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As Pranchas
As Pranchas
As Pranchas - Ilustração de Percy Lau
Subindo Paraíba à tarde, valendo-se do alísio ou descendo-o à noite, aproveitando a corrente, as "pranchas", com suas brancas velas triangulares, enfeitam o rio entre São Fidélis e São João da Barra, servindo às populações das pequeninas vilas que, naquele trecho, sobre ele se debruçam, ou transportando a mudança dos que buscam Atafona ou Gargaú, fugindo ao calor de Campos.

Outrora seu percurso foi maior. Depois de 1872, quando se abriu o canal Macaé-Campos, chegavam até Imbetiba, porto marítimo de Campos, por onde saíam as riquezas da Planície dos Goitacases e de regiões serranas próximas, que para tanto utilizavam o Paraíba do Sul. Construída três anos depois, a estrada de ferro que aniquilou o porto de São João da Barra, tornou também inútil o canal, que fora construído em virtude da mobilidade da foz do Paraíba, de que aquela cidade era o escoadouro.

Servindo ao abastecimento de Campos, as pranchas facultam, em virtude dos pequenos fretes cobrados, o comércio entre os pontos extremos da navegação do baixo Paraíba. Não contando com o serviço de gás e sendo a força elétrica insuficiente, a lenha e o carvão vegetal necessários aos serviços urbanos, como ao trabalho das usinas de açúcar, são trazidos das ricas matas do "sertão de Cacimbas", na margem esquerda do Paraíba, pelas pranchas. Frutas - bananas e goiabas - estas últimas enviadas para as famosas fábricas de goiabada da cidade, melancias e abóboras, queijos e manteiga das fazendas vizinhas, chegam a Campos nessas simples embarcações. São comprados a um e outro no percurso feito e conduzidos para a cidade onde o lote é adquirido por indivíduos que o enviam para o mercado. Feijão, milho e café vêm de São Fidélis, sendo geralmente a rubiácea adquirida em Cantagalo; em troca, certos gêneros, entre os quais o açúcar, a gasolina e ferramentas, são obtidos em Campos; São João da Barra envia para essas cidades o conhaque de alcatrão - fabricação local - e  abóboras, chamadas de areia, mais apreciadas que as da terra, pois conservam-se mais tempo. É interessante notar a influência que certos produtos exercem sobre o mercado, principalmente aqueles que se acham ligados a determinadas quadras do ano. A goiaba serve de exemplo: na época da sua safra o transporte de lenha é descuidado.

Nota-se em Campos, segundo nos adiantou morador da cidade, um verdadeiro truste no que se refere às pranchas. Há indivíduos que possuem dez e doze delas, pagando empregados para o trabalho de comércio e direção das mesmas.
Os portos da Banca, na Lapa e o da Cadeia, onde é desembarcada principalmente a lenha, são os locais onde elas geralmente estacionam.

Pranchas ou chatas, como também são conhecidas essas embarcações, em virtude da forma do fundo, adaptam-se à navegação do baixo Paraíba mesmo em época de estiagem. Têm a mesma dimensão em largura e profundidade, sendo o comprimento cinco vezes a largura, que pode chegar até dois metros.

São construídas de madeira de lei, peroba muitas vezes e - toscamente talhadas a enxó, possuindo uma parte chata, a do fundo. à qual se ligam lateralmente duas outras. Segundo refere ANTÔNIO ALVES CÂMARA, em Ensaio sobre as Construções Navais dos Indígenas do Brasil, Coleção Brasiliana, vol. 92, são, às vezes, utilizadas na sua construção canoas comuns, que se abrem longitudinalmente colocando de permeio uma prancha de madeira. Dois mastros. um na popa e outro no centro da embarcação, sustentam uma ou duas velas triangulares, podendo, também dar-se o caso de haver apenas um mastro. O eucalipto, resistente à umidade, é utilizado para a construção do mesmo, ao qual se liga o travessão, de cedro, faia. ou simplesmente bambu, onde são enroladas as velas.

Estas são de lona especial, usando-se o óleo de um peixe que vive no paraíba para impermeabilizá-Ias. Uma argola colocada na proa serve para amarrar quando atraca, havendo, de cada lado da embarcação, uma espécie de protetor de corda para impedir que se danifique em contato com o cais. Para dirigi-la existe um leme de madeira de lei, colocado na popa, manejado a pés e mãos. Dois remos, de pinho ou faia, madeiras utilizadas em virtude de sua leveza, são usadas na popa e na proa para ajudar o barco a começar a se mover ou a fim de desviá-lo de qualquer obstáculo.
Entre o leme e o último mastro uma travessa de madeira, às vezes a ele unida, sustenta uma coberta de lona que protege o leito e a cozinha dos dirigentes da embarcação: há sempre sob ela esteira e cobertor e, a um lado, o fogareiro.

Vestidos simplesmente - de calção, camisa e chapéu de palha - são geralmente dois os tripulantes da prancha, que têm como companheiro um gato ou cachorro. Curtidos pelo sol e pelo vento os "prancheiros" alimentam-se simplesmente: feijão e arroz, que cozinham durante a viagem; frutas. que fazem parte do seu comércio e peixe, apanhado à linha nos intervalos de carga e descarga das mercadorias que conduzem. Não carregam água, utilizando a do rio, retirada com uma simples cuia de cuité.

O desenho de PERCY LAU mostra um aspecto dessas embarcações que tanto serviço prestam ao ribeirinho do curso inferior do Paraíba.

Veja também:
Canoeiros de Rios Encachoeirados (Norte)
Barqueiros do São Francisco (Nordeste)
Jangadeiros (Nordeste)


Fonte : Pranchas / Eloísa de Carvalho in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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