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Alguns tipos indígenas do Nosdeste

A expansão pastoril no nordeste assume mesma violência de que se revestiu a penetração na floresta tropical. Nesses sertões o fulcro das discórdias estava na posse da terra que o criador queria limpar dos ocupantes humanos para encher de gado e o problema criado para os indígenas com a liquidação da caça que o privava de uma insubstituível fonte de subsistência.
Os indígenas dos sertões do nordeste opuseram toda resistência possível à invasão do seu território. Nos primeiros séculos, alguns deles tiveram oportunidade de aliar-se aos franceses e aos holandeses que disputavam aos portugueses o domínio da terra. Depois de consolidar a conquista lusitana , só contaram com o recurso de resistir até o suicídio ou emigrar para mais longe da costa, cedendo lugar aos rebanhos.
Os grupos que mais se opuseram à invasão foram trucidados, sendo os sobreviventes apresados como escravos para os canaviais da costa ou reforçar a população das missões religiosas, sempre necessitadas de novos contingentes humanos. Onde a força dos criadores não foi suficiente para quebrar o ânimo guerreiro do gentio, empreitou-se o serviço de paulistas, criados na escola das bandeiras, especializados em carnificinas e no preamento de indígenas, alguns dos quais se estabeleceram como povoadores nas terras que despovoaram de indígenas.
Os grupos mais acessíveis ao convívio pacífico com o invasor conseguiram permanecer em seus territórios, onde acabaram ilhados entre currais, tendo de viver sob o domínio de um dos grandes criadores cujos interesses e ódios foram chamados a defender contra os outros indígenas ou contra outros criadores.
Nessas condições, sobreviveram alguns descendentes dos Potiguára, primitivos ocupantes do Paraíba. Em tempos coloniais foram-lhe concedidos duas reservas de terras no município de Mamanguape, uma em Monte Mor, o antigo arraial da “Preguiça”, outra na Baía da Traição. A primeira delas foi dividida em lotes e entregue às famílias indígenas. Destes lotes, nenhum ficou com os indígenas, todos foram usurpados. Hoje, ali se eleva a povoação sertaneja de Rio Tinto, e a maior parte das terras pertence a uma poderosa firma agro-industrial.

Os Potiguára se concentraram na outra reserva, onde foram visitados, em 1913, por Alípio Bandeira. Constituíam, então, uma centena de famílias, vivendo nos riachos que vão ter à Baía da Traição, sob a direção de um regente. Proviam a subsistência através da pequena lavoura da enxada, do trabalho assalariado para fazendeiros vizinhos e, principalmente, da pesca de caranguejos e mariscos do mangue.
Já então, nenhum Potiguára falava o idioma tribal e, vistos em conjunto, não apresentavam traços somáticos indígenas mais acentuados que qualquer população sertaneja do nordeste; muitos deles tinham até fenótipo característicamente negróide ou caucasóide. Assim, nada os diferenciava dos sertanejos vizinhos, senão a convicção de serem indígenas, um grau mais alto de solidariedade grupal, fundamentado na ideia de uma origem, de uma natureza e de uma destinação comuns, que os distinguia como povo.
Em condições muito semelhantes à dos Potiguára, viviam no nordeste, vários outros grupos indígenas. Alguns deles conservavam algo mais da cultura original e ainda usavam a língua, no menos para fins cerimoniais.
Na serra do Ararobá, em Pernambuco, sobreviviam cerca de mil e quinhentos indígenas Xukurú, em condições ainda mais precárias que as dos Potiguára. Praticamente nada lhes restara das terras concedidas em tempos coloniais e onde se estabeleceram as missões criadas para catequizá-los. Altamente mestiçados com brancos e negros, já não se diferencivam, pelo tipo físico, da população sertaneja local. Haviam esquecido também o idioma e abandonado todas as práticas tribais, exceto o culto do Juazeiro Sagrado, se é que este cerimonial fora originalmente deles.

Mais ao sul, em Pernambuco, vive um outro grupo indígena, igualmente numeroso, os indígenas Fulniô, tradicionalmente conhecidos como Carnijos ou Carijos. Embora altamente mestiçados a ponto de não poderem ser distinguidos da população sertaneja, viviam à parte, conservando o idioma iatê, só falando o português com os estranhos. Mantinham fiéis ao culto do Juazeiro Sagrado.
As terras que ocupavam lhes tinha sido asseguradas por uma carta régia de 1705, como meio de estabelecer a paz depois de um levante. Mas desde então vinham sendo invadidas. Em 1878 foi necessário tomar providências para acautelar os interesses da tribo cujas terras estavam sendo vendidas. A reserva foi, então, demarcada e dividida em lotes entregues às famílias Fulniô. No começo do século XX, em torno da igreja levantada pelos indígenas, dentro do perímetro do aldeamento, exixtia um número considerável de moradores sertanejos e grande parte dos lotes tinha passado dos indígenas a estranhos, a título de arrendamento, compra ou por simples esbulho (despojo).
Por volta de 1916, era tão grande a hostilidade entre os Fulniô e a população de Águas Belas que crescera em redor da igreja, que os indígenas foram compelidos a se afastarem para um quilômetro adiante do antigo aldeamento, agora cidade, fugindo aos vexames a que os submetiam as autoridades locais. 

