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As Tropas de Muares
Ao iniciar-se a mineração, e até meados do século XVIII, existia uma grande carência de animais de carga e transportes em São Paulo e Minas. O terreno íngreme e montanhoso por onde passavam os caminhos que buscavam as Gerais impedia a utilização de carros de boi ou similares. O transporte era feito normalmente nas costas de índios, negros e mamelucos assalariados, de uma
maneira precária.

As tropas de muares eram desconhecidas como meio regular de transporte antes que as regiões sulinas passassem a fornecê-las a São Paulo e às Gerais.

O mercado mineiro foi o mobilizador de correntes comerciais entre pontos do país que, até então, levavam uma existência isolada - apresentando, portanto, um  caráter de relativa integração da colônia.
Estrada para as Minas
Estrada para as Minas - Oscar Pereira da Silva, Museu Paulista
Como diz Celso Furtado , as "distintas regiões viviam independentemente e tenderiam provavelmente a desenvolver-se, num regime de subsistência, sem vínculos de solidariedade econômica que as articulassem.  A economia mineira abriu um novo ciclo de desenvolvimento para todas elas".
Para possibilitar esses contatos criaram-se novos caminhos, surgiram novos núcleos de população destinados à articulação das várias zonas, e um verdadeiro "sistema" de transportes, até então inexistente, baseado principalmente em tropas muares.
Por volta de 1730 começaram a aparecer em grande quantidade na região as tropas de muares, provenientes das zonas meridionais do Brasil e da região platina. Já em 1732, o preador rio-grandense Cristóvão Pereira de Abreu teria trazido até São Paulo, destinados às regiões mineiras, 800 mulas e 3 mil cavalos, o que justificaria naquele ano a abertura de uma nova estrada ligando Curitiba ao extremo sul.
Depois de 1732, passaram a ser tão importantes, que justificaram a abertura de novos caminhos, além do que demandava Curitiba, como o do Viamão, chamado também "Estrada Real", saindo dos ricos campos do Viamão no Rio Grande e atingindo Sorocaba. Esta cidade paulista constituía-se no grande centro de comércio de mulas para a zona aurífera, transitando por ela milhares de cabeças, que no final do século chegavam anualmente a 30 mil. Nas épocas da feira de muares, adquiria "o aspecto animado e intenso de um centro barulhento e agitado. Enchiam-se as suas numerosas hospedarias; nas ruas e praças debatiam-se e se fechavam as transações;  
Pousada dos tropeiros
Pouso de Tropeiros - Franta Richter, Museu Paulista
era um trânsito ininterrupto de homens de negócios e animais, que à noite dava lugar a não menos animadas diversões, em que o jogo, a bebida e a prostituição campeavam nesse ajuntamento fortuito de tropeiros, mercadores, mulheres e aventureiros de toda a classe, estimulados pelo lucro ou pelo deboche."

Provenientes das várias zonas platinas ou do Rio Grande; canalizando da área espanhola as mulas que antes abasteciam as minas de Potosi, as tropas normalmente marchavam para São Paulo em setembro e outubro, quando os pastos do trajeto começavam a vicejar. Às vezes se detinham para fazer invernada no norte do Rio Grande, ou se encaminhavam diretamente para Sorocaba, passando algumas vezes por Curitiba. Na capitania paulista, além do impulso que o simples tráfico de muares dava à economia, esta ganhava também com o rendimento fiscal: havia uma taxa de passagem cobrada em Curitiba, e um imposto sobre os lotes vendidos em Sorocaba, a partir de 1750, quando as "feiras" desta vila se tomaram frequentes.
A partir da vila paulista, as tropas se encaminhavam para as Gerais, pelo "Caminho Velho", e muitas vezes já levavam mercadorias de São Paulo.
Nem sempre, porém, as mulas chegavam descarregadas a Sorocaba. Desde o início, a produção de couros  ocupou boa parte das atenções dos rio-grandenses, tornando-se em meados do século uma das mais rendosas atividades. Por volta de 1737 o governador militar André Ribeiro Coutinho, que conseguiu embarcar para Portugal, por conta do tesouro real, 19 683 peles, dizia que os gaúchos faziam "aparelhos dos carros, cestos para a condução de terra, laços para a contextura das trincheiras e outras infinitas obras de couro".  Como tais artigos eram necessários, além da grande exportação das peles os criadores sulinos também mandavam algumas para Minas, no lombo dos muares. As mesmas humildes bestas que conduziam a courama até Vila Rica regressavam de lá para o litoral carregando alforjes recheados de ouro.
Parada de Tropeiros - Lévi-Strauss
Parada de Tropeiros - Foto de Claude Lévi-Strauss. 1937 em Goiás
O estímulo da circulação de tropas refez os dados econômicos da pecuária sulina, que aos poucos se tornava lucrativa. A venda de peles e mulas enriqueceu muitos gaúchos, que passaram a ter interesse em cercar suas propriedades.  Os currais e invernadas passaram, em meados do século, a dar lugar a grandes estâncias, ao mesmo tempo que a colonização se ampliava com a vinda de açorianos a partir de 1746, intensificada durante a administração de Pombal. Embora se mantivesse a concessão de pequenas propriedades, tornou-se cada vez mais comum uma família conseguir grandes extensões de terra.

Inúmeras rotas de passagem de tropas existiram, além das oficiais. Algumas delas, como a "estrada francana", passando pelas atuais Casa Branca e Franca, também davam origem a novos pousos e núcleos. Entretanto, toma-se difícil diferenciar nitidamente o "caminho oficial" do "descaminho", pois muitas rotas utilizadas para diversos fins comerciais foram usadas para o escoamento do ouro (contrabando). As restrições variavam muito, atingindo às vezes o fechamento das vias, às vezes a proibição do escoamento de determinados artigos.

Fonte : A Circulação Redefine a Colônia / Maria Cristina Cortez Wissenbach in Brasil História - Texto e Consulta: 1 Colônia / Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari e Ricardo Maranhão - São Paulo: Editora Brasiliense, 1979.


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