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“Nos
dias de festa, por ocasião da Missa do galo, vinha o carro de bois,
para a cidade, enfeitado de flores, coberto de esteiras de piripiri e
dentro os donos da terra - os senhores do engenho. Depois da festiva
“botada”, voltada pelo areião a fora, gemendo intencionalmente,
engalanado com as flores silvestres; pelo caminho ia devolvendo os
figurões importantes da cidade que participaram da festa lá na fazenda.
Depois da safra, descansavam os bois; o carro ficava solitário no
terreiro, sob a sombra de um oitizeiro, esperando que as três ou quatro
juntas de bois, viessem, pacíficas, levá-lo para trabalhar. Assim, o
carro cantava agradecido seu monótono “nhemnhem”, enquanto Rosilho,
Barroso, Morcego, Labareda, Sereno e Dengoso puxavam sob a voz de
comando do carreiro, êi... êi... ôa boi..., ou a voz atenorada do
menino guieiro - bamo boi, bamo... Assim era o passado...
Vejamos o presente: ainda é noite, com o luar, carreiro e guieiro colocam os bois no carro para a jornada do dia. O carro já está carregado de coco, 1.000 a 1.500 quilos, e saem logo cedo, para que a carga não se estrague e os bois não sofram sob a inclemência do sol causticante. Chegam na cidade, no “deposito”, ao raiar do dia. Quando o sol atravessa o zênite, regressam para a fazenda; cumpriram sua missão. O carro de boi é o único meio de transporte a cortar o município de canto a canto onde as canoas não podem penetrar. Diariamente pode-se ver na cidade, pouco antes da hora da sesta, uma dúzia ou mais de carros de boi. O trabalho é ininterrupto, Por isso mesmo, os bois de carro, precisam ser selecionados de acordo com certos característicos: pescoço grosso e curto para bom apoio da canga, pêlo fino e cauda fina. Alguns fazendeiros, ao constituir as juntas de bois, ou sua boiada de carro, fazem questão de tê-los de uma só cor. Os carros de bois, segundo os que não estão vivendo a realidade brasileira, estragam a cidade; antigos prefeitos, entretanto, previdentes e mais compreensivos, fincaram nas esquinas “frades de pedra” para que as rodeiras não destruíssem as calçadas. Assim é em Piaçabuçu, onde eles podem transitar sossegadamente sem causar danos. |
Ilustração (detalhe) de Rugendas: Família de
fazendeiros a caminho da igreja
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Ilustração de Jean Baptiste Debret: Transporte de carne de corte |
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O
número de juntas varia. Alguns carros são puxados por quatro juntas,
outras duas, e raramente cinco. Bois desta região nem sempre são
grandes como os de Mato Grosso, Goiás ou São Paulo, porém a maneira de
colocá-los sob o jugo é praticamente a mesma: cangas (de madeira de
sucupira), canzil (de madeira murta) preso um ao outro pela brocha de
couro cru e finalmente o tamoeiro. Para tangê-los, a vara de 10 ou 12
palmos de comprimento, tendo na aponta o ferrão com espiga e ponta.
Alguns carreiros usam relho de couro (com 12 ou mais palmos) preso na
vara. O guieiro ao tanger a boiada faz tilintar as argolinhas presas no
ferrão.
Nas juntas, um boi é amarrado ao outro pelas pontas dos chifres com um tento de couro; daí furarem-nos e prenderem as argolas.” |
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