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Embarcações na Região Amazônica
Regatões e Montaria
Regatão
Regatão - Ilustração de Percy Lau - Texto de José Veríssimo da Costa Pereira
Regatões
O bufarinheiro conhecido nas cidades por teque-teque chama-se, no interior, “regatão”, em lugar de transportar nas costas o mundo de miudezas, transporta-o no bojo de uma gaiola que desloca duas, três, quatro toneladas, divididas em seções de secos e molhados e movida por remo de faia. A parte da popa, fechada em roda, onde mora o dono, possui portinhola abrindo para vante e outra para ré.
Dentro desse compartimento, riscado de prateleiras, encontram-se os artigos mais dispares, que vão da agulha à espingarda, do fósforo à bala, do cigarro ao fogareiro, da seda ao baralho de cartas, do alfinete ao barbante, do prego ao pó de arroz, do sabonete ao leque, da corda de viola ao mosquiteiro, da requinta à coroa de defunto, do lenço ao cobertor, da chita à escova de dente.
O “regatão” vende tudo ali, come ali, pilota ali, dorme ali. Fora nas muradas de madeira pintadas de branco, azul, verde, amarelo, cinzento, lê-se em gordas letras o nome da galeota: -
“Primavera”, “Constantinopla”, “Brasileira”, “Monte Líbano”, “Acreana”, “Vencedora”, “Sempreviva”.
Já em 1866 escrevia Tavares Bastos: “Os regatões são os traficantes que levam as canoas, por todos os rios, lagoas, furos e lugares, mercadorias estrangeiras e nacionais, e as vendem a
dinheiro, ou as permutam pelos produtos do país. O comércio no interior do Amazonas não se fez geralmente por intermédio da moeda, mas pela troca de objetos”.
Atualmente é possível distinguir pelo menos três tipos de “regatões”: o pequeno, o médio e o grande. O pequeno é o tradicional mascate estabelecido em pequeno batelão, coberto de palha e tocado a remo. Vende em geral tudo o que pode condenar: a cachaça (aguardente), as cartas de jogar, etc. De preferência se insinua pelos altos igarapés, longe das sedes dos seringais, nos pontos onde a navegação regular não consegue atingir. Furta a borracha dos seringais e vicia os seringueiros. É o tipo clássico do espoliador, contra o qual já em 1865 se erguia em carta ao ministro do Império, o Revmo. Sr. D. Antônio, bispo do Pará: “São os regatões negociantes de pequeno trato, que em canoas penetram até os mais remotos sertões para negociarem com os indígenas. É difícil imaginar as extorsões e injustiças que a mor parte deles cometem aproveitando-se da freguesia ou ignorância desses infelizes. Vendem-lhes os mais somenos objetos por preços fabulosos, tomam-lhe à força ou à falsa-fé os gêneros; quando muito os compram a vil preço e muitas vezes embriagam os chefes das casas para mais facilmente desonrar-lhe as famílias. Enfim não há imoralidade que não pratiquem esses cúpidos aventureiros”.
A mesma deslealdade foi descrita pelo naturalista Bates, em The Naturalist on the Amazon, e os mesmos processos ainda se encontram em uso nos afastadíssimos rincões do Alto Xingu, segundo oralmente esclareceu e in loco verificou, o padre Eurico Maria, da Ordem do Preciosíssimo Sangue, superior de uma missão religiosa e que viveu anos consecutivos na região.
O “regatão” médio usa uma pequena lancha de motor ou de vapor. Já é evoluído. Procura manter transações mais ou menos legais, comércio regular com os próprios seringalistas. Possui pequenos capitais e, assim, em sua minúscula lancha pode levar quase de tudo. Presta serviço inegavelmente pois que podendo chegar a pontos não atingidos pela navegação regular e de maior calado, leva aos seringais mais afastados da civilização, certo conforto material, concorrendo, assim para maior e necessária aproximação espiritual. Não visa, como os pequenos “regatões”, aos seringais menores, totalmente desprotegidos, mas de preferência, aos grandes, porque o seu comércio é lícito e de maior envergadura.
Os grandes “regatões” se estabelecem de preferência numa boca de rio donde passam a irradiar o seu comércio. Dela fazem partir pequenas embarcações, depois de já haver criado uma espécie de entreposto mantido com capitais próprios, ou com créditos e “aviamento” feitos por “aviadores” de Manaus e Belém. Nas bocas, constroem verdadeiros armazéns; suas embarcações atuais são “lanchões” , dois, três, as vezes cinco, rebocando batelões coalhados de mercadorias,
ou cargas de “expedição” enviadas dos portos de Manaus e Belém.

Montaria
Trecho de um rio na Amazônia - Ilustração de Percy Lau - Texto de Fábio de Macedo Soares Guimarães
Montaria
Trecho de um rio na Amazônia
Mostra-nos a gravura, à beira-rio, na região amazônica, um típico aspecto da floresta equatorial ou hiléia brasileira.
A planície amazônica, de clima quente e úmido, com sua abundante rede hidrográfica e rico solo aluvionar, oferece condições extremamente favoráveis ao desenvolvimento de pujante vegetação.
No desenho encontra-se um trecho de floresta marginal, com seu aspecto característico: todo o espaço é ocupado por diversos andares de vegetação, entremeados de cipós, formando massa densa e sombria, da qual se salientam árvores gigantescas de quarenta e mais metros de altura. A vegetação avança para o rio, protegendo as margens contra a erosão. A floresta equatorial se caracteriza ainda pela grande riqueza em espécies vegetais, variedade essa que dificulta a sua exploração econômica.

Observa-se um batelão que sobe o rio, levando a reboque uma pequena canoa. Esta embarcação recebe dos habitantes o nome pitoresco de “montaria”, denominação bastante expressiva, pois mostra a extraordinária importância desse meio de transporte. O papel que é representado pelo animal de sela nos transporte do Brasil Central e Meridional, é na Amazônia exercida pela embarcação fluvial, sendo assim explicável essa curiosa denominação de “montaria”.
Note-se ainda como os tripulantes tiram proveito da vegetação marginal, servindo-se dela como ponto de apoio para impelir a embarcação por meio de ganchos e forquilhas.

Veja também:

Fonte: Tipos e aspectos do Brasil / Excertos da Revista Brasileira de Geografia. - Rio de Janeiro: Serviço Gráfico da Fundação IBGE, 1970. (Livro doado por Flávio Ferreira - Santos-SP)


Embarcações

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