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VER-O-PESO
Texto de Jacob Binsztok Pelo seu colorido local, altamente expressivo, muito de doca e de mercado popular, cuja confusão e pitoresco se tornam inesquecíveis, o VER-O-PESO constitui um dos aspectos mais característicos do porto e da cidade de Belém, a progressiva capital paraense, localizada a 120 quilômetros do Atlântico, à margem direita da baía de Guajará. Com seu animado comércio de verdadeira feira livre, farta e animada, as docas se localizam junto ao boulevard Castilhos França que acompanha a linha do cais de Belém, desenvolvendo-se assim, o VER-O-PESO, ao longo da avenida de Portugal, ao lado direito, desde a rua 15 de Novembro até a rampa que descamba sobre as águas da baia. Acompanha o cais fronteiro à atual praça de Siqueira Campos, antiga praça do Relógio, ladeada, em seguida, a travessa Marquês de Pombal pelo lado esquerdo. Bem ao centro deste último trecho, uma escadaria desce até a superfície líquida, num magnífico ponto de embarque e desembarque. Aí, após as primeiras horas da madrugada, conduzidas por autênticos caboclos amazônicos, aportam embarcações de todos os tipos - montarias, palhabotes, veleiros, vigilengas - carregadas de peixes e repletas de outros gêneros alimentícios a fim de abastecerem a capital. Procedem de fazendas e de sítios localizados em geral, nas proximidades de Belém ou vêm de zonas afastadas, de Marajó, por exemplo, ou de outras ilhas, mais ou menos distantes. No cais, em derredor, no chão, na lama, em qualquer lugar disponível, a freguesia já se agrupa para o primeiro contato com os vendedores. Um vozerio desde logo se estabelece contaminando, dentro em pouco, toda a extensão do cais, fervilhante de gente de todos os tipos éticos e de toda as condições sociais. VER-O-PESO - Foto de Ary Diesendruck
O peixe, o feijão, as frutas,
a farinha, as galinhas e as tartarugas,
os cachos de bacaba e de açaí, os cupuaçus, os cestos de tangerinas,
bem como jacazinhos de abios e os de bacuris, as cordas de caranguejos,
as pencas de bananas, as verduras de toda sorte, tudo isso é
desembarcado e colocado no chão, ou espalhados por sobre mesas toscas
para ser vendido ao povo.
Próximo, no interior do Mercado de Ferro, a mesma coisa, a mesma desordem se reproduz. Os produtos expostos à venda não se restringem aos “locais”, isto é, aos espaços delimitados para esta ou aquela categoria de artigos: também se espalham e se amontoam pelo chão. Artigos de armarinhos, artigos de venda, locais para refeições, plantas medicinais, folhetos em prosa e verso, tudo isso pode ser visto no mercado interno do VER-O-PESO. Fora, a variedade continua: paneiros de arroz em casca, farinha, abacate, abacaxi, plantas ornamentais, flores diversas. Dobra-se a esquina do mercado, seguindo o cais, nos seus ziguezagues, e nem por isso deixa a feira de continuar anima e pitoresca como sempre. Aqui, melado e rapadura; ali potes de barro, jarros, “quartinhas” ou moringas; panelas, alguidares, cabungos ou urinóis; acolá cuias de Santarém, fumo cheiroso e mortalhas para cigarro. Ao cabo da caminhada, uma só conclusão se poderá tirar: de tudo se vende e de tudo se compra no fabuloso mercado do VER-O-PESO. A origem no nome VER-O-PESO O movimento do antigo porto canoeiro, localizado à foz do Piri, o qual separava a aldeia do Capim da taba de Paranaçu e vinha do igapó de Açaí, desembocando na baía de Guaiara, hoje, Guajará, levou o governo colonial a regulamentar os serviços da aduana. Para isso, como elucidou a Selva (revista especializada), fez construir uma casa “a pouca distância do rio e de frente para a pequena angra, onde os nativos costumam aproar suas canoas carregadas dos produtos do interior. Seria a repartição fiscal incumbida de cobrar os impostos devidos pela entrada e saída de gêneros destinados ao consumidor público”. “Tal providência causou, naturalmente, certo alvoroço entre os canoeiros até então habituados a comerciar em quase completa liberdade. Agora, com a repartição fiscal, teriam que ir a uma casa” aonde iriam ver o peso verdadeiro, o vero o peso das mercadorias. - Vero peso! - Vero peso!... “ A frase passou posteriormente, a designar a própria repartição fiscal: Casa do Vero Peso. Aquele Vero era muito solene, muito rebuscado, acadêmico, e, então veio, - embora torcendo a precisão do vocábulo face à função que traduzia - a maneira enunciativa mais suave, mais cantante, mais eufônica: CASA DO VER-O-PESO”. Com o tempo, VER-O-PESO passou a designar também, toda a área de terreno em derredor, inclusive a doca utilizada pelos canoeiros. Assim, toda a reentrância histórica da baía de Guajará, hoje embutida na cidade, e ao pé da qual se realiza uma das feiras populares mais interessantes do Brasil, passou a ser dominada DOCA DO VER-O-PESO. |
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