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Tipos Regionais : Norte
Seringueiros
Seringueiro
Seringueiro - Ilustração de Barboza Leite
Significando formas de civilização decorrentes da cooperação da natureza e do homem, os conceitos de gêneros de vida e de horizontes de trabalho encontram, na planície amazônica, especialmente nas terras baixas do Solimões e nas dos afluentes da margem direita, a montante do Madeira, todo o seu interesse geográfico sintetizado no ajustamento do "seringalista", a um quadro, cuja fisiografia uniforme tem, como um dos seus corolários, a simplicidade da vida
econômica.

Personagem típica de uma região, em torno da qual gira completa uma organização econômica e social curiosa, integrada pelos  "seringueiros" - principais figuras da explotação da borracha - o seu seringalista é a réplica amazônica do fazendeiro de gado, ou de café, das outras regiões do país, no desempenho do seu papel de chefe, de patrão, ou dono do "seringal".

Extensão de terrenos, de propriedade de um indivíduo, o seringal encerra, no seu arcabouço mais comum, quanto à vida humana, além do "barracão", onde mora o dono, o "aviado" ou concessionário do seringal, uma ou duas "barracas", habitadas por dois seringueiros, ou uma família. É a "margem".
Nas adjacências, encontrá-se o "campo", pasto para os animais e criação miúda.
O interior do seringal constitui o "centro", no qual se acham distribuídas naturalmente, as héveas, em meio a árvores outras, distintas do trifólio alterno da seringueira, reconhecido facilmente pelo "mateiro", na arriscada profissão de abridor de picadas na floresta, "estradas", que o seringueiro percorre duas vezes ao dia de trabalho, na sua faina de realizar incisões nas árvores, ou "corte", e a conseqüente "colheita" da látex, escorrido das "sangrias".
A coagulação posterior do líquido, processada no "tapiri", pequena barraca, segundo o sistema indígena da "defumação", dá em resultado a borracha, objeto da indústria extrativa principal da região.
É da explotação das seringueiras, fornecendo a Hevea brasiliensis a borracha de melhor qualidade, que vivem os seringueiros.
São naturais da região, ou nordestinos cearenses, emigrados em conseqüência das secas particularmente intensas, a partir de 1877.
Os seringueiros, filhos da região, trabalham nos seringais envelhecidos da área restrita às ilhas e terras planas do Baixo Amazonas.
Contratados pelos "aviadores", comerciantes de Manaus e de Belém, os "paroaras", imigrantes do Ceará, exercem a profissão na zona das cabeceiras dos rios, de cujas "margens", chegados pelos "gaiolas", são encarreirados pelo "mateiro" para as "colocações" ou "centros", quase sempre ainda virgens de trabalho humano.

Nos centros, passam a viver, então, dispersos na floresta, tendo cada qual, a responsabilidade de tomar conta de "estrada", cuja abertura marca, necessariamente, o princípio da exploração de qualquer seringal.
A esses dois quadros esboçados e geograficamente opostos, correspondem dois tipos humanos, mesológica e psicologicamente distintos.
O primeiro é o "seringueiro das ilhas", sendo o segundo, o "seringueiro das cabeceiras", ou "dos afluentes remotos", ambos retratados com fidelidade pelo escritor Raimundo Morais, em Na Planície Amazônica.
Seja qual for o seu domínio, o equipamento do seringueiro se reduz a faca, balde, tigelinhas, bacia, boião, forma ou tariboca.

Nos regimes de vida e nos horizontes de trabalho, há porém, diferenciações locais interessantes entre os tipos de servidores dos seringais.
O das ilhas, embarcado na "montaria", só depois de nascido o sol, parte para o trabalho, na vazante da maré, vestindo calça de algodão, blusa, gorro de pano à cabeça, levando faca, balde, terçado e espingarda "pica-pau".
Trabalha em seringal esgotado; sua "estrada" é, às vezes, de "espigão"; seu corte se estende a oitenta "madeiras", se tanto, para conseguir, no máximo três galões de látex, que no regresso à palhoça, "defumará", sob a assistência da mulher, com quem cedo se casou e à vista de numerosa prole.

Desenvolvendo sua atividade como emérito canoeiro, é um ictiófago que contrasta com o andarilho das cabeceiras, cuja alimentação essencial é constituída de feijão e assado de "jabá" atualmente em decadência.

Em regime já diverso, o seringueiro das cabeceiras é um madrugador que, às três horas, se encontra sem demora, preparado para a luta, trajando calça e blusa de mescla azul, borzeguins de borracha, de fabricação própria, ostentando terçado à cinta e rifle a tiracolo.
Na cabeça, exibe capacete de latão sobre o qual assenta a lamparina de querosene, auxílio para o serviço de "corte", à noite, quando desfecha na casca de cada árvore, até três golpes seguros, com a faca, podendo, se fôr hábil seringueiro, sangrar e entigelar, umas duzentas madeiras, que lhe darão quantidade de látex, entre oito e vinte galões diários. Sua "estrada" é quase sempre a de "fecho" na "boca", de sorte que, após haver descrito uma volta, encontra-se de novo ao pé da residência, à qual regressa muito antes do meio-dia.
A segunda fase da jornada consiste em novo mergulho na floresta, a fim de recolher o látex das tigelinhas, embutidas pela manhã, no corte das madeiras.
Cerca das quinze horas, já outra vez na "barraca", inicia com a ajuda do "boião", e o emprego da "tariboca", o preparo da borracha, fabricando as "bilas", as quais, depois de "marcados", seguem por terra, pelas tropas de burros "comboios", ou descem o curso d'água, à maneira de "balsas", amarradas em espiral, em busca da "margem", isto é, do "barracão" do seringalista, onde o serviço é pago, quando se não realiza a troca da produção por alimentos e artigos de primeira
necessidade, num abuso mercantil de boa-fé, só ultrapassado pela ganância do "regatão", singular mascate de "montaria", típico do interior amazônico.
Enfrentando clima hostil, "amansado o deserto", no dizer de Euclides, humanizando a paisagem, os intrépidos seringueiros além de concorrer para o povoamento e desenvolvimento econômico da Amazônia, realizaram o prodígio da reincorporação do Acre ao patrimônio do País.
Na época da baixa das águas. ao partirem para os serviços do "centro", os seringueiros aí permanecem até a estação das grandes chuvas, quando a floresta se torna inabitável. Refluem, então, para os entrepostos, para os "barracões", ou povoados, onde, enfim, encontram realmente um pouco de descanso, graças à "pulsação sazonaria", que na grande "região natural", impõe sua disciplina geográfica a todas as variadas formas da atividade humana.


Fonte: Seringueiros / José Veríssimo da Costa Pereira in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970



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