1697. Todos os povoados seguiam a mesma estrutura urbanística. Após a demarcação da igreja e da praça central eram traçadas as demais construções. De um lado da igreja, ficava a casa dos padres e as oficinas de arte e de trabalho. No outro lado, o cemitério e o cotiguaçu, a casa que abrigava as viúvas. Essa planta de 1755 foi ilustrada com uma festa religiosa, ao centro. |
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A difusão
geográfica
deste modo de produção foi bastante ampla. Com relação a suas
características geográficas, chegou a compreender, durante o século
XVIII, a uns 130.000 indígenas, cifra muito alta se recordarmos as
da população total da região. Este modo de produção, chamado despótico-aldeão ou despótico-comunitário, teve como fenômeno fundamental a recriação por parte do branco de uma comunidade indígena organizada em "pueblos" (aldeias) tendo em vista uma exploração mais racional da mão-de-obra indígena. Os "pueblos" funcionassem até à expulsão em 1768 , como unidades produtivas relativamente autárquicas, que, embora mantivessem certa comunicação entre si, viviam totalmente separadas do resto da sociedade branca, com a qual se relacionavam economicamente apenas por meio da rede administrativa da Companhia de Jesus. ... Porém não devemos nos enganar sobre o sentido final dessa subtração de mão-de-obra efetuada pelos jesuítas aos 'encomenderos'. Obviamente a organização jesuítica significou também para os indígenas um sistema de exploração, na medida em que teve ela como resultado uma destruição quase total de seus valores culturais, além da pura espoliação econômica." |
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As "Guerras Guaraníticas" As "partidas de limites" do sul foram comandadas pelo capitão-general do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, e pelo marquês espanhol, Val de Lírios. Estas comissões chegaram a constituir-se, mas logo tiveram seus trabalhos dificultados, pela oposição das populações indígenas dos Sete Povos aos destinos que o Tratado de Madrid lhes dava. Nas palavras de Darcy Ribeiro em "As Américas e a Civilização", essas missões constituíam "a tentativa mais bem sucedida da Igreja Católica para cristianizar e assegurar um refúgio às populações indígenas, ameaçadas de absorção ou escravização pelos diversos núcleos de descendentes de povoadores europeus, para organizá-las em novas bases, capazes de garantir sua subsistência e seu progresso". Pelo tratado, elas deveriam ser transferidas para as margens ocidentais do rio Uruguai, o que representaria "Para os guaranis das sete reduções condenadas (...) a espoliação, a ruína e o infortúnio, a destruição do trabalho de muitas gerações, a deportação de mais de trinta mil pessoas, segundo as cifras mais modestas". Quando os indígenas souberam o que os esperava, por decisão comum de portugueses, do rei de Espanha e da própria Companhia de Jesus, que enviou emissários, entre eles o Padre Lopes Luís Altamirano, para impor-lhes a obediência, assim se expressaram seus chefes: "Como poderá a vontade de Deus ser que vós tomeis e arruineis tudo o que nos pertence? Aquilo que possuímos é exclusivamente o fruto de nossas fadigas, e o nosso rei não nos deu coisa alguma... Não somos apenas os sete povos da margem esquerda, mas doze outras reduções estão decididas a sacrificarem-se conosco desde que tenteis apoderar-vos de nossas terras. . ." |
São
Miguel das Missões, RS - Os Guarani participaram como mão-de-obra na
construção e muitas vezes eram os autores das esculturas e dos frisos
decorados.
São Miguel das Missões guarda a mais preservada missão jesuítica do Brasil. As ruínas do povoado, fundado no século 17, foram declaradas Patrimônio Mundial pela Unesco em 1983 |
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Os jesuítas
ficaram entre a cruz e a
espada. Se apoiassem os indígenas seriam considerados rebeldes. Se
não se solidarizassem com eles, perderiam sua confiança. Alguns se
submeteram às ordens da Coroa, outros permaneceram junto aos
guaranis apenas por circunstâncias, mas outros ainda, a exemplo do
Padre Lourenço Balda, cura de São Miguel, deram todo seu apoio aos
indígenas e à organização de sua resistência, não se importando
que recaíssem sobre eles as acusações de traidores da pátria e de
culpados de crimes de lesa-majestade.
Foi
à heróica
resistência desses índios à ocupação de suas terras e à
escravização que se deu o nome de "Guerras Guaraníticas". Apesar da
inferioridade, no tocante a armamentos e a instrução
militar, resistiram a ataques isolados ou conjugados de portugueses e
espanhóis até 1767, graças à sua tenacidade na luta, às táticas
desenvolvidas e à condução de chefes como Sépé Tirayu e Nicolau
Languiru. |
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