Não
era o
simples sentimento humanitário e piedoso que movia esses missionários
em defesa do homem americano. Esses religiosos traziam para
as
Américas os propósitos da igreja católica reformada. Opunham-se
eles em parte às motivações essencialmente econômicas do mercantilismo
na medida em que revalorizavam a vida pobre e simples daqueles "que
andavam descalços e eram humildes e sóbrios iguais aos primeiros
apóstolos, como tábuas-rasas, seres brandos como a cera, com os quais
se poderia formar uma humanidade verdadeiramente cristã". Propunham
entre esses homens - descendentes de uma estirpe angélica, como os viam
alguns franciscanos - desde a realização da Utopia de Thomas Morus, até
à efetivação das teses defendidas por Bartolomeu de Las Casas de que
"As leis e regras naturais e do direito das gentes (são) comuns a todas
as nações, cristãos e gentios, e de qualquer seita, lei, estado, cor e
condição que sejam, sem uma nem nenhuma diferença." Essas aspirações
chocavam-se com as dos colonos que acusavam os missionários de quererem
fundar na América um Estado teocrático, no qual disporiam a seu modo
das populações, do Novo Mundo, restando ao rei de Espanha apenas a
soberania e determinadas rendas. "A Coroa espanhola, por
muito que
apoiara a obra evangélica, de modo algum desejava que nas Índias
surgissem estados missionários amplamente autônomos e procurava
equilibrar as forças contrapostas".
O
ideal dessas
comunidades cristãs veio a encontrar sua realização nas reduções
jesuíticas, sendo a primeira fundada, em 1576, às margens do lago
Titicaca. Essas reduções não surgiam à margem da
administração
colonial, nem com ela se chocavam, porém gozavam de uma grande
autonomia, sendo vedado aos colonos a penetração nas mesmas.
Economicamente se caracterizavam por um coletivismo agrário não
deixando de existir de todo a propriedade privada.
Desenvolviam os
missionários entre os indígenas a agricultura e o artesanato, cujo
produto obtido graças a esse trabalho comunal era utilizado no
pagamento do tributo real, na manutenção da igreja e de suas
instituições, no cuidado dos órfãos, viúvas e de todos aqueles
impossibilitados de trabalhar e, ainda, o excedente era empregado num
amplíssimo comércio. A terra restante - a maior parte do solo
era
terra comunal - era distribuída entre as famílias para seu próprio uso,
de onde deveriam tirar o seu sustento.
Por
volta de 1610 foram
fundadas pelos jesuítas espanhóis as primeiras reduções na Província de
Guayrá, a de Loreto e a de Santo Inácio, às margens do rio
Paranapanema, no atual Estado do Paraná. Não demorou que
outras
surgissem, e já, em 1628, treze delas agregavam mais de 100 mil índios.
Mais
sobre os Jesuítas ver : Os Jesuítas
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