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Os
indígenas Mura, verdadeiros ciganos aquáticos, cujas habitações no
inverno eram as canoas e, no verão, pequenas palhoças nas praias,
tinham seu habitat na região do baixo Purus. Percorriam o emaranhado de
canais que desemboca ao longo do rio Solimões e do Madeira. Foram eles
que mais se destacaram entre os grupos tribais, pelo fato de evitar
contato com a civilização branca e rechaçar qualquer tentativa de
invasão de seus territórios. A rejeição nascera de um profundo ódio
contra tudo que limitasse sua liberdade: resgates, descimentos,
aldeamentos e missões.:
Francisco X. Ribeiro Sampaio
colecionava documentos que levassem a opinião pública a um consenso: a
destruição total dos indígenas Mura. Argumentando que faziam
emboscadas, impedindo assim a comunicação, a colonização e o comércio,
chegou à conclusão de que se devia destruir esta nação, que “por sua
natureza conserva cruel e irreconciliável inimizade com todas as demais
nações (...), que professa por instinto de pirataria, grassando por
todos os lugares de público trânsito em que deve haver maior segurança
(...), que nas suas guerras e assaltos usa a mais bárbara tirania, não
perdoando mesmo aos mortos, em que cometem inenarráveis crueldades,
esfolando e rompendo cadáveres (...)”.
| Mura
"Viagem pelo Brasil 1817-1820" Spix e Martius
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Desde
aquela época, os indígenas Mura adotaram um novo sistema de combate,
atacando por guerrilhas (...). Embora fossem massacrados, não desistiam
da luta.
Um autor anônimo conta que no sítio de Guatazes uma
divisão desta tropa [portuguesa] surpreendera uma maloca às 6 horas da
tarde, “fazendo-lhe uma linha de cerco por água e terra. Os homens,
rompendo a linha, fugiram. As mulheres com suas crianças e todos os
rapazes e meninas lançaram-se à água querendo ganhar uma ilha fronteira
em tempo, onde estavam as canoas (...) morrendo todos afogados, em
número de trezentos ou mais”.
H. J. Wilkens, o autor do poema
“Muhraida – Conversão e Reconciliação do Gentio Muhra”, escrito na vila
de Ega em 1789, logo após a “rendição incondicional”, exaltou
euforicamente o genocídio dos índios Mura.
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