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Só
na Campanha do Rio Grande do Sul, entretanto, ela se manteve, com todas
as suas peculiaridades. E ali mesmo, parece que os seus dias estão
contados, tanto que já se desenvolvem outros meios de transporte, entre
os quais o automóvel. As estradas construídas para este revestem-se de
técnica especial e a carreta nelas aparece como remanescente
prejudicial de uma época ultrapassada. Vaga ainda, entretanto, pelos
"corredores", e satisfaz inúmeras necessidades da vida regional.
Ligada à carreta, a figura do carreteiro fica pertencendo, com exclusividade, ao ambiente pastoril do extremo-sul. Se o meio de transporte passou a outra região, com as suas características de construção mais ou menos respeitadas, o personagem não o acompanhou. Outras eram as condições, e o quadro natural se circunscrevia à Campanha. Em outras regiões, conduzindo carretas ou carros, o homem é o "carreiro" e trabalha habitualmente a pé. A carreta, ou o carro, é mero meio de transporte, um utensílio de trabalho. Para o carreteiro da Campanha, a carreta é muito mais do que isso. Se, em boa parte, serve ao transporte de couro, de lã, de fardos de toda espécie, - serve, também, de meio de transporte da família, em longas jornadas. Nelas viajam, vivem, dormem, os seus. E se isso era costumeiro, no passado, é ainda corrente, nos dias de hoje. Augusto Meyer, em Segredos da Infância, conta: "Voltamos do Cerro d'Arvore em carreta. Dias e dias morei naquela casa de rodas, que se arrastava pelas estradas, sem vontade de chegar. Parecia que cada trecho da paisagem, com pena de nos deixar, tentava seguir-nos até a última curva do caminho... Em noite de calma, fazíamos a cama no capim, entre as rodas da carreta" Para conduzir os bois que tracionam a carreta, tem o carreteiro processos especiais, em tudo diferente dos que empregam os "carreiros'' de outras regiões: outro é o modo de tanger, de parar, de subir e descer ladeiras, de desatolar e de transpor um "passo". A diferença principal está em que o carreteiro é um homem montado. Não conduz do alto da carreta, nem a pé, - e não apeia quase nunca, por necessidade da condução em si mesma. Resolve os seus problemas do alto da sela. Não grita e não se extrema em vozes; como a própria carreta é silenciosa, sem o cantochão monótono dos carros-de-boi de outras regiões. Ao lado das juntas de bois, ao passo lerdo do cavalo, empunhando o aguilhão, vai como um senhor. Não abre mão de suas prerrogativas de homem a cavalo, - nem apeia para conduzir e nem, por costume, toma parte na carga e descarga, quando a carreta serve ao transporte de qualquer material. Em muitos casos o carreteiro não trabalha sozinho. Reveza com outro. Os períodos em que não lhe cabe o cuidado com a condução, passa-os deitado na carreta, ou montado, marchando à retaguarda. A pé, só parado. |
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