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Os Saveiros
Os Saveiros
Os Saveiros - Ilustração de Barboza Leite
Entre as numerosas embarcações que singram a ampla baía de Todos os Santos vamos encontrar uma de configuração peculiar, comprida e estreita, que se destaca por sua quantidade e pela rapidez com que se locomove, num vaivém constantes, enfrentando o mar em qualquer situação. São os saveiros, principal tipo de embarcação aí utilizado e cujo nome também identifica os bravos que os conduzem.
É um espetáculo maravilhoso o proporcionado pelo deslizar suave desses barcos nas águas calmas, que refletem o azul, quase sempre presente, do céu brasileiro. Raros são os momentos em que essa paz é interrompida. Quando tal acontece, enfrentam as procelas com galhardia, manobrados pelo braço firme do seu timoneiro que, preso à barra do leme, os conduzem ao rumo certo e seguro.

Em Salvador, enfileirados defronte à praça do Mercado, ou atracados no cais Cairu, os saveiros, de cores vivas e variadas, têm no verde amarelo e vermelho dos produtos que transportam, ainda a bordo, ou já expostos à venda, um complemento que enche os olhos numa festa multicor. Do meio deste cenário bizarro emerge verdadeira floresta de mastros, de cujo topo desce a cordoalha que sustém as velas, umas ainda íçadas, panejando, outras já arriadas, como que a descansar da tensão constante, quando enfunadas pelo vento.

Os saveiros ultrapassam, por vezes, os limites da baía de Todos os Santos, aventurando-se pelo litoral mais afastado. Sua área de ação costumeira, entretanto, abrange os núcleos de população espalhados em torno da grande enseada, nas ilhas que a pontilham, ou situados às margens dos rios como o Paraguaçu e o Jaguaribe, penetrando por suas amplas embocaduras. Essas localidades, nem sempre visitadas pelos vapores que, também, operam na região, têm nos saveiros o seu principal meio de transporte.

Este tipo de embarcação, cujas características as distinguem das demais, é de sólida construção, apresentando certo confôrto em suas acomodações. Seu aspecto externo indica, de imediato, a forte influência portuguêsa, lembrando bastante os barcos rabelos do Douro e do Tejo, se bem que em muitos detalhes, observados nos arranjos e adaptações, se vejam refletidas inspirações puramente locais. É o que ocorre com a cobertura, em forma de cumeeira, localizada no centro da embarcação.

Pela sua aparência externa não se pode avaliar, a princípio, a solidez de sua estrutura e a capacidade de transporte. Mas sob um exame mais minucioso de seu compartimento interno, constatamos este fato e o espaço aproveitável, debaixo da cobertura, engana sobremodo, pois não se tem idéia de sua capacidade pela observação à distância. Explica-se pela profundidade que o calado atinge, proporcionando o espaço que se não pode imaginar abaixo da linha d'água. Assim é que, quando se presencia a operação de desembarque de mercadorias dessas aparentemente pequenas embarcações, causa espanto ver a quantidade de carga que dela sai, equivalente a de um caminhão de tamanho médio. Sua rígida estrutura e a cobertura de que dispõe proporcionam perfeita segurança à carga e relativo conforto a quem viaja.

Embora, eventualmente, leve passageiros, a função precípua dos saveiros é a de transportar cargas. Estas, procedentes das ilhas e das localidades situadas ao longo do litoral que bordeja a baía, constituem-se, principalmente, de produtos como a piaçava, importante fibra que abunda nos tabuleiros do Recôncavo e do sul da Bahia, o coco, a farinha de mandioca, os coquilhos e o azeite de dendê, legumes e verduras, frutas, aguardente, peixe e mariscos, além dos artigos do variado artesanato regional, como cestas e utensílios de cerâmica (porrões, testos, potes, moringas, vasos, alguidares e jarros).

Sua presença, entretanto, torna-se marcante, mais ainda do que na sua faina diária, nas ocasiões em que o folclore local reserva para os saveiros seus dias de gala. Assim é que no dia "Primeiro de Janeiro" tem lugar imponente procissão em louvor a Nossa Senhora dos Navegantes e no dia 2 de fevereiro, dedicado a "Yemanjá", onde essas embarcações desfilam festivamente engalanadas, sendo esta última data uma das mais importantes manifestações populares da Bahia.

Partindo de vários pontos, essa procissão marítima, congregando verdadeira multidão transportada nessas embarcações, dirige-se, ao som de cânticos dedicados à sereia "Janaína", ao local que se presume resida a padroeira dos pescadores. Lá chegando jogam ao mar jóias, dinheiro, flores, perfumes, fitas, etc., oferendas com que procuram obsequiar essa deidade, a fim de que os propicie com abundância de alimentos e felicidades. A superstição os leva a acreditar,
ainda, que se os objetos ofertados não submergirem, passando a vogar ao sabor das correntes, até darem às praias, significará que não foram aceitos, revelando mau presságio.

A par da importância que os saveiros, como principal meio de transporte, apresentam nessa região, deve-se ressaltar o papel de destaque que desempenham no quadro regional, como um dos elementos típicos mais importantes da Bahia, onde a riqueza auferida do petróleo, do cacau, da pecuária e o recente e vigoroso progresso industrial não conseguiram apagar os traços de sua nobre história e a beleza indescritível do seu folclore variado e rico em tradições e misticismo.

Veja também:
Canoeiros de Rios Encachoeirados (Norte)
Barqueiros do São Francisco (Nordeste)
Jangadeiros (Nordeste)


Fonte : Os Saveiros / Henrique Azevedo Sant’Anna  in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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