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Os Timbíra

Entre as caatingas áridas do nordeste e as florestas úmidas da Amazônia estende-se uma região que combina características de ambas. São as campinas do sul do Maranhão, banhadas por rios, protegidos por matas ciliares e entremeados de tufos de mata e de palmais. Este era o território de algumas tribos relativamente populosas e altamente especiliazadas à região. Eram os Timbíra, que constituiam originalmente quinze tribos, das quais somente quatro alcançaram o século XX.

Os Timbíra

Kanela

Dança das Máscaras (Kanela / Timbíra)

Sobre os campos dos Timbíra avançaram criadores e rebanhos vindos de várias direções: dos sertões de Pernambuco e da Bahia, através do rio São Francisco e Parnaíba; de Goiás, descendo pelas margens do Tocantins, do Maranhão mesmo, avançando ao longo do vale do Itapicuru. A primeira onda foi a mais violenta. Mas, diante dos Timbíra, nada podiam simples vaqueiros, com parcos recursos do curral. Para desalojá-los, o invasor se viu compelido a arregimentar-se em verdadeiros grupos de guerra, em bandeiras compostas de cem a duzentos homens, aliciados entre os sertanejos e posto sob o comando de um caudilho local. Eram organizadas oficialmente, com apoio das autoridades, que até forneciam documentos legalizando a escravização dos indígenas preados em combate, sob a alegação de que a carta régia que declarava guerra de extermínio e autorizava o cativeiro dos Botocudos de Minas Gerais era válido também para os Timbíra, pois uns e outros eram da mesma “nação Tapuia”.
Através dessas bandeiras os criadores esperavam obter rápida vitória sobre os Timbíra, enfrentando-os em grandes batalhas campais. Mas os indígenas, que naquela altura já haviam experimentado o fogo dos trabucos civilizados, não se deixavam surpreender em campo aberto. Ao primeiro sinal de ataque, escalavam as morrarias vizinhas e lá permaneciam até que a bandeira se pusesse em retirada, para então atacar-lhes a retaguarda.
Com o prosseguimento desta guerra, os indígenas aprenderam a usar e a cobiçar as ferramentas e outros pertences dos sertanejos, o que facilitaria o estabelecimento de relações. Os criadores, por sua vez, haviam encontrado uma utilidade para o indígena: davam bom dinheiro na vila de Caxias, vendidos em leilão para o trabalho escravo nos algodais da costa maranhense.
Os Timbíra só tiveram paz quando o governo Imperial se interessou pela pacificação, destinando dotações para atender às despesas de aldeamento e quando os próprios criadores, que aspiravam por mais campos onde seu gado pudesse pastar em segurança, procuram livra-se das bandeiras que, havendo encontrado um fim em si mesmas, só se interessava em fazer escravos, agravando cada vez mais os conflitos com os indígenas.
Para os Timbíra, a paz com o invasor foi tão fatal quanto a guerra. O destino dos grupos que procuravam confraternizar-se com os civilizados foi às vezes mais dramático que o dos simples chacinados. Este é o caso dos Canelas, Kapiekrã, que também procuraram estabelecer relaçoes com os civilizados, tendo em vista uma aliança contra outra subtribo Timbíra, os Sakamekrã, que os haviam derrotados em guera. Obtiveram a paz e a aliança e até uma grande vitória contra seus inimigos numa expedição conjunta com seus novos aliados.
Para isto abandonaram seus roçados e seus campos de caça e se fixaram junto aos civilizados, que contavam sustentá-los com a ajuda do governo. Esta, porém, faltou, foi mal aplicada ou insuficiente. O certo é que, pouco tempo depois, os indígenas tiveram de dispersar-se em magotes pelas fazendas de criação à procura de alimentos; e começaram os atritos com os fazendeiros que não estavam dispostos a mantê-los com seus parcos recursos. Em pouco tempo a situação tornou-se insustentável, os fazendeiros se queixavam dos indígenas, acusando-os de lhes furtarem o produto das roças e de abaterem suas reses, exigindo providências capazes de pôr cobro a estes abusos que os estariam levando à falência.
