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As
ordens religiosas na Amazônia representavam não apenas um poder
espiritual, mas sobretudo um poder econômico. Charles M. de La
Condamine, viajante francês que desceu o Solimões em 1743 numa
expedição científica, ficou admirado de ver a “modernidade” das missões
carmelitas portuguesas, sobretudo em São Paulo Apóstolo (hoje, de
Olivença), contrastando com a rusticidade das aldeias castelhanas.
Os
missionários estavam isentos dos dízimos e de várias taxas
alfandegárias que eram revertidos para a coroa portuguesa, além disso
tinham a sua disposição a abundante mão-de-obra indígena que trabalhava
a terra e no transporte fluvial. Assim conseguiam altos lucros,
praticando uma concorrência desleal em relação aos demais comerciantes
da colônia. Convém lembrar que os missionários eram donos do principal
açougue de carne de Belém, que controlavam a salga de peixe, a venda de
manteiga de tartaruga e inclusive da farinha de mandioca.
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Missão dos padres dominicanos,
na Amazônia espanhola, no século XVIII.
Esta gravura mostra a submissão dos
grupos indígenas ao poder da Igreja. |
Já
em 1751, o governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do
marquês de Pombal, alertava-o para essa situação, escrevendo: “como os
regulares (religiosos) se viram senhores absolutos desta gente [os
indígenas] e de suas povoações, como se foram fazendo senhores das
maiores e melhores fazendas deste Estado, vieram a absorver
naturalmente todo o comércio, assim dos sertões, como particular desta
cidade”*. Mais adiante continuava: “como neste Estado não é rico o que
tem muitas terras, senão aquele que tem maior quantidade de índios”,
sendo pois os religiosos “senhores dos índios e por conseqüência
senhores de tudo”, os colonos sentiam-se “pobres, miseráveis e
perseguidos das mesmas religiões [ordens religiosas]”
PREZIA, B. A disputa do poder in Suplemento do Porantin. nov./dez., 1990. v.5, p.2. *MENDONÇA, Furtado. In BEOZZO. Leis e regimentos das missões. São Paulo, Loyola, 1983. p.51.
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