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Indígenas Fulni-ô. aldeia Águas Belas, Pernambuco.
Apesar da intensa mestiçagem, é o único grupo indígenas do Nordeste que conserva ainda sua lígua, o iatê. (Foto de Geyson Magno)

Os moradores neobrasileiros de Águas Belas pleitaram reversão ao domínio do Estado das terras concedidas aos Fulniô, alegando que fora extinto o aldeamento, com o ato de extinção da diretoria dele incumbida no Império. Essa reversão permitiria a legalização da posse das terras pelos civilizados, que delas se haviam apropriado, a título de ocupação antiga de terras devolutas ou de propriedade do Estado.

Diversas outras formas de alienação de terras indígenas ocorreram no sertão Pernambucano, Alagoas, Sergipe, Bahia, dando cabo de dezenas de aldeias que ainda em fins do século XIX ali existiam e eram citadas nas estatísticas do Império. Por volta de 1910, na ilha de Assunção, no rio São Francisco, foi posto em prática um processo singular de esbulho de terras contra os indígenas Tuxá e seus descendentes, que as ocupavam desde tempos imomeriais. Consistiu em obter dos indígenas licença para construção de uma capela consagrada a Nossa Senhora da Assunção. Essa consagração, registrada posteriormente em cartório, como doação, serviria de base para a expedição de títulos de propriedade em que o vendedor era a Santa Padroeira, representada pelo bispo de Pesqueira, na Bahia, e o comprador, um potentado local. Este fez sentir aos indígenas a força de seu título possessório, obrigando-os a se colocar a seu serviço, pagar foros pela ocupação das terras, ou abandonar as ilhas como intrusos.
À medida que eram escorraçados de suas terras, os indígenas se juntavam aos bandos que perambulavam pelas fazendas, à procura de um lugar onde pudessem fixar. No começo do século XX, vários desses magotes de indígenas desajustados eram visto nas margens do São Francisco. Alimentando-se de peixes ou do produto de minúsculas roças plantadas nas ilhas inundáveis – únicas cuja posse não lhes era disputada – e trabalhavam como remeiros e como peões das fazendas vizinhas.
Assim viviam os seus últimos dias os remanescentes dos indígenas não litorâneos do nordeste que alcançaram o século XX. Estavam, quase todos, assimilados linguisticamente, mas conservavam alguns costumes tribais. Viviam ao lado de cidades que cresceram em seus aldeamentos, sem fundir-se com eles. Era o caso da aldeia Fulniô, frente a cidade Águas Belas; dos Xukurú, e a cidade de Cimbres, ambas em Pernambuco;

dos Xokó, em frente da cidade de Porto Real do Colégio; dos Wakoná e a cidade de Palmeira dos Índios, ambas em Alagoas; dos Tuxá e a cidade de Rodelas, da Bahia. Outros foram compelidos a abandonar as antigas aldeias, transformadas em vilas, e a acoitar-se mais longe, como os Xukurú, da serra de Urubá, em Pernambuco; os Pankararú, de Brejo dos Padres, no mesmo Estado; os Pakaraí, da serra da Cacaria, e os Umã, da serra do Arapuá, ambas na Bahia.
Malgrado as condições de penúria e de opressão e, provavelmente, por causa delas, esses resíduos da população indígena do nordeste continuavam identificando-se como indígenas, mesmo depois de esquecerem a língua tribal e a maior parte da cultura antiga. Cada um deles – como os Fulniô, os Tuxá, os Pankararú, os Wakoná – considera, ainda hoje, a si próprio, como a tribo de que descende, a das legendas heróicas que só eles recordam e, assim mesmo, muito pouco.
Eis o que restou, no século XX, dos indígenas do interior do nordeste, simples resíduos, ilhados num mundo estranho e hostil e tirando dessa mesma hostilidade a força de permanecerem indígenas. Pelo menos tão indígenas quanto seja compatível com sua vida diária de vaqueiros e lavradores sem terra, engajados na economia regional. A maioria dos antigos habitantes aborígenas do nordeste desaparecera, todavia, como os Kariri, Pimenteiras, Amoipira, Tarairiú, Jeikó e Garaum.
(Outros Povos Indígenas em Brasil Indígena)


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Remanescentes de antigos aldeamentos missionários, os Pankararú vivem hoje no sul de Pernambuco, no Brejo dos Padres. Devido a conflitos com fazendeiros, os Pankararú  foram obrigados a abandonar a região. Algumas famílias migraram para a Bahia, outras para Minas Gerais, e um grande grupo - cerca de 950 - deslocou-se para a cidade de São Paulo, concentrando-se sobretudo numa favela, no rico bairro do Morumbi. Na ausência de um local apropriado para os rituais, muitas vezes os realizam às margens do rio Pinheiros. Aqui vemos um grupo executando a dança do toré. (foto de Hélcio Nagamine)

Fontes : Os ìndios e a Civilização / Darcy Ribeiro. - São Paulo: Círculo do Livro, s. data
Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo : FTD, 2000


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