Um dia veio a solução: o plano era atrair os indígenas para a vila de Caxias, então atacada por uma epidemia de bexiga (varíola), a pretexto de uma nova guerra contra outra tribo Timbíra. Uma vez ali, as bexigas dariam cabo deles. Os índigenas deixaram-se enganar, atendendo ao chamamento. Em Caxias, durante vários dias nada lhes foi dado para se alimentarem, e quando, premidos pela fome, quiseram colher legumes nas roças vizinhas da vila, caiu sobre eles todo o peso de uma punição premeditada. Foram presos e espancados, inclusive mulheres e crianças, e dentre eles a esposa do principal chefe da tribo que, ao reclamar contra este tratamento, foi também fustigado.
Dos restantes se encarregaram a varíola e o trucidamento, pois quando os escapos da peste quiseram fugir, foram espingardeados. Alguns indígenas que conseguiram escapar levaram consigo a epidemia, contaminando os sertões, cujos moradores indígenas experimentaram, pela primeira vez, a varíola. Segundo cálculos de Francisco de Paula Ribeiro, que testemunhou esses fatos, a varíola atingiu até as populações indígenas da margem esquerda do Tocantins, mil e oitocentos quilômetros a oeste.
Assim se quebrou a resistência das tribos Timbíra. Uma após outra, foram compelidos a estabelecer relações com os invasores e aliciados à luta contra as recalcitrantes.
Os Krahó representaram papel de maior importância nessas lutas contra sua própria gente, ao lado dos invasores.
Esse foram os processos usados na conquista dos campos do Maranhão e do norte de Goiás. Em fins do século XIX, quase todas as terras aproveitáveis já estavam controladas pelos criadores de gado. Os grupos Timbíra que não quiseram submeter-se tiveram de abandonar os campos fugindo para as matas, como os Kren-yê, que foram ter ao Gurupi, e os Gavião, que se refugiaram no Tocantins.
Nos primeiros anos do século XX o cerco e a opressão dos criadores era tal que os grupos Timbíra se viram compelidos a mudanças constantes. Onde quer que se estabelecessem, porém, eram alcançados pelos criadores; renovavam-se os atritos, as acusações de roubo de gado e de plantações das roças e, por fim, o choque, o massacre. O mais violento deles ocorreu em 1913 e custou a vida a mais de uma centena de indígenas. Um criador estabeleceu-se com seu rebanho na chapada das Alpercatas, próximo à aldeia Chinela. O gado, vivendo solto, espalhou-se pelos campos vizinhos onde os indígenas Canelas continuavam a caçar. Ora, é sabido que o pastoreio e o próprio gado afugentam a caça, assim ela foi escasseando e os indígenas esfaimados tiveram que incluir a carne do boi em sua dieta. Estouraram os conflitos com os fazendeiros:
“O indígena comia um boi, o fazendeiro matava um indígena. Certo dia os tais Arrudas reuniram para mais de cem Canelas em sua fazenda para tomarem parte numa festa onde havia muita cachaça; depois de embriagá-los, caíram sobre eles, sem deixar um só vivo.” (S. Fróes Abreu, 1931).
Não existe estatística antiga das quinze tribos Timbíra, porém algumas estimativas parciais permitem avaliar a redução que sofreram. Tudo indica que os quatrocentos Krahó e os trezentos Canelas que sobreviveram em nossos dias decresceram na mesma proporção que os Apinayé. Destes sabemos que constituíam quatro mil e duzentos em 1824, quando foram visitados por Cunha Matos, já muitos anos depois dos primerios contatos e após haverem sofrido pesados ataques da guarnição de São João do Araguaia, além de epidemias de varíola. Nos anos 1950 os Apinayé não passavam de cem indígenas. (Nimuendaju, 1956). Nesta base se pode avaliar a população original desses grupos em um mínimo de trinta mil indígenas e de todas as tribos Timbíra, em mais de duzentos mil indígenas.

(Veja também: Povos Indígenas em Brasil Indígena)


Fontes : Os ìndios e a Civilização / Darcy Ribeiro. - São Paulo: Círculo do Livro, s. data
Foto: Dança das Máscaras in Atualidade indígena, Ano 1 - nº 4. - Brasília: mai / jun de 1977


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