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Carroças Coloniais do Sul
Carroças Coloniais do Sul -  Ilustração de Percy Lau
Dada a vastidão do seu território, composto de diversas regiões e sub-regiões naturais, o Brasil possui variada coleção de meios de transporte típicos. Dentre os que circulam sobre a água eles nos apresenta desde a minúscula "igarité" indígena à barcaça veleira do São Francisco, passando pela "montaria" amazônica, a balsa coberta do Parnaíba e a característica jangada nordestina. Em terra, nos oferece curiosos meios de transporte animal, como o "boi-de-sela", da ilha de Marajó e do pantanal mato-grossense e as típicas montadas dos vaqueiros do Nordeste e do Sul: o "quartau" do sertanejo e o "pingo" do gaúcho.
Quanto aos veículos sobre rodas, de tração animal, tem o tradicional carro de boi, encontrado em quase todo o seu território e, além de muitos outros, as características carroças coloniais do Sul, que vemos na ilustração.

A existência, frequente e numerosa dessa carroça no Sul do Brasil, que constitui uma das suas notas mais características, leva o observador menos avisado a supor que a mesma seja originária dessa região. Ela, porém, veio de outras terras, longínquas e bem diferentes, trazida pelo estrangeiro imigrante. Seu país de origem eram as estepes europeias da Polônia russa e da Ucrânia; trouxeram-na os colonos poloneses e russos ucranianos, no último quartel do século XIX. Transferida das planícies centro-europeias para o planalto meridional do Brasil, aí se conservou quase imutável, salvo algumas pequenas modificações de caráter regional, mercê das adaptações ao relevo do novo quadro geográfico e também resultante da aculturação material.

Em o novo meio cedo se multiplicou, graças à abundância do material essencial à sua construção - a madeira, no caso, o pinho-do-paraná. Daí ser estimado em uma centena de milhar o número destas carroças, espalhadas pelo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os dois primeiros estados apresentam maior contingente; no Rio Grande só é encontrada, e em número reduzido, na região serrana do norte.

É um veículo misto. Destinado, principalmente, ao transporte de produtos agrícolas como em sua terra natal, é utilizado também no transporte de cargas e mercadorias de toda natureza, conduzindo, concomitantemente, passageiros.

Viajando pelo Paraná, em fins do século passado, observava o visconde de TAUNAY que esses carros constituam no "único meio de locomoção dos Campos Gerais" e que "esses imensos carroções" faziam "todo o movimento comercial do interior para Curitiba". Ainda hoje esses carroções cobrem enormes distâncias através das regiões centro e oeste paranaenses, cortando campos e matas, constituindo em passado ainda bem próximo a única ligação entre os pontos extremos ocidentais e os centros industriais do Paraná leste. Apesar de estarem estes veículos largamente distribuídos pelos estados sulinos acima referidos, há, dentro de cada um desses, zonas de maior concentração, como as dos municípios dos vales do Itajaí e Itapocu, em Santa Catarina e os municípios de União da Vitória e Ponta Grossa, no Paraná.

Sendo, em princípio, veículos agrários, os carroções transportam produtos da lavoura para os entrepostos distribuidores, sendo, ao mesmo tempo, veículos de circulação local e geral; o seu habitat é a picada, o caminho da fazenda, o caminho vicinal, a estrada municipal e, não raro, a estrada federal, embora aí sua circulação seja proibida por lei, pelo dano que causam à mesma os aros de ferro de suas rodas. Sua forma original logo se salienta dentre os demais tipos de veículos de tração animal, encontradiços na Região Sul, que se diferenciam entre si pelo número de rodas, disposição dos animais de tiro, cobertura e espécie de carga transportada. Segundo esses elementos variáveis podem distinguir-se no Sul do Brasil os seguintes veículos coloniais: carroça, carretas e carretões ou carroções.

A "carroça" é um veículo de peso leve, sem cobertura, tendo duas rodas somente, dois varais e puxadas por um só animal. É, em geral, utilizada no transporte de água ou de pequenas mercadorias. Sua origem deve ser portuguesa - açoriana, pois não ocorrem nas cidades de influência italiana ou germânica.

A "carreta" tem sempre quatro rodas e é semelhante ao "carretão" que vemos na gravura. Destina-se ao transporte de cargas regularmente pesadas. É o veículo intermediário, em tamanho e capacidade de peso. Conforme o peso da carga, e tendo em vista o maior ou menor aclive ou declive da estrada onde circula, é puxada por dois, três, cinco ou seis animais. A carreta pode ou não ter toldo. O uso dessa cobertura protetora depende da resistência das mercadorias às intempéries, pois no planalto meridional, as chuvas - que atingem altura média anual de 1400 milímetros - são regularmente distribuídas durante o ano.

O "carretão" ou "carroção", cujo desenho ilustra estas linhas, pouco difere do tipo anterior e, em suas linhas gerais, é uma carreta em ponto maior. Os animais que o puxam - comumente cavalos - variam no número e disposição, segundo o peso da carga, a topografia do terreno e nacionalidade do colono.
Os de origem polonesa e ucraniana usam de três a oito cavalos; os de origem alemã, do Rio Grande do Sul, de dois a dez, sendo que o cavalo da direita, imediato ao carro, vai montado. Os animais são atrelados aos pares ou em arranjos ímpares, à comprida e baixa lança solidária ao conjunto giratório roda-eixo dianteiro. Os animais exteriores da parelha mais próxima do carro, puxam-no cada um, por meio duma longa corrente que se vai prender, de cada lado, no extremo do eixo da roda traseira correspondente. Este sistema de tração garante maior rendimento do esforço feito pelos animais, principalmente para vencer aclives com cargas muito pesadas. As rodas diretrizes, as da frente, são menores que as traseiras.

Estes carros são cobertos por um toldo de lona impermeabilizada por uma pintura de piche e estendida sobre arcos desmontáveis e embutidos nos bordos laterais da caixa da carroça. Dos lados externos dos bordos é adaptada uma caixa comprida e rasa, onde o animal come a sua ração, nas frequentes paradas das longas viagens.

O toldo só é utilizado quando a mercadoria transportada exige abrigo. Sua parte da frente, que às vezes se prolonga, até o meio dos primeiros animais, chama-se "tapão" e serve também para proteger o material transportado contra as intempéries, bem como o condutor ou boleeiro.

Utilizada em viagens de longo percurso, que duram dias, semanas e meses, a carroça obriga aqueles, que com ela trabalham, a levar vida seminômade; torna-se, assim, verdadeira casa ambulante. Intimamente ligada, pela sua inestimável utilidade, a hábitos e costumes do homem do sertão, ocupa lugar de relevo no folclore sulino. Como o carro de boi, a carreta do Sul do Brasil foi, e ainda continua a ser, elemento de civilização e progresso.

Fonte : Carroças Coloniais do Sul / Lúcio de Castro Soares in Tipos e Aspectos do Brasil. - Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica / Instituto Brasileiro de Geografia / Fundação IBGE. - Rio de Janeiro, 1970


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